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Bolsonaristas veem Daniel Silveira fortalecido; PTB quer lançá-lo ao Senado

Daniel Silveira com Bolsonaro na camiseta - Reprodução/Instagram
Daniel Silveira com Bolsonaro na camiseta Imagem: Reprodução/Instagram

Igor Mello

Do UOL, no Rio

28/04/2022 04h00

Bolsonaristas avaliam que o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) —pivô da última crise institucional entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o STF (Supremo Tribunal Federal)— saiu fortalecido politicamente após ser condenado por ameaças feitas a ministros da Corte.

Agora, políticos e ativistas de extrema direita tentam viabilizar a pré-candidatura de Silveira ao Senado pelo Rio de Janeiro. Mas, para isso acontecer, a decisão do Supremo que o torna inelegível teria de ser suspensa, e o PTB teria que lançá-lo contra a diretriz de Bolsonaro, que apoia a reeleição de Romário (PL-RJ).

Silveira foi condenado a oito anos e nove meses de prisão —com cumprimento inicial em regime fechado— por incitação à tentativa de impedir o livre exercício dos Poderes e por coação no curso do processo. O STF também determinou a perda do mandato do ex-PM e a suspensão de seus direitos políticos por oito anos. A análise do caso cabe à Justiça Eleitoral a partir de agosto.

No dia seguinte, Bolsonaro usou o instituto da graça presidencial —uma espécie de indulto direcionado a um único cidadão— para perdoar o aliado.

Diante do impasse jurídico em torno da questão, o deputado e seus aliados se movimentam para capitalizar a exposição que ele teve nas últimas semanas.

Principal aliado político do ex-PM, o deputado estadual Rodrigo Amorim (PTB-RJ) avalia que o amigo tem apoio na base bolsonarista para voos mais altos, caso consiga concorrer na próxima eleição.

"Falei com ele no dia da condenação. Ele já esperava uma decisão dura, mas mostrou muita alegria ao receber rapidamente o indulto do presidente Bolsonaro", contou Amorim. "Daniel se tornou o maior representante do nosso campo político."

Uma das aliadas mais próximas da família Bolsonaro no Rio, a deputada estadual Alana Passos (PTB-RJ) evita defender abertamente a candidatura de Silveira ao Senado, já que Flávio Bolsonaro (PL-RJ) vem trabalhando ativamente pela reeleição de Romário. No entanto, ela avalia que a projeção do ex-PM pode credenciá-lo a uma candidatura competitiva.

"Adoro o Daniel e acho que foi muito desgastante tudo que ele passou. Ele teve uma projeção nacional, visibilidade não faltou. Acho que o apoio [da família Bolsonaro] ao Romário fica no nível partidário. Mas quem escolhe [o vitorioso] é a população", opinou.

Segundo estudo da consultoria Bites, Silveira teve o dobro das menções nas redes sociais que a média de Jair Bolsonaro no dia seguinte à condenação pelo STF.

Pré-candidatura ao Senado é 'irreversível', diz PTB do RJ

Amorim diz acreditar que o PTB garanta legenda para que Silveira dispute uma vaga ao Senado.

"O projeto dele é disputar o Senado. A gente vê respaldo do partido para dar a legenda a ele. Percebo uma profunda identidade ideológica dos apoiadores do presidente com o Daniel, acho que a migração para a candidatura dele é natural", avaliou o deputado estadual.

O PTB vive um momento tumultuado: com o ex-deputado federal Roberto Jefferson preso, o comando vem sendo disputado por várias alas internas. O deputado estadual Marcus Vinícius (PTB-RJ), ex-genro de Jefferson, chegou a assumir o comando nacional do PTB em fevereiro, mas foi destituído do cargo por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Marcus Vinícius continua à frente do PTB no Rio de Janeiro. Pré-candidato a deputado federal em outubro, ele diz que a pré-candidatura de Silveira ao Senado é "irreversível".

"Desde o princípio, quando Daniel se filiou ao PTB, nossa ideia era a candidatura ao Senado e nós vamos lutar para isso até o último segundo. Entendo que só quem pode desistir é o próprio Daniel. Nós pensamos que ele saiu fortalecido, então não vejo porque ele não seria candidato ao Senado e lançaria a esposa a federal", diz o presidente regional do PTB.

A possibilidade de que a mulher do ex-PM, Paola Daniel, seja candidata a deputada federal surgiu diante do risco de que ele fique inelegível e ganha força dentro da militância bolsonarista.

Para isso, ela vem se aproximando de movimentos de direita no estado e se dedicando à defesa do marido nas redes sociais. No Twitter, ela já soma mais de 100 mil seguidores, além de quase 64 mil no Instagram —onde é seguida pela primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Apesar do alinhamento de Roberto Jefferson e do PTB a Bolsonaro, Marcus Vinícius ironiza a decisão do clã presidencial de apoiar a reeleição de Romário.

"Eu entendo que a única candidatura alinhada ao bolsonarismo, de direita, é a do Daniel. O Romário é uma candidatura do PL, mas o PL não representa a direita e Bolsonaro foi para o PL em uma conjuntura eleitoral", disse ele. "A atitude do presidente Bolsonaro [ao conceder a graça a Silveira] demonstrou quem ele realmente apoia ao Senado no Rio."

Apesar da possível rusga com o PL, Marcus Vinícius diz que seu partido apoiará a reeleição de Bolsonaro e a do governador Cláudio Castro (PL) no Rio. "Para o governo, o acordo do presidente Roberto [Jefferson] lá atrás era apoiar os governadores do presidente Bolsonaro. Então temos esse alinhamento."

Apoio na Câmara

Após a condenação, Silveira vem recebendo gestos de apoio de seus pares na Câmara dos Deputados —que o suspenderam do mandato por seis meses no ano passado.

Ontem ele foi eleito vice-presidente da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Casa, que discute projetos relacionados à criminalidade e às forças policiais. Ele também foi indicado como membro titular da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), a mais importante da Câmara.

Anteontem, Silveira voltou ao plenário da Câmara. Tietado por colegas, com quem tirou fotos, ele afirmou estar sem a tornozeleira eletrônica que usava por ordem do ministro Alexandre de Moraes.