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Após desmatamento recorde, Bolsonaro apela a Musk para divulgar Amazônia

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

20/05/2022 11h28Atualizada em 20/05/2022 14h01

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou hoje (20) "contar" com o bilionário sul-africano Elon Musk para que a "a Amazônia seja conhecida por todos" e, de acordo com o governante, combater supostas informações inverídicas sobre a região. Apesar de Bolsonaro negar o avanço do desmatamento na região, dados do sistema Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), mostram que, em abril, a área desmatada chegou a 1.012 km² — um recorde para o mês.

A área é quase o dobro do maior número registrado até então, no ano passado (580 km²).

De acordo com o Observatório do Clima, rede de organizações que monitoram temas ambientais, essa é a primeira vez a marca de 1.000 km² é ultrapassada em abril — último mês da época de chuvas na Amazônia, quando o desmatamento é historicamente inferior.

Desmatamento na Amazônia em abril, segundo dados do Deter:

2016: 439,32 km²
2017: 126,85 km²
2018: 489,52 km²
2019: 247,39 km²
2020: 407,2 km²
2021: 579,98 km²
2022: 1.012,5 km²

Ao lado do empresário, Bolsonaro disse que críticos "difundiriam mentiras" em todo o mundo a respeito do panorama socioambiental na Amazônia. Ele, porém, não informou que mentiras seriam essas.

"Nós pretendemos, precisamos e contamos com Elon Musk para que a Amazônia seja conhecida por todos no Brasil e no mundo, a exuberância dessa região e como ela é preservada", declarou Bolsonaro a Musk durante evento realizado em um hotel em Porto Feliz, no interior de São Paulo.

Bolsonaro também disse que o bilionário poderia "estar preocupado consigo próprio", mas que decidiu, em ato de altruísmo, viajar o mundo em defesa do que o governante brasileiro entende ser a "liberdade".

'Sopro de esperança'

Assim Bolsonaro definiu a iniciativa de Musk, que está em viagem pelo país, de tornar-se acionista majoritário do Twitter, rede social fundamental na estratégia política do governante brasileiro.

De acordo com o chefe do Executivo federal, a negociação envolvendo o fundador da Tesla e dono da SpaceX representaria um ideal de defesa da liberdade de expressão.

"O exemplo que ele nos deu há poucos dias, quando se anunciou a compra do Twitter, para nós aqui foi como um sopro de esperança. O mundo todo passa por pessoas que tem vontade de roubar essa liberdade de nós."

O mais importante da presença dele é algo que é imaterial. Hoje em dia poderíamos chamá-lo de mito da liberdade. É aquilo que nos fará falta para qualquer coisa que porventura possamos pensar para o futuro
Jair Bolsonaro

'Superanimado por estar no Brasil'

Musk pousou no Brasil por volta das 9h, no aeroporto São Paulo Catarina Internacional, na região de São Roque (SP). Antes do desembarque, o empresário afirmou, em postagem nas redes, que estava "superanimado por estar no Brasil" e confirmou o objetivo principal da viagem.

"Superanimado por estar no Brasil para o lançamento do Starlink para 19 mil escolas desconectadas em áreas rurais e monitoramento ambiental da Amazônia", escreveu ele no Twitter.

Monitoramento

Além disso, segundo o bilionário e o Ministério das Comunicações, os satélites da rede Starlink serão usados para ajudar no monitoramento de "desmatamentos e incêndios ilegais".

Tal tarefa já é executada pelo Inpe, cujas verbas vêm encolhendo na gestão Bolsonaro (em 2022, o orçamento do órgão é de R$ 87 milhões, queda de 32% em relação ao total recebido em 2020, que foi de R$ 135,8 milhões).

Ainda não há detalhes divulgados sobre como esse monitoramento vai funcionar nem mesmo os valores investidos —a Starlink vende serviços majoritariamente para clientes convencionais, não para governos.

O que foi anunciado até o momento é que o foco será em oferecer internet na região norte do Brasil, auxiliando e expandindo a conexão no Amazonas.

Compra do Twitter agrada bolsonaristas

Musk, atualmente, trava uma briga para comprar o Twitter. O bilionário sul-africano caiu no gosto dos bolsonaristas por ter indicado que gostaria de mudar as políticas da plataforma. Os apoiadores do presidente criticam a rede social pelos limites impostos a compartilhamento de desinformação.

Quando o Twitter fixou acordo com Musk, Bolsonaro disse que a compra "mudou o humor do Brasil", já que o sul-africano falou ter como prioridade "aumentar os limites da liberdade de expressão".

O empresário ofereceu US$ 44 bilhões (R$ 214 bilhões, na cotação atual) para adquirir a rede social e o conselho administrativo da plataforma afirmou que "está comprometido em concluir a transação no preço e nos termos acordados o mais rápido possível".