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Cardozo: Prisão de Milton mostra que Bolsonaro não conseguiu controlar PF

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/06/2022 15h48

O ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo comentou hoje alguns pontos da prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro em relação ao governo Bolsonaro. Para ele, a prisão preventiva feita pela Polícia Federal mostra que o presidente Jair Bolsonaro (PL), não conseguiu controlar a PF.

"Bolsonaro é duramente atingido (com a prisão) e mostra que embora pretendendo controlar o aparato policial do Estado, tentando controlar a Polícia Federal, tentando controlar o Ministério Público, tentando controlar o Judiciário, não consegue. Ou seja, não controla a PF e os órgãos de perseguição penal no Brasil e isso é uma demonstração que ele não consegue fazer aquilo que gostaria, que é ter o Estado inteiramente controlado por ele", disse durante participação no UOL News.

Apesar da demonstração de independência da Polícia Federal, Cardozo também foi questionado sobre as constantes trocas no comando da corporação feitas pelo presidente. Para ele, isso demonstra uma intenção e tentativa do governo Bolsonaro, mas que não foi executada com sucesso.

"Um governo republicano não controla investigações, ele cumpre a legalidade e não pode permitir abusos. Jair Bolsonaro passou longe da visão de republicanismo ao longo de sua vida, então tenta controlar e, infelizmente, nas instituições humanas as pessoas às vezes abrem mão de sua identidade e são cooptadas, e isso existe até na PF e alguns são cooptados sim, mas acredito que o grosso da PF construiu um espírito de autonomia investigativa", explicou.

"A grande massa da corporação fez da PF uma polícia respeitada e invejável, que comete abusos, mas corruptível pelo poder público não pode ser, e esse exemplo mostra que Bolsonaro não conseguiu cumprir seu intento e colocar as estruturas de estado sobre sua regência", continuou.

Durante a participação no UOL News, Cardozo ainda destacou que a prisão de Milton Ribeiro atinge o presidente Bolsonaro em uma de suas maiores bandeiras: o combate à corrupção.

"Embora existissem indícios e indicadores (de corrupção), não havia nada que fosse visível e com o impacto que essa prisão tem hoje. Na declaração do ex-ministro da Educação que foi exposta ele se referia ao presidente e no seu depoimento disse que seguia ordens do presidente. É o governo que dizia que não tinha corrupção mas tem um ministro preso antes mesmo do término do mandato. Ou seja, é uma situação que atinge frontalmente o discurso ético do bolsonarismo".