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Bolsonaro ataca Lula e STF em discurso alarmista e eleitoreiro a banqueiros

Do UOL, em Brasília

08/08/2022 14h26Atualizada em 08/08/2022 15h54

O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse hoje (8), em discurso a banqueiros, que não vai assinar "cartinha pela democracia", e fez ataques ao principal adversário na eleição de outubro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O candidato à reeleição também recusou acusações de que teria tido posicionamentos autoritários desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2019, e redirecionou a crítica ao comando do Judiciário brasileiro, em especial ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Ele relembrou o episódio da condenação do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) —e que ficou livre depois de ser agraciado com perdão presidencial.

Em tom alarmista e eleitoreiro, Bolsonaro fez menção ao "Foro de São Paulo" (termo conspiratório adotado pela militância de direita e de extrema direita) e afirmou considerar que a esquerda é responsável pelo fracasso econômico de países vizinhos. Disse ainda que, se Lula voltar ao poder, o Brasil pode se juntar a um "trenzinho" encabeçado por Cuba e Venezuela.

Em pouco tempo, estaremos em um trenzinho: Cuba, Venezuela, Argentina, Chile e Colômbia
Jair Bolsonaro (PL)

O chefe do Executivo participou hoje de um almoço na Febraban (Federação Brasileira de Bancos), em São Paulo, junto aos ministros Paulo Guedes (Economia) e Ciro Nogueira (Casa Civil). A agenda surgiu que a entidade que reúne os grandes bancos e instituições financeiras do país decidiu aderir a documento "em defesa dos valores democráticos" organizado pela Fiesp (Federação da Indústria do Estado de São Paulo).

"Todos do 'Foro de São Paulo' têm que ser convidados para assinar a Carta pela Democracia agora... Vamos tirar o Bolsonaro dali. É melhor um democrata na corrupção do que um honesto em um regime forte. Qual é o regime forte meu? Me aponte uma palavra minha contra a democracia? Eu mandei prender algum deputado?".

"Quando condenaram a nove anos de cadeia um deputado, eu falei, não, vai sair para fora, vai sair amanhã... E saiu. É ser machão? Não. É não trair a minha consciência. Não faltou gente do meu lado... Ah, você vai brigar com outro Poder. Eu não quero brigar com o Poder, eu não posso brigar com a minha consciência."

Durante o discurso, Bolsonaro fez do encontro uma espécie de palanque eleitoral, exibiu cartazes com reproduções do noticiário e lançou diversos ataques contra Lula e contra a esquerda na América Latina.

O candidato à reeleição comentou a adesão do rival petista ao documento que tem sido chamado de "Carta pela Democracia".

"Tanto é que, segundo a imprensa, acabou de assinar a carta pró-democracia. Fotografia linda, do lado da jovem esposa", ironizou o mandatário do Palácio do Planalto. Na sequência, ele citou declarações do adversário favoráveis à ditadura de Daniel Ortega na Nicarágua e relembrou o apoio aos governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro na Venezuela.

Bolsonaro encerrou o discurso no evento com um pedido: para que os banqueiros "julguem" o governo de acordo com as suas "ações". "Assinar cartinha? Não vou assinar cartinha", emendou.

O presidente questionou aos banqueiros se "eles recontratariam um empregado que foi preso no passado" —em referência à candidatura de Lula, que chegou a cumprir pena em razão de condenações na Lava Jato, porém o processo foi considerado irregular em análise posterior do STF.

De acordo com as pesquisas de opinião realizadas até o momento, o petista é tido como favorito na disputa e tem chances de vencer já no primeiro turno.

O que é fake news? Tem algum advogado aqui? Tem! Não está tipificado. Como que alguém pode ser julgado por fake news? Que país é esse? Onde está a ditadura? No Executivo ou em alguns poucos outros Poderes... Estão com saudade do quê, alguns no Brasil? Da festa de antigamente, onde se valia tudo?
Jair Bolsonaro

Durante a agenda na Febraban, o candidato à reeleição também pediu que os bancos ofereçam crédito consignado para beneficiários do Auxílio Brasil, programa assistencial criado pelo governo para transferir renda às camadas desfavorecidas —e aprovado em ano eleitoral.

"Agora, faço um apelo para vocês: vai entrar o pessoal do BPC [Benefício Prestação Continuada] no empréstimo consignado. Isso é garantia, desconto em folha. Se puderem reduzir o máximo possível... Porque ainda estamos atravessando, estamos no final da turbulência para que todos nós possamos cada vez mostrar que o Brasil não é mais um país do futuro, é do presente. Os números estão aí, números fantásticos. Feitos por quem? Pelo nosso governo e por vocês também."

A possibilidade de concessão de empréstimos consignados a famílias inscritas no programa social do governo foi criada por uma medida provisória aprovada pelo Congresso e sancionada na semana passada. A lei autoriza que os valores referentes ao crédito solicitado sejam descontados dos repasses mensais do benefício.

'Carta ao Brasil'

Na ofensiva contra Luiz Inácio Lula da Silva, Bolsonaro também relembrou a carta que o então postulante à Presidência da República em 2002 divulgou durante campanha eleitoral à época. O documento tinha o objetivo de atenuar a resistência que setores da sociedade mais conservadores ofereciam à possibilidade de triunfo de um candidato da esquerda.

"Eu lembro da 'Carta ao Brasil', aquela primeira do Lula... Todo mundo acreditou, né, agora ele vai... Parece até que todo mundo é jovem, né. Quando é jovem e quer conquistar a namorada, o que vem na cabeça ele fala, ela acredita... Aqui é a mesma coisa. Essa cartinha lá atrás abriu as portas, botou o vice empresário, como agora ele tem um", disse, em referência ao ex-tucano Geraldo Alckmin (PSB).

Em 2014 e 2015, perdemos 3 milhões de empregos. Qual foi a crise? Alguém lembra? Crise da corrupção. Alguns querem voltar isso
Jair Bolsonaro