Topo

Cargos secretos: Delegado assume a presidência da Fundação Ceperj

Fachada da sede da Fundação Ceperj, em Botafogo, zona sul do Rio - Reprodução/ Google Street View
Fachada da sede da Fundação Ceperj, em Botafogo, zona sul do Rio Imagem: Reprodução/ Google Street View

Do UOL, no Rio

09/08/2022 12h59

O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), nomeou na noite desta segunda (8), em edição extra do Diário Oficial, como o novo presidente da Fundação Ceperj (Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro), o delegado da Polícia Civil Marcelo Cardoso Domingues. O órgão está no centro do escândalo dos cargos secretos.

Domingues trabalhava desde julho do ano passado na Secretaria Estadual de Governo, na coordenação de Assuntos Estratégicos dos programas Lei Seca, Segurança Presente e RJ para Todos. O delegado foi nomeado no cargo na gestão do atual deputado estadual e líder do governo na Alerj, Rodrigo Bacellar (PL), titular da pasta à época.

A Ceperj estava sem presidente desde a semana passada. Gabriel Lopes, que ocupava o cargo, foi exonerado em meio à crise dos cargos secretos, que começou após reportagens do UOL.

Apesar de Domingues ter sido nomeado anteriormente por Bacellar, a assessoria de imprensa do governo estadual negou que a indicação de agora para a presidência do Ceperj tenha sido do deputado. O parlamentar é apontado como um dos principais articuladores dos projetos com cargos secretos, cujos pagamentos e novas contratações sem transparência foram interrompidos pela Justiça.

O RJ para Todos, um dos três projetos que estavam sob o guarda-chuva do delegado, é uma parceria entre a Secretaria de Governo e a Ceperj, em que os funcionários eram remunerados por meio dos cargos secretos. Somente este ano, R$ 22 milhões foram pagos.

Marcelo Domingues também foi assessor especial da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, entre dezembro de 2020 e março de 2021, e subcorregedor do Detran, em 2019.

Segundo a assessoria de imprensa do governo estadual, o delegado "tem 27 anos de serviço público, foi oficial da Polícia Militar, chegando à patente de major, onde ocupou cargos na Corregedoria da PM, foi professor de Ética Profissional e Legislação Militar na Academia de Polícia Miliar, entre outras funções na corporação".

"Além de ser delegado, Marcelo Domingues é graduado em Ciências Contábeis pela UFRJ e Direito pela Faculdade Ibmec", completou.

O que o UOL já revelou

Em reportagem exclusiva, o UOL mostrou em junho que o governo do Rio mantém ao menos 18 mil vagas de trabalho na Ceperj sem nenhuma transparência.

Levantamento feito com dados da Secretaria Estadual de Fazenda mostrou que Cláudio Castro aumentou em 25 vezes o orçamento da fundação desde que assumiu o cargo. Somente neste ano, o incremento chegou a R$ 300 milhões até junho.

Uma planilha elaborada pela Secretaria de Trabalho implica diretamente Castro no escândalo. O documento recebeu o nome de "governador" e tratava do orçamento para 9.000 cargos secretos. Procurada, a Secretaria de Trabalho afirmou que iria apurar se houve "um erro na confecção da planilha".

Após a revelação do UOL, o governo chegou a colocar o documento sob sigilo, mas voltou atrás.

Reportagem exclusiva também mostrou que polos do programa Casa do Trabalhador, o maior dentre os que têm folhas de pagamento secretas, estão sendo controlados por pré-candidatos do Podemos, partido presidido pelo secretário de Trabalho e Renda, Patrique Welber. A pasta afirmou que "as unidades do projeto são equipamentos públicos e não têm finalidade político-partidária".

A Ceperj usou um código genérico para esconder os beneficiados em R$ 284 milhões pagos aos cargos secretos.

Uma planilha do Banco Bradesco enviada ao MP-RJ revelou que R$ 226,4 milhões em dinheiro vivo foram sacados somente este ano por funcionários da Ceperj. O volume sacado em espécie nas agências onde os funcionários recebem seus pagamentos representa 91% de tudo o que a fundação pagou a eles em 2022 (R$ 248,9 milhões).