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Fotos e cumprimentos: o apoio da PM aos ataques terroristas em Brasília

Leonardo Martins, Luís Adorno e Natália Mota

Do UOL, em Brasília e São Paulo

09/01/2023 19h26

Dezenas de vídeos que circulam nas redes sociais mostram que policiais militares do Distrito Federal se omitiram nas ações contra os criminosos que atacaram a democracia no domingo (8). Imagens compiladas pela reportagem do UOL revelam que os policiais chegaram até a orientar direções aos terroristas dentro das sedes dos três poderes.

Na avenida que beira o Congresso Nacional, um homem, ao ser indagado sobre o papel da PM no ato, afirmou que "a polícia tá é ajudando". Ele disse ter saído do QG do Exército, distante quase 10 km da Praça dos Três Poderes, a pé. Durante todo o percurso, afirmou que ele e seus companheiros foram escoltados pelos policiais.

Na parte de fora do Congresso, ambulantes se sentiram à vontade para vender algodão doce, geladinho, água, cerveja, refrigerante e bandeiras do Brasil em cima do próprio prédio onde os golpistas invadiram. Outras pessoas levaram crianças e idosos e até se sentavam em cadeiras de praia para confortavelmente assistir à invasão. A impressão era de um evento previamente organizado.

A porta principal do Congresso foi destruída por pedradas e pauladas. Os oficiais da polícia legislativa tentavam, dentro do prédio, frear o avanço dos terroristas para outras áreas do local. Pessoas saíam carregadas com os olhos lacrimejando e nariz escorrendo pelo efeito do gás de pimenta, enquanto outros chamavam quem estivesse na parte de fora para substituir os feridos. A reportagem não viu policiais militares no local.

Já no Palácio do Planalto, PMs se protegiam na parte de fora, com escudos, contra outros terroristas, enquanto em suas costas, dentro do Palácio do Planalto, dezenas de golpistas destruíam a parte interna do local. Algumas bombas de efeito moral foram disparadas, mas não havia presença massiva de policiais.

O batalhão de Choque da PM foi acionado às 16h30 e demorou ao menos 1h30 para começar a atuar no local. A ofensiva contra os terroristas teve início, de fato, neste momento. Gás e bombas foram disparadas e, aos poucos, o público que tomava o gramado do Congresso foi removido.

Críticas e consequências

A atuação da PM desencadeou uma série de críticas à instituição. Para o presidente do Conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Cássio Thyone, os policiais agiram como "turistas", o que classificou como "triste, porque o policial que está ali, independente do número, tem uma missão: proteger o patrimônio da capital federal", afirmou. Ainda segundo ele, as imagens levam a interpretação de que houve cooperação de policiais com manifestantes.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, na noite do domingo, que "houve incompetência, má vontade ou má-fé" por parte da corporação. Lula determinou intervenção federal na segurança pública do DF até o dia 31 de janeiro.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou que o Governo do Distrito Federal alterou as orientações combinadas com o Governo Federal sobre o planejamento de segurança na Esplanada dos Ministérios de última hora.

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, foi afastado do cargo por 90 dias, em decisão do ministro do Supremo Alexandre de Moraes. Em nota, ele disse que respeita a determinação e irá aguardar "com serenidade" a decisão sobre a responsabilidade dos atos terroristas.

Investigação

O MPF (Ministério Público Federal) pretende apurar uma possível omissão do alto-comando da PM. Para o coordenador de controle externo da atividade policial, o procurador Peterson de Paula Pereira, houve "completa inação" para impedir o avanço dos golpistas à Praça dos Três Poderes.

O MP (Ministério Público) do DF também requisitou informações à PM. Entre as informações solicitadas estão o quantitativo de policiais empregados na operação, as estratégias adotadas e qual o momento da constatação da adoção dos atos extremistas, além das medidas preventivas para coibi-las.

O UOL tentou contato com a PMDF e não teve retorno.