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Lula ataca autonomia do BC, diz que Bolsonaro trama golpe e não descarta 26

Do UOL, em São Paulo

02/02/2023 23h48Atualizada em 03/02/2023 05h24

Em uma mudança de discurso em relação à campanha eleitoral, o presidente Lula falou nesta quinta-feira (2) sobre a possibilidade de se candidatar à reeleição. Também criticou o empresário Jorge Paulo Lemann ao comentar o rombo nas contas das Americanas.

O petista conversou durante cerca de uma hora com o jornalista e colunista do UOL Kennedy Alencar, no programa "É Notícia", da RedeTV! —foi a primeira entrevista à TV aberta desde que ele assumiu o cargo.

Outros pontos da entrevista:

O que Lula falou

Se chegar no momento, sabe, e estiver uma situação delicada e eu estiver com saúde...porque também só posso ser candidato se eu estiver com saúde perfeita, sabe? Mas saúde perfeita com oitenta e pouco, 81 [anos] de idade, energia de 40 e tesão de 30. Pronto, aí eu posso [ser candidato]."
Sobre lançar candidatura à reeleição em 2026

Aqui no Brasil a gente derrotou o Bolsonaro, mas ainda é possível derrotar o bolsonarismo, que é aquele fanático, que acredita em tudo, aquele que ofende as pessoas, aquele que xinga as pessoas."
Lula ao falar de fake news

O Congresso Nacional precisa menos do governo do que o governo do Congresso Nacional. Então, quem tem que ter disposição, vontade de conversar é o governo e isso eu gosto de fazer. Portanto, acho que o Pacheco vai ajudar e o Lira vai ajudar."
Sobre as votações para presidências da Câmara e do Senado

Aí não é nem pedalada, é motociata."
Sobre o rombo de R$ 40 bilhões das Americanas

Acho que não é necessário ninguém sair derrotado [da guerra]. O que é necessário é que a humanidade ganhe, e a humanidade vai ganhar quando tiver paz. A Ucrânia voltar à normalidade, a Rússia voltar à normalidade."
Sobre a guerra da Rússia na Ucrânia

Tentativa de golpe, relações internacionais, economia

Mais críticas a Bolsonaro. Lula voltou a subir o tom contra seu antecessor e acusou o ex-presidente de genocídio quando falou sobre as mortes provocadas pela covid-19 e dos indígenas yanomamis.

Também afirmou que Bolsonaro "preparou um golpe" e que apoiadores do ex-presidente "queriam fazer aquela bagunça" em 1º de janeiro, mas desistiram porque "tinha muita polícia e muita gente na rua".

Esse cidadão preparou um golpe. Hoje eu tenho consciência, vou dizer aqui em alto e bom som, esse cidadão preparou um golpe."
Sobre os atos golpistas de 8 de janeiro

Bolsonaro, segundo Lula, deve ser punido pelas atitudes tomadas durante o governo. O petista relembrou ofensas feitas pelo seu antecessor contra o STF e figuras importantes no mundo todo, como o papa Francisco.

Lemann e 'motociata' das Americanas. Lula criticou o empresário bilionário Jorge Paulo Lemann ao comentar o rombo de R$ 40 bilhões nos cofres das Americanas. Para ele, o caso "não é nem pedalada, é motociata".

Ele [Lemann] era o cara que financiava jovens para estudar em Harvard, para formar um novo governo. Era o cara que falava contra a corrupção todo dia e, depois, ele comete uma fraude que pode chegar a 40 bilhões de reais? E agora, me parece que está chegando na Ambev também."

Ao falar de jovens que estudam em Harvard, o presidente faz referência à fundações de Lemann que oferecem bolsas de estudos no exterior. Algumas delas, após a formação, participaram de organizações voltadas para "renovação política" e se candidataram para cargos políticos. A deputada Tabata Amaral (PSB-SP) é uma delas —ela apoiou Lula durante a campanha no ano passado.

Autonomia do Banco Central. Ao comentar a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) de manter pela quinta vez consecutiva a taxa básica de juros em 13,75%, Lula definiu a autonomia da entidade como "bobagem".

Fui presidente oito anos da República e o [Henrique] Meirelles teve toda autonomia para fazer política monetária que ele quis fazer. O que acontece é que a gente conversava e o Brasil deu certo. Este país está dando certo? Esse país está crescendo? O povo está melhorando de vida? Não. Então, eu quero saber de que serviu a independência."

"O Brasil quer construir parceria com todo mundo." Lula defendeu a ajuda a outros países, como a Argentina —anunciada na semana passada—, e disse que essa relação também faz com que o Brasil se desenvolva.

Nós somos ajudados por muita gente para construir ferrovia, para construir hidrelétrica, e assim o Brasil cresceu. Então, nós temos que ajudar países na América do Sul, países na África."

Também falou sobre o fortalecimento da relação dos países da América do Sul e da Europa —apesar de afirmar que "a coisa está muito delicada, porque a União Europeia, mesmo sem querer, está dentro da guerra".

Estou fazendo uma proposta de se criar uma espécie de G20, pode ser G10, G5, quantas pessoas precisarem, mas eu estou pensando na China, na Índia, na Indonésia. Estou pensando no Brasil, no México, na Argentina. Ou seja, um grupo de países que não tem nada a ver com guerra, que não vendeu armas, que não deu dinheiro."

Na semana passada, Lula fez sua primeira viagem internacional como presidente —visitou a Argentina e o Uruguai. No segundo país, classificou como "justa" a movimentação do país em negociar um tratado bilateral com a China, mas defendeu o fortalecimento do Mercosul.