Cid movimentou R$ 3,2 mi em 6 meses: Incompatível com patrimônio, diz Coaf
Do UOL, em Brasília
27/07/2023 15h54Atualizada em 28/07/2023 00h01
O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão do governo responsável por combater lavagem de dinheiro e corrupção, apontou movimentações financeiras "atípicas" e "incompatíveis com o patrimônio" nas contas bancárias do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O que aconteceu
O relatório do Coaf afirma que o militar movimentou em suas contas bancárias R$ 3,2 milhões de 26 de julho de 2022 a 25 de janeiro de 2023. No resumo das transações financeiras, estão R$ 1,8 milhão em créditos e R$ 1,4 milhão em débitos.
Trata-se, de acordo com o órgão, de uma "movimentação de recursos incompatível com o patrimônio, atividade econômica ou a ocupação profissional e capacidade financeira do cliente".
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Os dados foram enviados à CPMI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro. As informações foram reveladas pelo jornal O Globo e confirmadas pelo UOL, que também teve acesso ao documento.
O órgão justificou como "movimentação elevada" o envio de remessas nos valores de R$ 367.374 para os Estados Unidos em 12 de janeiro deste ano — mesmo período em que Bolsonaro estava no país. Os dois decidiram sair do Brasil antes da posse de Lula (PT) na Presidência.
Para o Coaf, a movimentação "poderia indicar tentativa de burla fiscal e/ou ocultação de patrimônio" e "ter indícios de lavagem de dinheiro". Cid está preso desde 3 de maio, sob a suspeita de fraudar cartões de vacina para o ex-presidente e familiares. Ele também é investigado sobre o conteúdo de teor golpista encontrado no celular dele.
Apesar da prisão, o Exército decidiu manter o salário bruto de R$ 26,2 mil que, após descontos, fica R$ 17,1 mil.
O órgão também chamou atenção para as transações entre Cid e o sargento Luis Marcos dos Reis, que trabalhava com o tenente-coronel como supervisor na área de Ajudância de Ordens da Presidência. No documento, o Coaf afirmou que Reis trabalhou diretamente com Bolsonaro desde o início do mandato até agosto de 2022, quando foi transferido para o Ministério do Turismo.
"Considerando a movimentação atípica, sem clara justificativa e as citações desabonadoras em mídia, tanto do analisado quanto do principal beneficiário, comunicamos pela possibilidade de constituir-se em indícios do crime de lavagem de dinheiro, ou com ele relacionar-se", diz o Coaf.
A defesa de Cid negou haver ilegalidade nas transações financeiras. Ele disse que não explicaria as operações porque "todas as manifestações defensivas são apenas realizadas nos autos do processo".
Todas as movimentações financeiras do tenente-coronel Mauro Cid, inclusive aquelas referentes a transferências internacionais, são lícitas e já foram esclarecidas para a Polícia Federal"
Bernardo Fenelon, advogado que integra a defesa de Mauro Cid