Lula copia estratégia de Bolsonaro com lives, mas sofre com alcance menor
O presidente Lula (PT) adaptou o formato de lives, estimulado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas ainda corre atrás do capitão reformado no alcance dos conteúdos oficiais do governo.
O que aconteceu
A principal aposta de conteúdo ao vivo da comunicação de Lula é o "Conversa com Presidente", que começou em junho. É inspirado nas lives que Bolsonaro fazia, mas em dias e horários diferentes.
Dados levantados pelo Núcleo de Tecnologia do Departamento de Comunicação da PUC-Rio (NuTec/PUC-Rio), a pedido do UOL, apontam que Lula perde para Bolsonaro em interações e visualizações dos vídeos.
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A comparação é feita com um período parecido de cada mandato: entre abril e julho de 2019 para Bolsonaro e junho e julho de 2023 para Lula. O levantamento considera como "live" todos os vídeos ao vivo publicados nas plataformas.
Batendo papo com o presidente
As lives de Lula, inspiradas no modelo usado por Bolsonaro, começaram em 13 de junho deste ano.
O presidente se senta num ambiente aberto, geralmente no Palácio da Alvorada, por volta das 8h, para um bate-papo conduzido pelo jornalista Marcos Uchôa, ex-TV Globo.
Diferentemente de Bolsonaro, que sentava de frente, usava papéis impressos com os tópicos e falava quase que sozinho, Lula usa o formato de entrevistas de podcast. Mas, neste caso, as entrevistas são direcionadas para assuntos leves, cotidianos e positivos para o governo.
Em um dos programas, há um mês, Lula chegou a comparar suas lives com a do ex-presidente: "Lá é só ódio", afirmou. Foi na mesma live em que viralizou nas redes falando dos passarinhos que apareciam cantando no vídeo. Assista abaixo.
Como vão no Youtube?
No programa "Conversa com Presidente", Lula marca, no máximo, 104 mil visualizações, sendo que seu pior desempenho de audiência no conteúdo marcou pouco mais de 30 mil visualizações.
Já Bolsonaro, apesar de ter feito lives com frequência variada, chegou a marcar quase 1 milhão de visualizações em uma única live (foram 919 mil views). A audiência mais baixa do ex-presidente no período foi na casa dos 333 mil views.
E no Facebook?
Nos 107 vídeos ao vivo do presidente na rede, Lula registra pouco mais de 13 milhões de visualizações —uma média de 121 mil por live.
Nas interações, Lula marca média de 150,7 mil por semana nas lives.
Já Bolsonaro acumula 18 milhões de views, em 233 lives, com média de 77 mil views, e em média 194,6 mil interações por semana.
Nova comunicação?
As lives se consolidaram como um novo formato de comunicação direta entre o político e o eleitor.
Nas redes sociais, os políticos visam alimentar sua base eleitoral com informações positivas e ampliar seu alcance, reduzindo a necessidade de aparecerem em jornais ou canais de televisão.
Jair Bolsonaro usou sua base fiel para usar as redes sociais como meio de comunicação oficial do governo com a população.
A campanha de Lula, ainda na eleição, já tinha um caminho semelhante estabelecido.
Para o professor de comunicação política da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) Arthur Ituassu, Lula tenta copiar Bolsonaro, mas de forma atrasada e ineficiente. É necessário encontrar um modelo próprio, na avaliação do docente.
Onde Bolsonaro acerta
Bolsonaro não tem uma posição construída nas redes sociais de uma hora para outra. São pelo menos dez anos de trabalho constante e de uso pessoal dele no Twitter, YouTube e Facebook. Ele trabalha numa rede de extrema direita, muito consolidada, e isso também gera um impacto dos seus números.
Arthur Ituassu, professor de comunicação política da PUC-Rio
Onde Lula erra
Não é necessário adotar os mesmos modelos de conteúdos da extrema direita. O que vemos é uma falta de estratégia de longo prazo, de consolidação de um discurso mais moderado, mais alinhado ao governo. E há uma falta de estratégia de comunicação do próprio governo, que procura fazer igual com menor alcance. É preciso encontrar uma estratégia diferenciada e consolidá-la. Se continuar nessa linha de fazer o mesmo de forma atrasada e ineficiente, vai estar sempre perdendo.
Arthur Ituassu, professor de comunicação política da PUC-Rio