Joice Hasselmann se arrepende de confusões em Brasília: 'Mordia a isca'
Colaboração para o UOL, em São Paulo
22/05/2024 04h00Atualizada em 22/05/2024 16h42
Joice Hasselmann, 46, afirmou se arrepender de ter se envolvido em tantas confusões durante sua passagem pela Câmara dos Deputados. Em entrevista ao programa "Alt Tabet", do Canal UOL, a ex-parlamentar explicou que acumular esses episódios de agito no Congresso foi uma autossabotagem, que culminou em sua derrota nas urnas em 2022.
Hasselmann destacou que não repetiria muitos dos posicionamentos adotados por acreditar ter "mordido a isca" de seus adversários. "Passei por uma máquina de moer carne na política e hoje vejo que algumas críticas que fiz, não faria, pelo menos no [mesmo] tom. Tem muito desrespeito na Câmara e muitas vezes eu mordi essa isca, porque alguém me cutucava e eu vinha igual um furacão. Hoje olho e falo 'para quê um negócio desses?'".
Joice disse que as confusões em que se meteu na política foram para defender seus aliados na época, e não aos próprios interesses. "Essa coisa de sempre estar no meio da confusão, é ridículo, mas em todas as confusões que entrei era para defender alguém, ou que estava do meu lado político ou alguém que estava sofrendo e não conseguia [se defender] sozinho. Eu ia lá e agarrava a briga".
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Me arrependo [de acumular brigas] porque ali sou eu contra mim mesma. O que me fez perder base foi isso, eu contra mim mesma. Porque eu ficava me sabotando o tempo todo, me enfiando em brigas que eu não precisava e que não eram minhas.
— Joice Hasselmann ao Alt Tabet
Embora tenha sido eleita na onda da extrema-direita, Joice afirma que seu perfil "nunca" foi de uma "radical". Ela definiu a si mesma como alguém "mais liberal que conservadora", e citou como exemplo sua defesa do casamento homoafetivo. "Não tem o que se discutir isso, cada um faz o que quiser com sua vida", ressaltou.
PSL era 'zoológico sem jaula', afirma Hasselmann
Hasselmann afirmou que eram poucas as pessoas que raciocinavam naquele PSL que elegeu Jair Bolsonaro em 2018. "Eu fui deputada pelo PSL, que era um grupo de malucos e eram literalmente seis pessoas que tinham raciocínio, entre as quais eu estava [nesse grupo]. O resto era um zoológico sem jaula, era crocodilo conversando com macaco".
A ex-deputada chegou à Câmara abraçada ao bolsonarismo, mas não demorou para romper laços. Ainda no primeiro ano do governo Bolsonaro, ela, o então presidente e os filhos dele se desentenderam publicamente em uma disputa pelo comando do PSL, que agora ela diz ter sido uma briga que não deveria ter travado.
Quando o Bolsonaro tentou tomar o PSL, eu fui lá e comprei a briga, dei um jeito de manter o partido na minha mão, virei líder, mas comprei uma briga que não era minha porque não achava justo os deputados serem pressionados da forma que estavam sendo pelo Bolsonaro. Ali a nossa relação degringolou de vez.
— Joice Hasselmann ao Alt Tabet
Joice contou que Bolsonaro chegou ao Palácio do Planalto com sentimento de inferioridade, mas, à medida que se acostumou ao poder, deixou de ouvir os aliados, como ela. "Quando o Bolsonaro chegou ao poder ele se sentia menor que a cadeira, inferior, então precisava de suporte. Só que ele rapidamente foi crescendo, passou a se sentir maior que a cadeira e quando você se sente maior que cadeira, você se sente maior que a Constituição, maior que qualquer outro poder. Aquilo começou a me apavorar, ele me ouvia, nessa época parou de ouvir".
Joice diz ter mudado visão sobre feminismo após passagem pela Câmara
Hasselmann explicou que "o leque se abriu", ou seja, que ampliou sua concepção sobre o feminismo. "Na minha cabeça o conceito de feminismo, de maneira até ignorante, era de mulheres que não se depilam, que [mostram] os peitos na Paulista, e aquilo não me representa. E isso [ser feminista], eu aprendi na Câmara, com a Bancada das Mulheres, discutindo com pessoas como [as deputadas] Jandira Feghali, Tabata [Amaral], outras tantas mulheres da Câmara".
Apesar da mudança, Joice afirmou ainda haver falta de sororidade e destacou que muitos dos ataques que sofre são de outras mulheres. "Muitas mulheres me atacaram, isso [união] é uma coisa que eu acho que ainda falta no feminismo, porque a sororidade é de mentirinha, você tem exceções que reforçam a regra. Mas hoje meu leque se abriu, acho que as pautas feministas em sua maioria são importantes".
Alt Tabet no UOL
Toda quarta, Antonio Tabet conversa com personagens importantes da política, esporte e entretenimento. Os episódios completos ficam disponíveis no Canal UOL e no Youtube do UOL. Assista à entrevista completa com Joice Hasselmann: