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Indígena e militar: quem é deputada cassada por gasto com harmonização

Colaboração para o UOL*

20/06/2024 10h43

O TRE-AP (Tribunal Regional Eleitoral do Amapá) cassou o mandato da deputada federal Silvia Waiãpi (PL-AP) pelo uso de verba pública de campanha eleitoral para procedimento de harmonização facial durante as eleições de 2022, quando foi eleita para uma vaga na Câmara dos Deputados.

Quem é Silvia Waiãpi

Silvia Waiãpi é natural do estado do Amapá. A deputada nasceu em 29 de agosto de 1975, na aldeia da etnia waiãpi, no Parque Indígena do Tumucumaque, extremo norte do país, na fronteira com a Guiana Francesa.

Kayne era seu nome de origem. Ela sofreu um acidente aos 3 anos de idade e foi levada a Macapá, onde foi operada e acabou sendo adotada por um casal, que a registrou como filha, com o nome de Silvia Nobre Lopes.

A indígena se tornou mãe aos 13 anos e decidiu se mudar para o Rio de Janeiro, onde estudou e ingressou no Exército. É formada em fisioterapia pelo Centro Universitário Augusto Motta e em Política e Estratégia; Liderança Estratégica pela Eceme (Escola de Comando e Estado-Maior do Exército).

Ainda adolescente, Silvia começou a declamar poesias e diz que foi incentivada a escrever pela APPERJ (Associação Profissional de Poetas do Estado do Rio). Ela resolveu estudar artes e ganhou prêmios por seus poemas: a medalha Cultural Castro Alves, a medalha Monteiro Lobato e também um prêmio de jovem escritora da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul.

O esporte foi a paixão seguinte da indígena. Disposta a aprender a correr, ela foi motivada por um técnico do clube Vasco da Gama. Depois disso, deixou as artes e direcionou os estudos para a área da saúde e fisioterapia ligada ao esporte.

Sílvia Nobre Waiãpi Imagem: Divulgação/Exército

Waiãpi foi a primeira militar indígena a integrar as Forças Armadas no Brasil. Em 2011, ela disputou uma vaga com 5.000 candidatos e foi aprovada com uma das melhores pontuações no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro.

Indígena e bolsonarista, a ex-oficial do Exército foi eleita deputada federal pelo Amapá nas eleições de 2022. Ela ocupou o cargo de secretária de Saúde Indígena no governo Bolsonaro. Nas eleições, foi a deputada federal eleita menos votada no Brasil, com 5.435 votos.

Em sua campanha nas eleições, ela recebeu o apoio de políticos do PL, como os deputados Eduardo Bolsonaro (SP) e Carla Zambelli e a senadora Damares Alves (DF). Por isso, foi criticada pelos movimentos indígenas, que tiveram as relações desgastadas com o ex-presidente.

No Instagram, onde acumula quase 300 mil seguidores, Waiãpi se descreve como "republicana conservadora, defensora da mulher, da criança e da família". Na rede social, ela posa com Jair e Michelle Bolsonaro, além fazer diversas publicações criticando o presidente Lula (PT) e o atual governo.

Como foi o julgamento pela cassação

De acordo com a ação, Silvia teria determinado que uma assessora de campanha repassasse R$ 9 mil para um cirurgião-dentista depois de receber verba oriunda do FEFC (Fundo Especial de Financiamento de Campanha). Foram realizados, segundo o Ministério Público Eleitoral, dois repasses no dia 29 de agosto de 2022. O primeiro, no valor de R$ 2 mil, e o segundo, na quantia de R$ 7 mil.

O caso foi levado ao conhecimento do MP pela própria assessora. Durante sessão desta quarta-feira (19) do TRE-AP, os desembargadores acompanharam trecho do depoimento prestado pelo cirurgião-dentista, que confirmou ter recebido pagamento pelo procedimento estético da então assessora eleitoral da parlamentar. Durante o julgamento, o MPE apresentou recibos do procedimento estético feito pela deputada.

Cabe recurso da decisão ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Nos autos, a deputada negou irregularidades e afirmou que suas contas de campanha foram aprovadas pela Justiça Eleitoral.

*Com reportagem publicada em 27/02/2011 e 08/10/2022 e Estadão Conteúdo

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