A ministros, Lula pede eleição sem ofensas e fala de crises internacionais

O presidente Lula (PT) pediu que os ministros não fizessem ofensas a adversários durante as eleições municipais, cobrou que ajudem a criar uma marca do governo e tratou das crises internacionais com Venezuela e Nicarágua, em reunião ministerial nesta quinta (8).

O que aconteceu

A segunda reunião ministerial do ano no Palácio do Planalto durou cerca de 7 horas. Cada ministro fez uma pequena exposição de feitos da sua pasta e apontou o que deve fazer no futuro, enquanto Lula pediu mais agilidade nas entregas, sem a criação de novas ideias.

Lula abriu o encontro com uma fala breve. Ele elogiou índices econômicos, voltou indicar que a inflação precisa ser ainda mais baixa, pediu "cautela" nas relações do governo com as trocas das presidências no Congresso no ano que vem e disse que não pretende fazer reforma ministerial.

"A gente não pode terminar o mandato sendo apenas mais um governo", disse Lula aos ministros. "Sai um governo e entra outro governo e as coisas não avançam muito. Todo mundo tem tarefa determinada, todo mundo tem seu PAC, sua função. Temos que fazer cada vez mais."

A avaliação do governo é que já está na hora de imprimir uma marca. Até então, a gestão tem sido marcada pela reconstrução do legado deixado por Jair Bolsonaro (PL), mas aliados já dizem que falta ao terceiro governo de Lula um rosto próprio, como foi o Bolsa Família no mandato anterior.

O presidente também disse que não pretende fazer mudanças no corpo ministerial, mas citou as eleições no Legislativo como um foco de atenção. "Temos uma Câmara que vai trocar de presidente, um Senado que vai trocar de presidente, e tudo isso tem que ter muita cautela para que não tenha nenhuma incidência no funcionamento do governo", afirmou.

Como tem feito, Lula elogiou a política econômica do governo. "Nossos números são todos positivos, apesar de uma crise internacional, que o dólar vem causando no mundo inteiro. A gente se mantém muito equilibrado", disse.

O presidente afirmou que a inflação está "equilibrada", mas tem de seguir baixa. "Eu sei que é devastadora a inflação na vida do trabalhador. É por isso que para nós inflação é um fator importante. Quanto mais baixa, melhor para a sociedade brasileira", afirmou.

Lula abordou ainda a PEC da Segurança Pública, que deverá ser enviada ao Congresso. "A gente não pode brincar de fazer segurança pública", disse. O texto inicial foi apresentado a ele pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, na última quarta (7), em reunião com oito ministros que também foram governadores de estado. Agora, a proposta deverá ser debatida com "membros da sociedade civil", governadores em exercício e lideranças da Câmara e do Senado, antes de ir para o Legislativo.

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Pacificar as eleições

Lula orientou os ministros a fazerem uma eleição "acima da cintura". Segundo o ministro da Casa Civil, Rui Costa, o objetivo é que haja um alinhamento pacífico para o pleito, já que ao menos dez partidos que fazem parte da base do governo serão concorrentes em cidades importantes.

O propósito é que as disputas não atinjam o governo. Em São Paulo, por exemplo, o PT está com Guilherme Boulos, filiado ao PSOL, da ministra Sônia Guajajara. Boulos enfrentará o prefeito Ricardo Nunes, do MDB, que tem três ministros no governo, e também Tabata Amaral (PSB), companheira de partido do vice-presidente. Os enfrentamentos se repetem em praticamente todas as capitais.

Não haverá proibição. Lula deverá "liberar" para que seus ministros subam no palanque de quem quiserem. Em São Paulo, Alckmin deverá estar no palanque de Tabata, que tem, inclusive, a esposa do ministro Márcio França (Microempresas), Lúcia França, como vice.

[Lula falou] no sentido de orientar que cada um tem a absoluta liberdade para escolher. Agora, os ministros que fossem participar da campanha, ele aconselhava que fizessem todos os elogios aos seus candidatos e não fizessem críticas ou ofensas ao adversários, independente de quem é o adversário.
Rui Costa, sobre orientações de Lula

Crises internacionais

A eleição na Venezuela e a crise diplomática com a Nicarágua também foram tema da reunião. O Brasil tem sido o principal observador internacional no pleito que o presidente Nicolás Maduro reivindica a reeleição e a oposição o acusa de fraude, ao passo que o Itamaraty expulsou a embaixadora da Nicarágua após o país centro-americano expulsar o diplomata brasileiro.

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Segundo Rui, a posição sobre a Venezuela segue a mesma: cobrança pelas atas. "Ou se apresentam, de fato, as provas da lisura da eleição ou tem que buscar uma solução para a situação da Venezuela", disse o ministro.

Posicionamento oficial do Itamaraty. Até então, as atas oficiais da eleição foram enviadas à Justiça venezuelana pelo governo Maduro, que atribui a demora para publicação e divulgação internacional a supostos ataques de hackers sofridos pelo sistema de apuração no dia da eleição. O Brasil acompanha a situação junto a Colômbia e México.

Rui também afirmou que a questão da Nicarágua se trata de "reciprocidade". O governo decidiu expulsar a embaixadora Fulvia Castro, em Brasília, depois que Daniel Ortega pediu pela saída do diplomata brasileiro Breno de Souza da Costa em seu país.

Como o embaixador brasileiro lá foi convidado a se retirar, a reciprocidade é que o embaixador daqui também foi embora. É uma ação recíproca dentro do que é a tradição diplomática brasileira. O presidente voltou a reafirmar isso na reunião. Ele quer buscar paz e bom relacionamento com todo o mundo, mas não pode aceitar que seus representantes, seus embaixadores, sejam importunados a não ser que tenham cometido atos que fujam da tradição diplomática brasileira.
Rui Costa, sobre crise com Nicarágua

Mais lançamentos, menos ideias

A reunião procurou apontar para o futuro. Diferentemente do primeiro e único encontro neste ano, em março, quando cada ministro expôs as realizações da sua pasta, este encontro vai voltado ao que os gabinetes pretendem entregar até o fim do governo, em especial após o anúncio do corte de R$ 25,9 bilhões na proposta de orçamento do ano que vem.

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Lula anda insatisfeito com o ritmo de entregas. Ele tem cobrado ministros por agilidade e menos anúncios de investimento e mais resultado prático das realizações. Considerando que o segundo semestre de 2026 é eleitoral, o governo considera que entrou nos últimos dois anos.

Lula quer menos promessas e mais ações. Segundo pessoas do Planalto, embora os ministros devam apontar para o futuro, o presidente deverá cobrar ações concretas. Tanto em reuniões como publicamente, o petista tem repetido que só se deve anunciar o que vai ser entregue.

Também foram apresentadas previsões. Auxiliares de ministros dizem que a ideia foi mostrar ao presidente não só o que deverá ser feito, mas quando. O objetivo é que Lula alinhe sua agenda a estes lançamentos pelo país —algo que já estava planejado para este ano, mas não tem acontecido.

Tudo isso tem de ser feito sob a luz do corte de gastos. Lula deverá reforçar a necessidade de seguir a meta fiscal e apontar, junto à equipe econômica, que as pastas terão de se virar para seguir com investimentos sociais e de crescimento mesmo com a redução de quase R$ 26 bilhões no orçamento.

O que o presidente quer é que chegou a hora da colheita e de implementar tudo aquilo que foi anunciado. Ele não quer mais a criação de programas, de propostas, novas. Não é o momento de plantar, colocar fertilizante e colher. Daqui pra frente, é cuidar do que foi plantado.
Rui Costa, sobre cobranças de Lula

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