Análise: Marçal usa eleições para ganhar visibilidade e despreza Bolsonaro
colaboração para o UOL, em Guarulhos
23/08/2024 16h21
Na avaliação do professor e pesquisador João Cezar de Castro, Pablo Marçal usa as eleições majoritárias como ''pote de ouro'' para conseguir tráfego nas redes sociais e, nesse quesito, se considera muito superior ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Castro, que estuda o comportamento da extrema direita no Brasil, diz ainda que Marçal representa a primeira tentativa sistemática no país de ''colonização da política pela economia da atenção''.
Ainda ontem, nós considerávamos Jair Messias Bolsonaro como o primeiro político brasileiro que efetivamente soube usar as redes sociais para chegar ao poder. (...) No sentido do domínio das redes sociais, o Pablo Marçal vai dar no Bolsonaro de 7x1 todos os dias. Ele tem no Instagram 12 milhões de seguidores. Há uma década fatura todos os anos centenas de milhões de reais com essa tríade: tornar-se conhecido, capturar atenção e vender produto. (...) O Pablo Marçal despreza o Bolsonaro, considera Bolsonaro fraco, considera que o Bolsonaro tendo o poder na mão não soube mantê-lo, ele se considera muito superior.
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O produto que o Marçal está vendendo? A si mesmo. O que ele deseja? O voto do eleitor. Por isso, em cada debate, ele faz algo diferente, aparece com boné, muda camisa (...) Marçal obtém um tráfego pago gratuito, um impulsionamento da sua marca que ninguém seria capaz de pagar. Ele descobriu, nas eleições majoritárias, um negócio de ouro, porque ele consegue uma visibilidade que não seria capaz de pagar.
João Cezar de Castro, professor da UERJ
Para o professor, Marçal usa uma estratégia criada pelo norte-americano Andrew Tate, que visa o lucro político.
Marçal, há poucas semanas no programa 'Pânico da Jovem Pan', disse: 'eu trouxe para o Brasil o modelo de um americano' (ele não citou, eu estou dizendo que é o Andrew Tate) E ele disse: 'Eu tenho hoje 4 mil pessoas que vivem de produzir cortes do meu conteúdo. E, no princípio, era apenas apenas conteúdo bonzinho.' Palavras dele, não minhas. Ele tem um conteúdo particular e absurdamente agressivo que gerou 40 mil comentários.
O Pablo Marçal, na economia digital brasileira, é um gênio, um mito. Ele inovou muitas campanhas e trouxe para o Brasil algo que foi inventado pelo norte-americano que está preso na Romênia revolucionou, o Andrew Tate.
Em uma única campanha ele [Marçal] faturou, de maneira confirmada, 100 milhões de reais (...) Por que ele se candidatou agora se ele perdeu na eleição da Câmara? Porque obtém um tráfego pago gratuito, um impulsionamento da sua marca que ninguém seria capaz de pagar.
João Cezar de Castro, professor da UERJ
Do ponto de vista institucional, o professor ressalta que o Brasil não pode se habituar a políticos que desrespeitam as regras eleitorais brasileiras.
Mas, tudo aquilo que, no meio digital, é um mérito, é uma conquista pessoal, no campo da política, é crime, porque é crime abuso
de poder, não respeitar as regras. O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo já dispõe de legislação que permite impugnar a candidatura de Pablo Marçal, mas impugnar por quê? Porque eu não gosto dele, porque ele não pensa como eu? Não, porque Marçal ingressou no jogo eleitoral com a única finalidade de desrespeitar as regras
Porque, ao desrespeitar de maneira tão óbvia as regras eleitorais, nós estamos aqui agora falando dele, ele produz cortes que viralizam na casa das centenas de milhões, que, por sua vez, permitirão uma monetização milionária, que, por sua vez, o tornará cada vez mais rico. É uma bola de neve. Ou será que nós não aprendemos a lição com o Jair Messias Bolsonaro?
João Cezar de Castro, professor da UERJ
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