Direita usa Paulista e marca ato em BH para pressionar Pacheco sobre Moraes
A oposição conseguiu a foto de uma avenida Paulista mobilizada de verde-amarelo, ainda que não tão cheia, e entregou na tarde desta segunda (9) o pedido de abertura de processo de impeachment de Alexandre de Moraes a Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado. A segunda etapa é transformar a presença da militância em pressão sobre os senadores, o que inclui um ato em Belo Horizonte, ainda sem data.
O que aconteceu
O pedido para o afastamento do ministro do STF contou com 145 assinaturas de deputados e 1,44 milhão de outras recolhidas de forma online. Há tempos a artilharia bolsonarista mira o Judiciário.
Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) não foi citado à toa nos discursos e nos cartazes. É ele quem decide se pedidos para abertura de processo de impeachment de ministros do STF são aceitos ou negados. O parlamentar sinalizou que esse pedido contra Moraes não avança.
Ato em Belo Horizonte em preparação. A ideia inicial era fazer o evento em 7 de Setembro, na cidade que é berço político de Pacheco. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), parlamentar mais popular da oposição, chegou a convocar pessoas para o protesto.
O local do evento mudou para São Paulo. Se poupou Pacheco, por outro lado, o tom dos discursos contra Moraes aumentou. No ato de fevereiro, Jair Bolsonaro pediu anistia e sugeriu um acordão. Parlamentares foram comedidos e havia orientação para não levar cartazes ou hostilizar o Judiciário.
No sábado, Bolsonaro chamou o ministro de ditador. Os cartazes voltaram à Paulista e o clima beligerante contra o Supremo foi a tônica dos discursos. Lula, arquirrival tradicional da direita, ficou em segundo plano frente às críticas a Moraes.
A participação popular caiu, marcando outra mudança nos atos bolsonaristas. A USP informou que no ápice da manifestação havia 45 mil pessoas na Paulista. Isto significa quatro vezes menos do que no ato de fevereiro. A baixa adesão pode aliviar a pressão em Pacheco.
O presidente do Senado tem ambições eleitorais em 2026 e a força da direita nas ruas e nas redes sociais pode atrapalhar seus planos. Pacheco deseja ser o próximo governador de Minas Gerais, estado que se mostrou dividido no segundo turno da corrida presidencial: 50,2% dos votos para Lula e 49,8% para Bolsonaro.
Responsável por coordenar a mobilização pelo pedido de impeachment de Moraes, o senador Eduardo Girão (Novo-CE) afirma que o incômodo com o ministro furou a bolha da direita. Ele cita o bloqueio do X como atitude que afeta toda a população. Também elenca as prisões longas para condenados no 8 de Janeiro e a morte de um manifestante na cadeia.
A pressão de fora para dentro é muito importante. Se tem uma coisa que político respeita é um povo organizado que sabe se manifestar de forma ordeira, pacífica, mas firme.
Senador Eduardo Girão (Novo-CE)
Pelos argumentados apresentados ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, me pareceu com bastante robustez [o pedido de abertura do impeachment].
Senador Marcos Rogério (PL-RO)
Trio alternativo tem discurso virulento
Bolsonaro discursou em um trio no meio da Paulista repleto de políticos. No final da avenida, um carro de som chamava Moraes de "assassino da Constituição". A fala é do jornalista e advogado Marco Antônio Costa, organizador do ato alternativo e coordenador do movimento Fora, Moraes.
A deputada Carla Zambelli (PL-SP) convocou participantes para este protesto alternativo dizendo que é preciso frear o ministro. Ela afirmou que o Brasil enfrenta a tirania e a censura. A parlamentar prometeu pressionar os senadores e disse que as pessoas têm o "dever cívico" de cobrá-los.
Esta manifestação alternativa incluiu Pacheco entre os alvos. Foram distribuídos 200 mil cartazes do presidente do Senado. Também havia um boneco gigante dele e de Moraes. O recado era claro: o destino do ministro depende do senador.
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Quero receberDireita desunida
A tarefa de pressionar Pacheco e Moraes tem um adversário interno: a divisão da direita. Os parlamentares discordam sobre a melhor estratégia para ser adotada. Há três correntes de pensamento.
A primeira é do discurso oficial de impeachment. Os senadores devem abrir processo de afastamento, impor a agenda da oposição e dar uma resposta ao STF, onde muitas lideranças da direita são investigadas.
Existe uma ala que considera um erro político derrubar Moraes. Eles justificam que o ministro foi uma escolha de Michel Temer (MDB) e a saída dele permitiria a Lula (PT) nomear uma pessoa mais alinhada à esquerda.
Quem adota este raciocínio avalia que é melhor desgastar o ministro até 2026. A estratégia é obter o afastamento depois da eleição presidencial e, com uma eventual vitória nas urnas, escolher um indicado alinhado à direita.
A última opção era não avançar com a campanha pela saída de Moraes por falta de força política. A avaliação é que faltam votos e insistir no impeachment só serviria para aumentar a animosidade contra o STF. Estima-se que a direita conta com 31 senadores aliados num total de 81.
No começo da campanha pelo afastamento de Moraes era consenso de que faltava um fato forte. As reportagens da Foha de S.Paulo mostraram um comportamento questionável do ministro em usar o TSE para abastecer inquéritos que ele comandava no STF.
Mas as revelações eram consideradas insuficientes para mobilizar a opinião pública. A esperança de uma denúncia forte e de fácil compreensão da população não se confirmou. Apesar do esforço da oposição, a balança de forças de Brasília pende a favor de Moraes no momento.
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