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Lucas Bove usa influência para transgredir lei, diz defesa de Cíntia Chagas

O deputado estadual Lucas Bove (PL) durante sessão na Assembleia Legislativa Imagem: Divulgação

Manuela Rached Pereira

Do UOL, em São Paulo

22/10/2024 05h30

A advogada da influenciadora Cíntia Chagas, que acusa de violência doméstica o ex-marido e deputado estadual, Lucas Bove (PL-SP), afirmou que o parlamentar usa sua "influência" em um "cargo de poder" para "transgredir a lei".

O que aconteceu

Defesa de Chagas entrou com pedido de prisão preventiva contra deputado por descumprimento de medidas cautelares. A ação foi protocolada na última quinta-feira (17), após vazamentos à imprensa de reproduções de mensagens entre a influenciadora e o ex-marido, que é vice-líder do PL na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo).

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Advogada da influenciadora alega que o deputado vem descumprindo medidas cautelares. "Lucas vem, desde o dia 10 de outubro, descumprido medida protetiva de urgência, de não mencionar fatos do processo, não dar entrevistas, não falar sobre a vida pregressa do casal direta ou indiretamente. Todos esses fatos foram relatados nos autos e estão sendo submetidos ao Ministério Público e ao Poder Judiciário", afirmou a advogada de Chagas, Gabriela Mansur, em nota.

Mansur também solicita instauração de inquérito policial contra Bove pelo crime de desobediência. Procurada, a defesa do deputado, composta pelos advogados Camila Felberg e Daniel Leon Bialski, avalia o pedido de prisão como "incabível".

Processo contra Bove corre em segredo de Justiça. Por isso, o deputado estadual tem usado as redes sociais para afirmar que está sendo cerceado de se manifestar sobre o caso. Em 10 de outubro, após a divulgação de notícias sobre as acusações das quais é alvo, ele se manifestou pela primeira vez: "Estou de mãos atadas, de boca amordaçada, mas tenho certeza de que, no momento certo, a verdade vai ser restabelecida".

Cumpre frisar que muitos homens que são acusados de violência contra mulher, quando estão em algum cargo de poder, acabam por usar essa influência, achando que nada vai acontecer, transgridem a lei, debocham das advogadas da vítima e da própria Justiça. Isso é inadmissível. Gabriela Mansur, advogada de Cíntia Chagas, em nota enviada ao UOL

Ele [Lucas Bove] não infringiu nenhuma medida protetiva. Enquanto figura pública, somente se manifestou dentro da sua liberdade de expressão ao mencionar que a verdade aparecerá e que respeitará a decisão da Justiça. Daniel Bialski, advogado da Lucas Bove, em nota enviada ao UOL

Relembre o caso

Influenciadora e deputado anunciaram divórcio em agosto sem comentar motivos da separação após 3 meses de casamento. No fim de setembro, Chagas afirmou, em um post no Instagram, que estava sendo atacada por ter se divorciado de Bove. "Para que os ataques cessem, não vejo saída a não ser afirmar que precisei pedir o divórcio em decorrência de uma situação grave, lamentável e triste".

Caso ganhou repercussão após vazamento de documentos sigilosos à imprensa. Em 9 de outubro, o portal Léo Dias divulgou informações sobre um boletim de ocorrência e um pedido de medida protetiva registrado no começo de setembro por Chagas contra o ex-marido. Em seu depoimento à polícia, a influenciadora relatou que viveu um relacionamento abusivo com Bove, que a teria agredido física e psicologicamente.

Após divórcio, Chagas estava em "risco", afirma Mansur. Questionada sobre o que justificou o pedido de medida protetiva de Chagas contra Bove, a advogada da influenciadora alegou: "Cintia estava em situação de risco após inúmeros episódios de violência, razão pela qual solicitou as medidas protetivas visando apenas a sua proteção e segurança".

Chagas relatou ter sido atacada física e verbalmente. Segundo a influenciadora, tudo começou com episódios de ciúme — Bove perguntava constantemente onde a parceira estava e pedia provas, como fotos e vídeos. À revista Marie Claire, Chagas afirmou que o ex-marido chegou a arremessar contra ela uma faca, que atingiu sua perna.

Repercussão na imprensa

Prints de conversas entre o ex-casal foram divulgados pela imprensa no último mês. Em imagens com reproduções de mensagens divulgadas primeiramente por Léo Dias, a influenciadora mostra hematomas na perna, que diz serem resultado de agressões do deputado. "Não tem graça. Olha como ficou. Vontade de chorar só de olhar para isso. Por favor, amor. Pare. Estou pedindo", teria escrito ela em uma das mensagens. Em seguida, ele pede desculpas e diz: "Você tem toda razão. Vou parar".

Bove alegou que conversas podem ter sido retiradas de contexto. "Fatos têm sempre dois lados. Histórias, prints e conversas podem ser facilmente manipulados. Áudios podem ser facilmente tirados da cronologia dos fatos", disse ele em discurso na Alesp.

Em outras conversas vazadas, Chagas e Bove aparecem discutindo por ciúmes. Na última sexta-feira (18), o portal Metrópoles divulgou troca de mensagens que mostra a influenciadora brigando com o deputado estadual por ciúmes de outras mulheres com quem Bove convive na política.

Advogada de Chagas reiterou que Bove está proibido de divulgar conteúdos sobre o caso. "Também foi determinado que o requerido se abstenha de enviar ou divulgar em qualquer rede social, sua ou de terceiro, ou por qualquer meio de comunicação, vídeos, imagens, fotografias, ou qualquer forma de mídia que contenha conteúdo íntimo ou privado pertencente à requerente ou relacionado à sua figura, sob pena de prisão preventiva", afirma Mansur.

Defesa de Bove entrou com ação que busca proibir manifestações de Chagas. Questionado sobre os motivos do pedido judicial, o advogado Daniel Bialski afirmou: "Ela vazou coisas do processo, propaga falácias e fomenta ódio. Assim, esse tema tem que ser discutido no processo e não publicamente. Se vale para ele, tem que valer para ela".

Defesa de influenciadora rebateu acusação. "O referido pedido é apenas tentativa de silenciamento e de cercear a liberdade de expressão da vítima, como ocorre em quase todos os casos de violência doméstica, Lucas tenta tirar o foco da realidade dos fatos. É importante frisar que o segredo de justiça existe para a exclusiva proteção da vítima e não do investigado, visando proteger as vítimas de violência doméstica e não os acusados, sendo escolha da vítima expor sua situação como vítima ou não".

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