Luana Araújo: Deputados legislam, mas não têm noção sobre castração química
Os congressistas debatem projeto de lei que prevê a penalização de pedófilos e estupradores, mas não têm noção sobre a castração química, opinou a médica infectologista Luana Araújo no UOL News, do Canal UOL, nesta sexta-feira (13).
Eu acho que há um segundo nível de confusão, que é confundir o que é o mecanismo por trás da pedofilia, pensando em desejo sexual por esses indivíduos, com relação ao mecanismo por trás da violência sexual, que é habitualmente o mecanismo de demonstração de poder pelo abusador frente ao abusado —e não do desejo sexual.
Dessa forma, não podemos dizer que a castração química é completamente eficaz no tratamento desses indivíduos. A não ser que fosse mais uma opção junto a toda uma terapia socioeducativa. Luana Araújo, médica infectologista
A regra foi incluída a partir de uma emenda proposta pelo deputado Ricardo Salles (Novo-SP), ex-ministro do Meio Ambiente no governo Bolsonaro (PL). Segundo o texto, o infrator precisará usar medicamentos inibidores de libido. A proposta —que teve 267 votos favoráveis, 85 contra e 14 abstenções na Câmara— agora segue para o Senado Federal.
Então, eu acho que existem vários níveis de confusão aqui, o que demonstra para mim, mais uma vez, é que os legisladores legislam sobre um assunto no qual eles não têm a menor noção. É sempre aquela decisão que é mais midiática, que é mais fácil para ser cortada para as redes sociais e impressionar na internet. Mas não é uma decisão que tem como objetivo a proteção de crianças e adolescentes. Luana Araújo, médica infectologista
No UOL News, a médica considerou ainda a proposta aprovada pela Câmara vaga e completamente surreal.
A lei brasileira não diz quem vai executar [a castração química], como isso vai ser feito, de onde vai sair o dinheiro, como isso vai ser controlado. Como você vai saber que isso está sendo eficaz de fato? É sempre um grande anúncio e uma coisa com pouca relação com a realidade. Isso é mais para Nárnia, onde as coisas são completamente surreais. As pessoas entram e saem de armários.
Ainda que fosse relacionada à castração química, os estudos que a gente tem sobre isso, eles são, na sua imensa maioria, estudos pequenos, com pequenas amostras. Então a gente não tem condições de dizer 'esta é a grande ferramenta contra esses criminosos. Luana Araújo, médica infectologista
Cris Fibe: Proposta não é efetiva
A colunista do UOL Cris Fibe também demonstrou rejeição em relação à proposta e defendeu que a prevenção para o problema está na reeducação social.
Quem comete esse tipo de crime sexual não faz isso por excesso de libido, por prazer, faz isso porque é um exercício de poder, é um exercício de subjugar a criança, o adolescente, a mulher e mostrar poder e ter algum tipo de prazer com isso. Não adianta você fazer castração química para acabar com esse tipo de problema. A prevenção, obviamente, está na reeducação social.
Depois, esse tipo de crime muito frequente no Brasil, especialmente contra meninas e meninos, acontece muitas vezes dentro de casa e, na maior parte das vezes, a criança nem consegue dar nome a esse crime, não consegue pedir ajuda. Então o percentual de homens que são punidos pelo crime de pedofilia é muito pequeno em relação a todo o número de vítimas que existem no Brasil.
Então, essa 'solução' é demagoga, que quer dizer que você está fazendo alguma coisa, e não está atingindo a raiz do problema, que é esse exercício de poder, que é o pai, padrasto, avô que está estuprando e não é denunciado. Então, cortar a libido dessas pessoas não vai fazer com que elas parem. O que vai fazer com que elas parem é a reeducação, um outro tipo de inserção social.
Cris Fibe, colunista do UOL
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