Vereadores de SP entram em 'guerra' por gabinetes com banheiros e elevador
Uma nova regra para ocupação de gabinetes na Câmara Municipal de São Paulo criou uma verdadeira guerra entre vereadores pelas salas. A norma transferiu para a presidência, ocupada hoje por Milton Leite (União), a responsabilidade de definir quem fica com cada espaço dentro da Casa.
O que aconteceu
Há disputa por gabinetes com banheiro próprio e acesso ao elevador privativo. Os 55 vereadores têm direito a um gabinete, mas nem todas as salas contam com essas vantagens.
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Vereadores reclamam que banheiros comuns da Câmara são usados por pessoas em situação de rua. Com 13 pavimentos, a Casa tem elevadores "inteligentes", que também são alvos de reclamações frequentes pela lotação e funcionamento confuso. Isso torna o acesso ao elevador privativo um ativo de luxo aos políticos.
Mulheres têm preferência na escolha dos gabinetes com banheiro, segundo a Câmara. Vereadores com dificuldades de locomoção também têm prioridade para ocupar essas salas. Esses, entretanto, foram os únicos critérios informados pela Casa ao UOL para organizar a ocupação dos gabinetes.
Resolução determinou que trocas e distribuição de gabinetes "serão efetivadas pela presidência". Decisão divulgada em 10 de outubro deste ano prevê ainda que também ficarão a cargo da Casa "alterações físicas necessárias" nos espaços. O regimento interno da Câmara não tem uma regra que defina como isso deve ocorrer.
Suposta "venda" de gabinetes motivou medida. De acordo com a Folha de S.Paulo, a presidência da Casa decidiu interferir após relatos de pedidos de dinheiro por vereadores de saída aos colegas que chegavam pelos espaços para ressarcir gastos feitos por eles com móveis, por exemplo.
Medida gerou desconforto entre estreantes. "É ruim ter que 'pedir benção' até para isso", reclama um dos novatos, que prefere não se identificar. Ele se ressente do que chama de falta de um "critério objetivo" para escolhas. "Sei de colega que pediu gabinete e foi preterido sem motivo", disse.
Situação divide vereadores
Gabinete de Milton Leite ficará com um de seus apadrinhados. Diferentemente da maioria dos colegas estreantes, Silvão Leite (União) já sabe qual é o espaço que ocupará em seu primeiro mandato. Com ares de presidente, ele receberá convidados e abrigará sua equipe de assessores na sala 719, no 7º andar.
Enquanto alguns já sabem onde ficarão, outros não têm ideia. Rodrigo Goulart (PSD) deve manter o gabinete no 11º andar. Já o estreante Lucas Pavanato (União) ocupará a sala que hoje abriga Fernando Holiday (PL), que não tentou reeleição. Amanda Vettorazzo (União) e Gabriel Abreu (Podemos) indicaram espaços que gostariam na Casa e aguardam retorno.
Preferência às mulheres é elogiada por vereadores. "O critério é justo, mas acho que tem um pouco de morosidade", disse o vereador eleito Kenji Palumbo (Podemos). Ao UOL, ele disse ter sido informado que depois das vereadoras, a preferência é dos idosos, na sequência dos reeleitos e por último dos novos eleitos.
As distribuições não atingem apenas os estreantes. Dois vereadores da base buscam novos gabinetes. Um quer um espaço maior, e outro, uma sala que tenha banheiro. Das 55 vagas da Câmara paulistana, 20 serão ocupadas a partir de 2025 por novatos eleitos. A posse ocorre no próximo dia 1º.
A princípio, Palácio Anchieta tinha 21 gabinetes. Com o passar dos anos, o prédio de 1969 subdividiu os espaços com a ampliação do número de vereadores. Por terem pilastra no meio, as salas maiores, com vista para Praça da Bandeira, são menos adaptáveis do que aquelas com vista para o Viaduto Jacareí, por exemplo.
Há outras diferenças importantes. Uma liderança disse ao UOL que, se pudesse escolher, preferiria os gabinetes do terceiro, quarto e quinto andares, por serem mais próximos do plenário, que fica no primeiro piso.
'Nem os mais antigos'
Oficialmente, os vereadores dizem aguardar orientação da presidência. O UOL entrou em contato com os 20 candidatos eleitos —15 responderam. "Fiz os pedidos dos respectivos gabinetes que tenho interesse, agora estou aguardando", afirmou Gabriel Abreu (Podemos), vereador eleito.
Apenas Silvão e Pavanato disseram que têm gabinetes escolhidos. A vereadora Janaína Paschoal (PP) afirmou que decidiu aguardar a definição da presidência, porque "sequer os mais antigos estavam podendo escolher". Dheison (PT) indicou salas de preferência, mas disse que está "sem a menor noção de como será a distribuição e de como são os critérios".
Possíveis saídas de vereadores para assumir secretarias também são esperadas. "Isso [escolha de gabinete] é uma coisa meio de prestígio. Espaço tendo, cabendo gente pra mim está ótimo", afirmou o vereador eleito, Adrilles Jorge (União). O novato Murillo Lima (PP) disse entender como uma "questão administrativa e que será resolvida o quanto antes" pelo presidente da Câmara.
Meu processo de escolha do gabinete foi relativamente tranquilo. Conversei com um vereador que está de saída da Câmara sobre a possibilidade de ficar com seu gabinete, ele me recebeu, confirmou e pediu que oficializasse essa solicitação na Presidência da Câmara, com quem também dialoguei sobre. Enviei um ofício confirmando meu interesse e agora estamos esperando a confirmação, mas ainda tudo dentro do prazo. Mas estou confiante de que vai dar tudo certo.
Marina Bragante (Rede), vereadora eleita