Nunes e vice tomam posse em São Paulo e assumem governo mais à direita
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o vice Ricardo Mello Araújo (PL) assumiram os cargos nesta quarta-feira (1º) com agradecimentos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e alfinetadas no governo Lula (PT) durante cerimônia de posse. Os discursos na Câmara Municipal de São Paulo indicam uma inclinação mais à direita no segundo governo de Nunes.
O que aconteceu
"Meu agradecimento à indicação do presidente Bolsonaro", disse Nunes sobre o vice. Ricardo Mello Araújo, que assume como vice-prefeito também nesta quarta, foi indicação direta do ex-presidente. Em seu discurso, ele agradeceu Bolsonaro antes mesmo de citar o atual prefeito.
Discurso de Nunes incluiu alfinetada no governo Lula (PT). Ao falar sobre investimentos em manutenção de pontes e viadutos na cidade, o prefeito citou a queda da ponte JK na fronteira de Maranhão e Tocantins nos últimos dias. A via, de responsabilidade do governo federal, sofria com falta de manutenção. "É um trabalho que nós desenvolvemos, preventivo. A gente viu o que aconteceu agora na ponte de Tocantins, tá causando problema para milhares de pessoas e levou à morte algumas pessoas. Pela primeira vez na década, a prefeitura está cuidando da manutenção de pontes e viadutos", afirmou.
Em entrevista à CNN, o prefeito defendeu que o MDB não apoie a reeleição de Lula em 2026. Para Nunes, a sigla deve apoiar um candidato da direita.
Apesar de falas, prefeito afirmou em discurso que "ideologia nunca pode ser maior que o dia a dia". "O Brasil precisa ser pacificado consigo mesmo", disse ele, que se apresentou na tribuna da Câmara Municipal como um agente da moderação e do diálogo.
Secretariado do novo governo também aponta inclinação mais à direita. Nunes nomeou Angela Gandra, filha do jurista Ives Gandra Martins, para a pasta de Relações Internacionais. Ela foi secretária da Família do Ministério de Direitos Humanos no governo Bolsonaro e participou de uma articulação internacional em apoio a uma decisão do Tribunal Constitucional da Polônia que ampliou as restrições ao aborto legal naquele país, como mostrou o UOL.
Cargo de Angela Gandra foi ocupado por Marta Suplicy (PT) na primeira gestão Nunes. Com histórico ligado à esquerda, a ex-prefeita rompeu com Nunes alegando não concordar com a aproximação dele com Bolsonaro e deixou o governo para ser candidata a vice de Guilherme Boulos (PSOL) na disputa municipal.
Pai de Angela Gandra é um dos principais expoentes do conservadorismo no direito brasileiro. Teses de Ives Gandra teriam baseado planos golpistas para manter Jair Bolsonaro no poder, segundo depoimento do ex-comandante do Exército general Freire Gomes à Polícia Federal.
Partido de Bolsonaro não ficou satisfeito com formação do secretariado. Como mostrou o UOL, o PL — que ficará com três pastas — queria o comando de secretarias mais robustas, como a Educação.
Agradecimentos a Tarcísio e Milton Leite
Nunes começou discurso agradecendo Milton Leite. Segundo o prefeito, o agora ex-vereador pelo União Brasil e ex-presidente da Câmara ajudou o Executivo a aprovar 102 projetos na casa.
Governador também foi lembrado. Prefeito chamou Tarcísio de Freitas (Republicanos) de "grande amigo" e agradeceu pelo apoio dado por ele nos primeiros anos à frente da prefeitura. O governador, principal fiador da candidatura à reeleição do prefeito, não participou do evento porque está em viagem internacional com a família.
Nunes chamou Bruno Covas de irmão. Ele classificou o ex-prefeito como "um amigo e um exemplo" logo no começo do discurso. Eleito prefeito em 2020, Covas morreu no início do mandato em 2021 — abrindo espaço para que Nunes, então vice, assumisse a prefeitura.
Deputados prestigiaram cerimônia. Os deputados federais Bia Kicis (PL-DF), Erika Hilton (Psol-SP) e Kim Kataguiri (União Brasil-SP) e o deputado estadual Reis (PT) estiveram presentes na Câmara, entre outras autoridades.
Presidente da sessão de posse colocou prefeito em saia justa. Em seu discurso inicial, o vereador Eliseu Gabriel (PSB) criticou a privatização da educação nos EUA no fim do século 20. "Espero que não caiam nessa tentação por aqui", disse ele sobre o tema. Em entrevistas, Nunes já manifestou interesse em entregar à iniciativa privada a gestão de unidades escolares, assim como fez o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) com a educação estadual.
"Viva o Bolsonaro", disse vereadora ao tomar posse. Após a fala de Zoe Martinez (PL), última a ser empossada, vereadores de esquerda a vaiaram com gritos de "sem anistia", dando início a uma breve confusão. "Começou cedo, hein?", brincou Eliseu Gabriel, em referência ao embate entre opositores.
Educação deve ser prioridade de Nunes
Em entrevista ao UOL, Nunes disse "não estar satisfeito" com o desempenho da prefeitura na área. Em seu primeiro mandato, o programa de metas previa que as escolas do município atingissem nota 5,7 nos anos iniciais do ensino fundamental e 5,2 nos anos finais. O critério seria o Ideb. Porém, quatro anos depois, a rede tem nota 4,6 nos anos iniciais e anos finais, de acordo com a medição do governo federal.
MDB deve comandar seis secretarias. Partido do prefeito deve ficar com pastas da Cultura, Direitos Humanos, Gestão, Governo e Habitação, além da Casa Civil. Segunda legenda com mais secretários, o PL deve comandar Projetos Estratégicos, Relações Internacionais e Verde e Meio Ambiente.
Primeira reunião do secretariado acontece nesta quinta (2). O evento deve ocorrer na sede da prefeitura, pela manhã. Equipe do prefeito é formada por 22 pastas.
Nunes assume novo mandato já com aumento de tarifas de ônibus. A prefeitura anunciou no dia 26 de dezembro que o valor da passagem será reajustado de R$ 4,40 para R$ 5 a partir do dia 6 deste ano. A medida chegou a ser questionada na Justiça, que negou hoje um pedido de vereadores do PSOL e manteve o aumento da tarifa.
Prefeito deve manter boa relação com a Câmara Municipal. A expectativa é de que o comando da Casa fique com Ricardo Teixeira, do União Brasil — partido que integra a base aliada do prefeito. No primeiro mandato, Nunes conseguiu aprovar projetos difíceis, como o texto que autorizou a privatização da Sabesp.
PT terá maior bancada da Câmara Municipal, com oito vereadores. Depois do PT, vêm MDB, União e PL, com sete nomes cada um. Os três partidos integram a base aliada. PSOL e Podemos (com seis vereadores), PP (4), PSD (3), PSB e Republicanos (dois cada), Novo, PV e Rede (1) fecham a lista dos partidos com representantes na Casa.
Reeleição veio no segundo turno, com 59,35% dos votos válidos. Na disputa, Nunes venceu Guilherme Boulos (PSOL), que tinha o apoio de Lula. Entre os principais fiadores de sua candidatura, o prefeito de São Paulo teve apoio do governador Tarcísio de Freitas e de Jair Bolsonaro.
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