'Oficina de matar': ato lembra horrores em quartel onde Rubens Paiva ficou
Grupos da sociedade civil, vítimas de tortura e parentes de presos políticos mortos durante a ditadura militar fizeram uma manifestação na manhã deste sábado (11) para pedir o tombamento do 1º Batalhão de Polícia do Exército, local em que 49 pessoas foram assassinadas, entre elas Rubens Paiva, retratado no filme "Ainda Estou Aqui". Atualmente, o quartel funciona normalmente.
O que aconteceu
O protesto ocorreu numa praça em frente ao batalhão, na Tijuca, zona norte do Rio, onde funcionou o DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informação-Centro de Operações de Defesa Interna). Manifestantes empunharam fotos de vítimas para lembrar dos horrores ocorridos no local.
Intenção é que batalhão, que segue em atividade, seja transformado em um memorial. "Esse quartel não pode funcionar como se nada tivesse ocorrido nele. Há um passado que o condena. Nós exigimos o tombamento do quartel e a transformação dele num centro de memória dos crimes cometidos pela ditadura", afirmou Octávio Costa, presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), uma das entidades organizadoras do ato.
"Precisamos preservar essa memória de todas as formas", disse ex-preso político. O jornalista Álvaro Caldas, que relatou ter ficado por quatro vezes no batalhão, classificou o local como "uma oficina montada para torturar e matar". "O brasileiro tem o direito de saber que ali se matou, ali se torturou", completou.
Cineasta lembrou momentos em que agonizou no quartel. Lúcia Murat deu um depoimento contando parte do terror vivido no batalhão: "Chegaram a colocar baratas amarradas a barbantes que eram manipuladas no meu corpo".
Texto de Vera Paiva, filha de Rubens e Eunice Paiva, retratados em "Ainda Estou Aqui", foi lido durante a manifestação. "Além de recuperar as memórias dos que perdemos, devemos demandar do Estado e das Forças Armadas um pedido de desculpas oficial à nação brasileira", dizia um trecho do texto.
Secretário do governo Lula esteve no ato. O advogado Wadih Damous, que já esteve à frente da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro e é o atual secretário nacional de Defesa do Consumidor, afirmou que o caminho para um tombamento é difícil, pela resistência dos militares. "Mas a iniciativa é um movimento muito importante, principalmente no momento atual, em que há tentativa de se negar a História, dizer que não houve desaparecimento, não houve tortura."
Conselho Nacional de Direitos Humanos vai apoiar pleito. O advogado Carlos Nicodemos, membro do conselho, afirmou que a entidade irá apoiar a iniciativa de tentativa de tombamento e transformação do espaço. A ideia é formar um grupo de trabalho para abrir conversas com o Ministério da Defesa. "Estivemos recentemente visitando o quartel e vimos que o local de tortura foi transformado num dormitório".
A manifestação ocorreu na praça em frente ao batalhão, onde há um busto de Rubens Paiva. No fim do protesto, os participantes se reuniram para uma foto em frente ao quartel com uma faixa pedindo o tombamento.
Ato reuniu diversas entidades. A manifestação foi promovida, além da ABI, pela ONG Rio de Paz e o Grupo Tortura Nunca Mais RJ e ainda contou com a presença de representantes de movimentos sindicais, partidos políticos e da Associação de Juízes para a Democracia.
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