Erika Hilton ocupa vácuo deixado pelo governo e Janja nas redes
A deputada Erika Hilton (PSOL-SP) fez o que nem o governo nem o PT conseguiram no caso do Pix: bater de frente com Nikolas Ferreira (PL-MG).
O que aconteceu
O vídeo de Erika com o que a esquerda queria comunicar sobre o caso tem 102 milhões de visualizações no Instagram. O post ocupou um espaço que a esquerda e o governo, desnorteado, não conseguiam preencher e rebateu a narrativa da direita de que o governo poderia taxar o Pix.
O sucesso do post é cercado de significados políticos:
- Enfrenta a direita num terreno que ela sempre dominou;
- Surge num momento de crise da comunicação do Planalto;
- Foi feito por uma parlamentar que não é do PT;
- Faz contraponto à afirmação de que a esquerda perdeu a conexão com o povo.
É preciso devolver a identificação [da população com a esquerda]. A extrema direita cria identificação via pauta religiosa, via uma guerra do bem contra o mal. Precisa criar sentimento de identificação.
Erika Hilton, deputada federal
Resposta a Nikolas
Erika conta que estava incomodada com a falta de contundência do governo no caso. Quando o Planalto assumiu a derrota no debate e revogou a medida, ela decidiu agir.
A deputada fez o post em resposta a Nikolas. A estética do vídeo é semelhante: fundo escuro, orador de frente para a câmera e imagens inseridas durante o vídeo. Alguns detalhes são propositalmente diferentes. Exemplo: Nikolas está de preto, Erika, de branco.
Já no discurso as diferenças são fáceis de perceber. A parlamentar afirma que a direita mente ao falar que Lula quer taxar o Pix. Ela ressalta que Paulo Guedes, ministro da Economia de Jair Bolsonaro, foi quem propôs criar um imposto para o Pix.
Erika diz que os vídeos são rotina em sua atuação política. Mas 100 milhões de visualizações no Instagram é um número que supera de longe o histórico de audiência dela. Nikolas já teve mais de 320 milhões no vídeo dele.
Como nasceu o vídeo
Erika conta que havia um clamor de militantes de esquerda querendo uma resposta a Nikolas. Ela notou este sentimento ao ser cobrada por apoiadores e, diante da inação do governo, convocou sua equipe de comunicação.
A deputada tinha bem claro que tipo de vídeo queria produzir. Repetiu a estética usada por Nikolas para criar o efeito de ação e reação, tornando claro o motivo de ter ligado a câmera.
Houve preocupação em fazer um texto direto. Os cuidados técnicos de captação de imagem e do som e exigiram um estúdio, que foi emprestado por uma amiga. "Não é assim, saca um celular e grava", explicou.
A equipe seguiu os requisitos, e Erika virou antagonista de Nikolas. A parlamentar diz que não procurou este rótulo, mas admitiu que se sente bem no papel de contraponto a um deputado da "extrema direita".
Na avaliação de Erika, a comunicação é crucial na disputa política. Ela afirma que um bom desempenho está ligado a entender as demandas do povo e falar de forma clara.
Foi a segunda vez que vocalizou os anseios da esquerda. Também partiu dela o projeto de acabar com a jornada 6x1, proposta que conta com apoio da maioria da população e é considerada uma bandeira para as eleições de 2026.
Fazendo papel de Janja
A deputada conseguiu o resultado que era esperado de Janja pela militância da esquerda e pelo Planalto. A primeira-dama se apresentou como uma mulher atualizada com a linguagem digital e que lideraria o embate com a direita conservadora nas redes sociais.
Prova do sucesso de Erika foi Janja compartilhar seu vídeo, com 638 mil visualizações no Instagram. A audiência nas redes reflete momentos diferentes de ambas. A deputada ganha notoriedade enquanto a primeira-dama vê a sua diminuir.
A avaliação positiva a respeito de Janja é de 22%. O percentual consta de pesquisa da Quaest de dezembro do ano passado. Ela tinha 41%, segundo o instituto, em fevereiro de 2023. O levantamento também apontou 28% de avaliação negativa. Em fevereiro de 2023, era 19%.
A primeira-dama é apresentada pela oposição como uma pessoa que esbanja dinheiro público. A direita explora episódios como a compra de uma gravata de 195 euros (R$ 1.200) para Lula numa grife de luxo e a aquisição de um tapete de R$ 114 mil para "dar mais brasilidade" ao Palácio da Alvorada.
Janja queria o controle da comunicação do governo. A recente troca na comunicação do governo, com a saída de Paulo Pimenta e a chegada de Sidônio Palmeira, tende a diminuir a influência de Janja, já que ela e assessoras próximas travavam uma disputa com a Secom pelo controle da comunicação do governo —principalmente da imagem de Lula.
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