PF: Não houve elementos para indiciar Michelle e Eduardo em plano de golpe
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues, afirmou nesta segunda-feira (27) que a corporação não encontrou "elementos suficientes" para o indiciamento de Michelle Bolsonaro, citada em delação premiada de Mauro Cid como integrante da ala radical que teria incentivado o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a realizar um golpe de Estado após as eleições de 2022.
O que aconteceu
Não houve busca de "outros elementos" que pudessem confirmar a participação da ex-primeira-dama e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) na trama golpista, segundo o diretor. "Ao colaborar e citar algumas pessoas [na delação], são apontados elementos que podem nos levar a coletar provas para responsabilizar, ou não, essas pessoas", disse ele, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura.
O fato de participar de um grupo radical, moderado ou light, não traz nenhuma consequência jurídica para o processo. É importante saber qual foi a efetiva participação das pessoas para o conceito criminal e ação criminosa desenhada. A Polícia Federal não investiga para culpar as pessoas, mas para buscar a verdade.
Andrei Passos Rodrigues, em entrevista ao Roda Viva
Diretor disse que isso se aplica a outras pessoas investigadas na trama. "Investigamos, apuramos e não encontramos elementos suficientes para várias pessoas, não só essas duas [Michelle e Eduardo]. Portanto, fizemos a conclusão que tinha que ser feita".
Michelle e Eduardo compunham a ala "mais radical" do grupo que defendia o golpe, disse Cid. A revelação foi feita no primeiro depoimento da delação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. A íntegra do depoimento de Cid, feito em 28 de agosto de 2023, foi obtida pelo colunista Elio Gaspari, da Folha.
Aguirre Talento, colunista do UOL revelou em novembro de 2023 que a delação apontava Michelle e Eduardo como incitadores do golpe. De acordo com o relato de Cid, esse grupo costumava dizer que Bolsonaro tinha apoio da população e dos atiradores esportivos, conhecidos como CACs (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador), para uma tentativa de golpe.
Michelle e Eduardo são cotados para disputar a Presidência em 2026, já que Bolsonaro está inelegível. Em entrevista à CNN Brasil na última quinta-feira (23), o ex-presidente ele descreveu o filho Eduardo como "uma pessoa madura", com "vasto conhecimento de mundo". Sobre Michelle, disse que "é um bom nome com chances". Em tom de brincadeira, afirmou ainda que uma das condições seria que a ex-primeira-dama o nomeasse como ministro da Casa Civil, caso fosse eleita.
Brasileiros deportados
Exposição dos brasileiros. O diretor explicou que a diferença da reação do governo Lula (PT) em relação às deportações feitas pelo ex-presidente dos Estados Unidos Joe Biden e o atual mandatário, Donald Trump, se deve à exposição e cuidado com os brasileiros.
Os Estados Unidos deportaram 7.637 brasileiros por meio de 94 voos fretados entre 2020 e 2024, nas gestões de Donald Trump e Joe Biden. Os dados são da Polícia Federal a partir de informações oficiais dos EUA. "Não há justificativa para que pessoas que não são presidiários, que não oferecem risco nenhum, estarem acorrentadas, subjugadas e maltratadas", disse ele.
Grande diferença é que, em nenhum momento, houve essa exposição, falta de atenção e cuidado com os brasileiros que aqui chegaram. Há procedimentos, sim, de segurança da aviação para proteção dos conduzidos.
Andrei Passos Rodrigues, diretor-geral da PF
Para ele, a soberania nacional também conta nesse caso. "Primeiro lugar é a dignidade dos cidadãos brasileiros, que não são presidiários, que estavam chegando ao nosso país repatriados dos Estados Unidos. O segundo ponto é a soberania nacional, para que apliquemos aqui, no nosso país, as nossas regras sob o nosso comando das instituições com competência para tanto."
Acordo firmado em 2017
A chegada no Brasil dos brasileiros deportados na última sexta-feira (24) faz parte de um acordo firmado ainda em 2017 entre o então presidente Michel Temer (MDB) e Donald Trump. O pacto prevê que aeronaves tragam de volta quem já não tem mais como recorrer à Justiça norte-americana. Os deportados são, então, pessoas detidas por entrar ilegalmente nos EUA e já não possuem possibilidade de recursos, segundo o Ministério das Relações Exteriores.
Os voos de repatriação acontecem desde 2018 para evitar que essas pessoas permaneçam em presídios dos EUA indefinidamente. Conforme o acordo, o governo brasileiro não aceita a inclusão nos voos daqueles que ainda possuem chance de revisão de sentença.
Além disso, os termos também falam em ''tratamento digno, respeitoso e humano dos repatriados''. O acordo de deportação firmado entre os dois países é considerado pelo governo brasileiro como uma base de diálogo.
Deportação ainda não pode ser atribuída à nova política migratória de Trump. O primeiro voo de repatriação deste ano já estava previsto desde a gestão de Biden e antes da posse do republicano, que prometeu intensificar a política de deportação dos estrangeiros.
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