Quem foi o presidente mais poderoso da Câmara: Lira ou Cunha?

Arthur Lira (PP-AL) deixou o comando da Câmara dos Deputados neste sábado (1º) como o presidente mais poderoso da Casa desde a redemocratização, segundo analistas ouvidos pelo UOL. Hugo Motta (Republicanos-PB) foi eleito sucessor de Lira.

Lira, líder do Centrão, entra para a história nacional como o político que conseguiu reverter a lógica orçamentária do país, reduzindo o poder de decisão do Executivo e ampliando cada vez mais a força do Legislativo.

Neste sentido, Lira supera Eduardo Cunha (Republicanos), considerado até então o presidente mais influente da Câmara. Mas a trajetória de um está diretamente ligada à do outro, como explica o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV-SP.

"Foi Eduardo Cunha que aprovou as emendas impositivas, em 2015. Ou seja: foi ele que garantiu que o governo passaria a ser obrigado a pagar as indicações feitas pelos parlamentares. Lira ampliou essa condição absurdamente, com o orçamento secreto e as emendas Pix", afirma.

Mas se ambos se destacaram como presidentes que abocanharam fatias generosas do orçamento nacional — assumindo, consequentemente, o papel de "fiadores" dos mandatos de parlamentares aliados — Lira e Cunha tiveram posicionamentos opostos diante de eventuais rupturas institucionais.

"Enquanto Cunha pautou o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016. Lira segurou dezenas de pedidos de afastamento de Jair Bolsonaro", destaca o professor Rodrigo Prando, do Mackenzie. "Lira foi um escudo, que protegeu o então presidente ao longo de toda a pandemia da covid. Em troca, recebeu a chave do cofre."

Apesar disso, Lula teve de se submeter ao poder de Lira ao ser eleito presidente pela terceira vez. E chegou, inclusive, a declarar apoio e orientar sua bancada a votar pela reeleição do deputado, em 2023.

Mais alinhado à direita no espectro político, Lira manteve distanciamento seguro do bolsonarismo, o que lhe permitiu adotar, com naturalidade, uma postura incisiva contra os atos golpistas de 8 de janeiro. "Defendeu a estabilidade institucional, o diálogo entre as instituições e a democracia", afirma o professor Adriano Oliveira, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

Ao deixar o comando da Câmara, Lira perde poder, é claro, mas tem um futuro bem mais promissor que o de Cunha — que foi cassado e depois preso pela Lava Jato.

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Disposto a disputar uma vaga no Senado, em 2026, Lira ainda pode assumir um cargo no governo Lula — e sem qualquer compromisso com um eventual apoio à reeleição do presidente.

Nesta sexta (31), Lira e Cunha foram fotografados juntos na despedida do primeiro. À vontade na festa ocorrida na casa oficial de Lira, Cunha recebeu especial atenção de Hugo Motta (Republicanos), de quem se considera uma espécie de padrinho. "Ele aprendeu muito, conviveu com todo mundo", disse Cunha ao UOL.

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