Esplanada tem dúvidas e tensão enquanto espera reforma ministerial de Lula

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O clima é de apreensão e incerteza nos gabinetes da Esplanada dos Ministérios, à espera da reforma do presidente Lula (PT).
O que aconteceu
Sem saber se o chefe vai ou fica, servidores aguardam ansiosos. Fora as poucas pastas em que há garantia real de estabilidade, como a Fazenda de Fernando Haddad (PT), a Casa Civil de Rui Costa (PT) ou os Transportes de Renan Filho (MDB), os funcionários dizem não saber se terão ou não o cargo no dia seguinte —alguns deles já foram, inclusive, demitidos em reportagens da imprensa.
Nem no Ministério de Desenvolvimento e Indústria, do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o clima está tranquilo. Em busca de dois anos com mais governabilidade no Congresso e possíveis apoios para 2026, Lula pode fazer arranjos que mexam até no seu companheiro de chapa, apesar de seu trabalho de ministro no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços ser bem avaliado, principalmente pelo setor da indústria. Alckmin também sinaliza estar satisfeito no atual cargo.
No Planalto, dizem que nem o presidente tem ainda o desenho da reforma ministerial na cabeça. A garantia é que as mudanças só serão feitas depois de muitas conversas com a base e o centrão, principal alvo e requerente de novos cargos. Tudo depende, também, do que cada partido tem a oferecer.
Silêncio e tensão
Na Saúde, comissionados contam já ter chegado no trabalho diversas vezes sob a eminência de uma demissão. Por seu perfil técnico e pouco político, a ministra Nísia Trindade é alvo do centrão, ansioso pela pasta, desde o começo do governo. A Saúde concentra verbas de emendas e tem muita influência regional. Para parlamentares, isso precisa ser usado politicamente.
Mais pressão pelo ministério. Com resquícios da pandemia de covid-19 na memória, Lula segurou Nísia e sempre a respeitou, mas desta vez ela pode ser vítima do xadrez ministerial: sem querer entregar a pasta ao centrão, pode ser uma opção para o ministro Alexandre Padilha (PT), atualmente nas Relações Institucionais, que já a ocupou, ou para Alckmin, caso tenha de deixar o MDIC. Ambos são médicos.
No Ministério das Mulheres, fala-se em um "silêncio ensurdecedor". Cida Gonçalves (PT) também está na expectativa de deixar o cargo para abrigar Luciana Santos (PCdoB), hoje ministra de Ciência e Tecnologia, uma pasta vislumbrada pelo PSD, insatisfeito com o Ministério da Pesca.
Todos seguem "trabalhando normalmente", com viagem da comitiva marcada para Nova York em março, mas a ansiedade é palpável. Cida tem boa relação com Lula e com a primeira-dama Janja da Silva, que indicou a ex-chefe Maria Helena à secretaria-executiva, mas a ministra deve sair. Única dúvida que paira sobre a ida de Luciana para a pasta é que todo seu segundo escalão, com exceção de uma secretária, é formado por homens.
A Secretaria-Geral da Presidência, de Márcio Macêdo (PT), tem clima de despedida. Na semana passada, ele fez uma reunião para mostrar os resultados de dois anos de governo, o que foi encarado por servidores como um último ato, mas a assessoria informou ao UOL que a ação foi exatamente oposta: incentivar a equipe e mostrar plano estratégico para os próximos dois anos. Responsável pelo diálogo com movimentos sociais e amigo de Lula, o ministro é cotado a dar lugar à presidente petista, Gleisi Hoffmann.
Uma fala de Lula faz a diferença. O ministro Alexandre Silveira (PSD), de Minas e Energia, era dado como saída certa até o início do ano. O presidente, que tanto o elogiava, se mostrava insatisfeito com seu trabalho e a bancada do PSD no Senado não bancava sua estadia. Na última quarta (5), no entanto, o petista garantiu sua estadia publicamente em uma entrevista, com o aval, dizem, do presidente do partido, Gilberto Kassab.
No caso da Defesa, quem trouxe a tranquilidade foi o próprio ministro. José Múcio vem pedindo desligamento do cargo para Lula desde o ano passado. Ele se diz cansado, com vontade de voltar a morar em Pernambuco. De olho na relação com as Forças Armadas, o presidente tem resistido e o dissuadido, mesmo que esta seja uma pasta desejada por outras pessoas. Mais uma vez, deu certo: Múcio disse que fica pelo menos em 2025.
Nem quando nem como
Todo mundo chuta e ninguém sabe nada. São as frases mais repetidas por membros da cúpula do governo e por ministros do centrão. Lula, que gosta de tomar decisões demoradamente e depois de muitas conversas, tem dado poucas pistas do que irá fazer. A sinalização mais evidente foi para Gleisi, feita publicamente.
O presidente quer ter dois anos mais calmos. Com a troca das presidências do Congresso, o governo vê uma janela para melhorar as relações com o Parlamento e entende, como Lula não cansa de repetir publicamente, que atender a pedidos é parte crucial disso, em especial para o centrão, que domina as duas Casas.
Há muita gente de olho. O PSD tem se mostrado insatisfeito com a Pesca, de André de Paula, por considerá-la pequena, e explicitado o interesse por ministérios mais robustos, sob o argumento de que os outros dois partidos do centrão que hoje compõem o governo (MDB e União Brasil) têm essa força.
Lula também considera encaixar os ex-presidentes da Câmara e do Senado, mas o xadrez é complicado. O senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), virtual candidato do governo em Minas Gerais (para que o PT tenha um bom palanque), tem podido escolher: indicou que não quer Minas e Energia, por exemplo. Opções para ele seriam o MDIC de Alckmin ou Justiça, mas isso dependeria de uma boa vontade de Ricardo Lewandowski, a quem o presidente respeita e não tiraria a contragosto.
O deputado Arthur Lira (PP-AL) indicou que ficaria satisfeito com Agricultura. Com consciência de que não terá o PP ao seu lado em 2026, trazer Lira mais para perto seria uma jogada para garantir uma relação menos conturbada com a Câmara, onde Lira ainda tem grande influência. O porém é que o presidente gosta do ministro Carlos Fávaro (PSD) e esta é a maior pasta que o partido ocupa —para tirá-lo dali, teria de oferecer algo melhor.
Reforma sai nos próximos meses. As conversas e negociações já ocorrem desde o final do ano passado e a mudança deve ocorrer "em breve", indicam aliados, que não arriscam a cravar uma data, só pontuam que Lula quer chegar a 2026 com uma equipe alinhada, o que torna as mudanças mais urgentes.
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