8/1: PL usa família de preso para pressionar Motta e Alcolumbre por anistia

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O bolsonarismo colocou em curso a estratégia de humanizar os presos do 8 de Janeiro para tentar obter apoio da população para a anistia.
O que aconteceu
Parlamentares bolsonaristas levaram ao Congresso uma mulher de detento que é de Rondônia e é mãe de seis filhos. As crianças estavam junto dela, e a família foi a estrela principal de uma entrevista convocada pela oposição para defender a anistia.
Vanessa Vieira chorou ao falar. Ela disse que foi condenada a criar os filhos sozinha e que os filhos foram condenados a crescer sem o pai. De acordo com Vanessa, não há vídeos, fotos, teste de DNA nem outra prova contra o marido. Mesmo assim, houve condenação a 14 anos de prisão.
Ezequiel Ferreira Luis foi condenado por depredar o Palácio do Planalto. A sentença judicial acrescenta que o detento entrou no local com uso de violência. Sua condenação abrange associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e dano qualificado pela violência e grave ameaça, com emprego de substância inflamável.
A mulher falou que o marido é inocente e foi condenado por "ser curioso". Vanessa citou os filhos várias vezes e voltou a chorar quando afirmou que as crianças viverão sem o pai. Ela citou o bebê de dez meses que não conhece o "colo do pai".
Jair Bolsonaro (PL) também participou desta instrumentalização do sentimentalismo. Ele postou um vídeo da mulher com os filhos. A esposa do preso aparecia alimentando as crianças e houve cuidado na captação das imagens para mostrar o momento em que ela dava de comer ao filho bebê.
O ex-presidente decidiu não participar do ato desta terça-feira. O entendimento é que a presença dele levaria a uma politização ainda maior do tema e maior dificuldade de aprovação da anistia. Bolsonaro alega que não se beneficiará da proposta, mas a afirmação não convence a esquerda.
O UOL apurou que a intenção dos bolsonaristas é causar comoção na sociedade. A reação esperada é que a população aceite argumentos como o de que as penas são excessivas e de que os presos nunca tentaram um golpe de Estado - narrativa que contraria o fato de terem depredado as sedes dos três Poderes.

Hugo Motta pisca para anistia
Empossado presidente da Câmara em 1º de fevereiro, Hugo Motta (Republicanos-PB) tem dado declarações simpáticas ao bolsonarismo. Durante entrevista na última sexta, afirmou que as punições são excessivas. Ainda disse que no 8 de Janeiro ocorreu vandalismo e não tentativa de golpe.
As falas coincidem com a narrativa bolsonarista e incomodaram a esquerda e o STF. Parlamentares descontentes lembraram que Hugo ergueu a Constituição e defendeu a democracia no seu discurso de posse. No entender de deputados do PT, há contradição entre esta atitude e passar pano para quem destrói os prédios do Congresso, Planalto e STF para reverter o resultado da eleição.
Motta agradou os bolsonaristas em outro momento, quando se alinhou a mudanças na Lei da Ficha Limpa. O deputado Bibo Nunes (PL-RS) elaborou um projeto que reduz para dois anos o tempo de proibição de disputar eleições para condenados por crimes —hoje esse prazo é de oito anos.
Caso aprovada, a proposta coloca Bolsonaro de novo na corrida presidencial. Motta declarou que oito anos é um período excessivo. A força-tarefa para livrar o ex-presidente e os presos do 8 de Janeiro coincidem com os posicionamentos do começo de mandato do presidente da Câmara.
Líder da oposição, o deputado Zucco (PL-RS) disse que "clama pela anistia". Ele disse que existe a intenção de colocar a família em contato com Hugo Motta.
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