Em 1 mês, Sidônio aposta em Lula tiktoker e falador, mas não evita gafes
O ministro Sidônio Palmeira completa um mês à frente da Secom (Secretaria de Comunicação) nesta sexta (14) com uma guinada nas redes sociais do presidente Lula (PT), que tem falado mais, mas sem conseguir segurar suas gafes.
O que aconteceu
Publicitário da campanha de 2022, Sidônio foi colocado no cargo para projetar melhor o governo. Preocupado com 2026, Lula queria chacoalhar a comunicação do governo e trocou Paulo Pimenta, sob a percepção de que os feitos não chegavam à população.
Sidônio chegou com autonomia e "visão de fora". Promoveu mudanças que pareciam improváveis na equipe, deu um ar mais publicitário e menos institucional às campanhas e estimulou o presidente a falar mais.
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Ainda não conseguiu, no entanto, segurar o presidente. Se o ministro gosta de falar que a melhor voz do governo é a de Lula, tem sido um desafio conter as gafes, como a do preço dos alimentos e as falas contra o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
Equipe tiktoker e mais falas
Sidônio chegou com a máxima de "levar o discurso do governo à ponta". Seu principal desafio, repete, é alinhar os feitos do governo, a expectativa sobre a gestão e a percepção da população, que não tem sido das melhores.
Para isso, mudou toda a equipe. Além da secretaria-executiva, tirou dois dos cargos que, antes, pareciam "imexíveis": José Chrispiniano, assessor do Lula há 14 anos, da Secretaria de Imprensa, e Brunna Rosa, nome da primeira-dama Janja da Silva, da Secretaria de Estratégia e Redes —com isso, promoveu mudanças na relação com a imprensa e nas redes sociais.
As redes ficaram mais "jovens". Lula passou a aparecer mais nos vídeos tanto em momentos de descontração (o que antes acontecia mais nas postagens do perfil particular de Janja) como em conversas no gabinete para promover ações do governo.
O presidente aparece geralmente relaxado, falando sem ler. Nos efeitos, bullets coloridas explicam a pauta, com música e cortes ágeis, típicas da rede social TikTok, que tanto se popularizou entre os mais jovens, distante da linguagem mais institucional adotada nos dois primeiros anos.
Lula também tem falado mais. A bateria de entrevistas a rádios do interior, algo que já acontecia sob Pimenta, voltou, estimulada pelo novo ministro, que insiste que o presidente tem de pautar os assuntos, não ser pautado por eles, como vinha ocorrendo.
Também há uma promessa de mais coletivas. Até então, o presidente só dava coletivas de imprensa fora de Brasília, geralmente em viagens internacionais, com exceção de três cafés da manhã no Palácio. Eventualmente, dava um quebra-queixo, jargão jornalístico para entrevistas não programadas em meio a pauta ou evento.
Agora, a promessa é de coletivas periódicas. Sidônio e Laércio Portela, novo Secretário de Imprensa, dizem avaliar que ele aparecendo mais —não menos— resolve mais os problemas do que cria.
Gafes não pararam
Não sempre essa máxima se mostra verdadeira. Sidônio tem aprendido a lidar na pele com a espontaneidade de Lula: diferentemente de peças publicitárias, as entrevistas são muito menos controladas e seguem descambando em gafes, em especial quando o petista está à vontade.
Se, nos últimos meses, Lula distribuiu broncas por problemas criados por ministros, nas últimas duas semanas a responsabilidade é dele. Em duas entrevistas, o presidente jogou gasolina em dois dos assuntos mais delicados para o governo atualmente: o preço dos alimentos e a exploração de petróleo na foz do Amazonas.
"Se todo mundo tiver a consciência e não comprar aquilo que acha que está caro, quem está vendendo vai ter de baixar para vender", disse o presidente, em entrevista na semana passada. A declaração rapidamente virou meme, comparando-o à rainha francesa Maria Antonieta, e serviu como um arsenal para críticas à população.
Nesta semana, o presidente abriu fogo contra a administração do Ibama. Lula acusou a instituição de "lenga-lenga" ao avaliar a possibilidade de extração de petróleo na costa do Amapá e praticamente pediu a demissão do presidente Rodrigo Agostinho ao vivo.
As falas foram mal avaliadas no governo e na Secom. Fome não só é a grande bandeira do governo como da história de Lula. Ao derrapar falando exatamente deste assunto, o petista perde poder de munição em um campo que domina.
Também foi visto como um tiro no pé falar assim do Ibama. Lula nunca escondeu que é a favor da exploração, mas, segundo aliados, uma coisa é apoiar a Petrobras, outra coisa é atacar o instituto. Ele acabou comparado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Membros do governo falam da dificuldade em controlar Lula. Segundo petistas, ninguém treina o presidente —mas Sidônio tem tentado. Na última coletiva com a imprensa, funcionou: ele tinha grande parte das respostas na língua. As últimas participações ao vivo, por outro lado, mostram que o publicitário tem um longo caminho a percorrer.