Carnaval: Políticos querem transporte 24 h e passe livre em SP, RJ e Olinda

O Carnaval se tornou objeto de diferentes propostas por parte de políticos de esquerda e movimentos sociais em 2025. Em comum, elas têm o objetivo de oferecer maior bem-estar para quem se diverte ou trabalha na festa.

O que aconteceu

Em São Paulo, vereadora quer transporte gratuito e 24 horas durante o Carnaval. Keit Lima (PSOL) indicou a adoção das medidas ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), que não tem prazo para decidir se acolhe ou não as recomendações. Na quinta (13), o prefeito disse que a tarifa zero só valerá no domingo (1º), como de praxe.

Quem é de bloquinho vai para o bloquinho. Quem não é de bloquinho vai para a igreja. Cada um decide, mas todos precisam de transporte público 24 horas.
Keit Lima (PSOL), vereadora em São Paulo

Transporte 24 h durante Lollapalooza justificaria medida no Carnaval. "Não faz sentido a gente ter um prefeito que libera transporte 24 h para um evento como o Lollapalooza, que é para a elite, e não libera para o Carnaval, evento que a maioria dos moradores da cidade de São Paulo festeja", afirma ela.

No Rio, deputada estadual quer passe livre durante a folia. Dani Monteiro (PSOL) recomendou a medida ao governador Claudio Castro (PL), que não tem prazo para decidir sobre a adoção ou não. Dani mantém diálogo com colegas da base na Assembleia Legislativa do Rio para "destravar o debate no palácio" sobre o tema.

Com transporte gratuito, haverá mais gente circulando e consumindo, o que aumenta a arrecadação do estado. Assim como os bailes funk, o Carnaval é uma fonte de renda para várias famílias. Além disso, ter mais ônibus na rua e estações abertas reduz deslocamentos e o risco de assaltos e outros problemas.
Dani Monteiro (PSOL), deputada estadual no Rio

Procurado pelo UOL, o governo do estado do Rio não retornou os contatos.

Em Olinda (PE), vereadora quer distribuição de EPIs a trabalhadores cadastrados pela prefeitura. A proposta de Eugênia Lima (PT) também depende do aval da prefeita, Mirella Almeida (PSD), para ser implantada. A ideia é que camelôs, catadores e outros trabalhadores recebam equipamentos de proteção individual.

Além de indicação, Eugênia protocolou projeto de lei com a mesma proposta na Câmara Municipal. Ela espera que o texto seja aprovado com unanimidade e passe a valer em 2026. Além da distribuição de EPIs, o projeto prevê que a patrocinadora do Carnaval ofereça cursos àqueles que trabalham durante a festa.

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Os cursos abordariam temas como vigilância sanitária, administração de negócios e outros assuntos a serem definidos pela prefeitura. Olinda tem hoje um Carnaval desorganizado em termos de segurança para quem trabalha na festa, e essas iniciativas seriam uma contrapartida social de quem lucra com a folia.
Eugênia Lima (PT), vereadora em Olinda (PE)

"Não existe obrigatoriedade para o fornecimento desse tipo de material por empresas privadas", afirma Prefeitura de Olinda. Em nota, o órgão informou que recebeu a sugestão e encaminhou para análise. O município reforçou "a sensibilidade com o cuidado, a segurança e o bem-estar" dos trabalhadores.

"O carnaval exige uma infraestrutura especial por ser uma festa especial", diz especialista. Para o professor da UFBA e pesquisador do direito ao carnaval Guilherme Varella, propostas são "fundamentais" em função do grande número de foliões nas ruas e do impacto da folia para trabalhadores de baixa renda.

Luta por tarifa zero no Carnaval virou tendência

Em 2024, vereadores de São Paulo pediram tarifa zero para ônibus e metrô durante o carnaval. Ambos do PSOL, Toninho Vespoli e Elaine do Quilombo Periférico fizeram as solicitações a Nunes e ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que não atenderam aos pedidos.

Florianópolis também teve pedido frustrado no ano passado. Feita pela vereadora Carla Ayres (PT), a sugestão de que a tarifa de ônibus não fosse cobrada entre as 12h da sexta-feira de Carnaval e as 12h da Quarta-feira de Cinzas não foi acatada pelo prefeito Topázio (PSD).

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Situação se repetiu em Belo Horizonte. A deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL) propôs tarifa zero para ônibus durante o carnaval de 2024 na região metropolitana da capital mineira, mas o prefeito Fuad Noman (PSD) afirmou que a cidade não tinha orçamento para bancar a medida.

Palmas teve passe livre na última folia. Em 2024, a prefeitura liberou as catracas entre o sábado de Carnaval e a terça-feira gorda. Além de blocos, a programação da festa na cidade naquele ano contava com eventos religiosos. Ainda não há informações sobre como será a operação em 2025.

Projetos ligados ao Carnaval aguardam votação na Alesp. Um deles, de Mauro Bragato (PSDB), transforma a terça-feira gorda em feriado. Outro, de Teonilio Barba (PT), institui feriado bancário na Quarta de Cinzas. Hoje, a legislação federal estabelece ponto facultativo entre segunda-feira de Carnaval e a Quarta de Cinzas.

Blocos de SP lutam por distribuição de água

Movimento As águas vão rolar encaminhou carta ao prefeito em janeiro. O texto reúne várias reivindicações, como a criação de um gabinete de crise voltado para questões climáticas durante o Carnaval e a flexibilização dos horários dos desfiles em função de chuva ou calor.

Prefeitura afirma que tem "plano de emergência para situações de chuvas intensas". O documento foi elaborado pela SPTuris, que informou também estar em diálogo com a Sabesp para viabilizar a distribuição de água aos foliões dos blocos de rua, por causa das "altas temperaturas previstas para o período".

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Oferta de água a preços acessíveis pelos vendedores ambulantes é outra bandeira. Hoje, os preços são fixados pela Ambev, que é a patrocinadora do Carnaval em SP. Segundo os responsáveis pelos blocos, em muitos casos, a água é vendida por preços iguais ou maiores do que os verificados para bebidas alcoólicas —o que a Ambev nega.

Seja no Carnaval ou em qualquer outro momento de celebração, os valores sugeridos aos ambulantes para a venda de água são menores do que as bebidas alcoólicas
Ambev, em nota ao UOL

Procurada pela reportagem, a Sabesp não se manifestou.

A propaganda da prefeitura diz que São Paulo tem 'o maior Carnaval de rua do Brasil'. Mas como podemos ter o maior Carnaval de rua sem estrutura para os blocos? Precisamos de mais suporte e mais infraestrutura.
Rodrigo Jesus, coordenador de Justiça Climática do Greenpeace e organizador da campanha As águas vão rolar

"A interlocução com a prefeitura avança a passos lentos", afirma Jesus. Os blocos têm tido reuniões com a SPTuris e as subprefeituras. Mas não está certo se haverá infraestrutura instalada no fim de semana de 21 e 22 —quando acontece o pré-Carnaval. "Não sabemos qual é o plano da prefeitura", diz.

Morte de fã em show de Taylor Swift inspirou movimento. Em 17 de novembro de 2023, Ana Clara Benevides morreu de exaustão térmica durante apresentação da cantora norte-americana no Rio. Os organizadores proibiram que o público entrasse com água. No ano seguinte, os blocos paulistanos criaram o movimento As águas vão rolar.

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