Bolsonaro adotou tom de ruptura em 2021 após absolvição de Lula, diz PGR

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passou a adotar "crescente tom de ruptura com a normalidade institucional" a partir de 2021, segundo a denúncia apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da República) nesta terça-feira (18).

O que aconteceu

Discurso "ganhou impulso mais notável" após anulação das condenações criminais de Lula, diz a PGR. A decisão do STF em março de 2021 tornou também o petista elegível. Segundo a denúncia da PGR, Bolsonaro começou a fazer pronunciamentos em que se "mostrava descontente com decisões de tribunais superiores e com o sistema eleitoral eletrônico".

A PGR aponta que dias após a decisão do STF, em 22 de março, grupo criou plano de contingenciamento e fuga para Bolsonaro. "O grupo de apoio do então Presidente da República, que formará o núcleo da organização criminosa, cogitou de o Presidente abertamente passar a afrontar e a desobedecer a decisões do Supremo Tribunal Federal, chegando a criar plano de contingenciamento e fuga de Bolsonaro, se a ousadia não viesse a ser tolerada pelos militares", diz trecho da denúncia.

Resultados das pesquisas eleitorais em 2021 teriam feito núcleo suspeito começar a articular plano golpista. "O grupo registrou a ideia de "estabelecer um discurso sobre as urnas eletrônica e votações" e de replicar essa narrativa "novamente e constantemente", a fim de deslegitimar possível resultado eleitoral que lhe fosse desfavorável", afirma a PGR.

O plano entrou em prática, segundo a PGR, a partir de julho de 2021 em uma live de Bolsonaro. O ex-presidente adotou um discurso mais agressivo, com ataques diretos aos poderes e autoridades, diz a denúncia.

A denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, inclui Bolsonaro e outras 33 pessoas. Entre elas, o candidato a vice em 2022, o general Braga Netto, e os ex-ministros Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), Anderson Torres (Justiça) e Augusto Heleno (GSI). Eles negam as acusações.

De acordo com o projeto traçado, seriam presos agentes públicos que executassem as ordens judiciais que fossem desautorizadas pelo Executivo, tornando nítido o ataque ao livre exercício dos poderes constitucionais.
Trecho de denúncia da PGR contra Bolsonaro

7 de setembro de 2021

Gonet cita o ato do 7 de Setembro em São Paulo, quando Bolsonaro chamou Moraes de canalha. Na ocasião, o então presidente da República disse que não respeitaria nenhuma decisão do ministro. "Ou esse ministro se enquadra, ou ele pede para sair. Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser canalha", afirmou, na época.

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O procurador-geral classificou o xingamento contra Moraes como palavras "viperinas". "As investigações da Polícia Federal revelaram que o pronunciamento não era mero arroubo impensado e inconsequente", diz a denúncia.

Com a proximidade das eleições, o foco da organização se volta para as urnas eletrônicas. Passa-se a buscar qualquer subterfúgio para lançar o sistema eletrônico de votação e apuração de votos ao descrédito popular.
Denúncia da Procuradoria-Geral da República

Em nota, defesa de Bolsonaro chama denúncia de inepta e diz que recebeu notícia com indignação. "A inepta denúncia chega ao cúmulo de lhe atribuir participação em planos contraditórios entre si e baseada numa única delação premiada, diversas vezes alteradas, por um delator que questiona a sua própria voluntariedade", diz o texto.

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