Bolsonaro quis vender joias para pagar indenização a Rosário (PT), diz Cid

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mandou seu ajudante de ordens, Mauro Cid, vender joias que recebeu de presentes de outras autoridades após se irritar com valores que ele teria de pagar, segundo delação do próprio Cid.

O que aconteceu

Bolsonaro tinha sido condenado a pagar uma indenização à deputada Maria do Rosário (PT-RS) em 2019. Segundo delatou Cid, o então presidente teria solicitado, no começo de 2022, a venda dos itens de luxo após se irritar com o fato de responder ainda a outro processo movido pela deputada. Bolsonaro foi condenado na área cível por ter afirmado, em 2014, quando era deputado federal, que Rosário não merecia ser estuprada.

Deputada também denunciou ele na esfera penal. Este processo, porém, ficou suspenso no período em que Bolsonaro era presidente devido à imunidade do cargo e voltou a tramitar em 2023. O caso, porém, acabou arquivado naquele ano após a Justiça entender que a acusação havia prescrito — isto é, já havia estourado o prazo limite que a Justiça tem para condenar Bolsonaro por este fato.

Multas de trânsito em motociatas também irritaram Bolsonaro. Na mesma delação, Cid afirmou que o dinheiro da venda das joias seria para o ex-presidente pagar as multas de trânsito que estava recebendo por participar de motociatas sem capacete e os gastos que teria de arcar com o transporte de presentes que havia incorporado acervo presidencial.

Relato consta na delação de Mauro Cid sobre venda de joias da Presidência. O ministro do STF, Alexandre de Moraes, levantou o sigilo da colaboração premiada do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Ele depôs à PF em 28 de agosto de 2023 sobre o tema.

Delator relata que considerou mais fácil vender os relógios de luxo que Bolsonaro havia recebido. Cid, então, teria levantado junto ao Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH) a relação dos relógios recebidos por Bolsonaro, e o ex-presidente autorizou a venda de um rolex e um kit de joias recebidos pelo ex-presidente durante uma viagem à Arábia Saudita em 2019.

Relógio foi vendido nos EUA e depois recomprado para ser devolvido ao TCU. Episódio foi citado no relatório final da PF na investigação sobre o desvio de joias recebidas por Bolsonaro. Para a PF, a venda desse e de outros itens de luxo tinha como objetivo de custear estadia de Bolsonaro nos EUA após a derrota nas eleições de 2022.

O que diz a defesa de Bolsonaro

O UOL procurou a defesa de Bolsonaro para se manifestar sobre a delação de Cid. Se houver resposta, o texto será atualizado. Ontem (19), os advogados do ex-presidente afirmaram que a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) é "precária e incoerente" e que não foram encontradas provas que o ligassem aos crimes mencionados na acusação.

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O caso das joias

PGR ainda analisa caso das joias para decidir sobre denúncia. A PF concluiu investigação em julho do ano passado, mas o procurador-geral da República, Paulo Gonet, priorizou apresentar as denúncias contra o ex-presidente e outras 33 pessoas por tentativa de golpe de Estado antes.

Denúncias foram protocoladas na noite de ontem no STF, e agora as defesas dos investigados devem se manifestar. Só depois disso é que o Supremo vai decidir se recebe ou não a denúncia e se abre uma ação penal, tornando Bolsonaro e outros investigados réus.

Trechos da delação de Cid

QUE no começo de 2022, o presidente JAIR BOLSONARO estava reclamando dos pagamentos de condenação judicial em litígio com a Deputada Federal MARIA DO ROSARIO e gastos com mudanças e transporte do acervo que deveria arcar, além de multas de trânsito por não usar o capacete nas motociatas; QUE diante disso, o ex-Presidente solicitou ao COLABORADOR quais presentes de alto valor que havia recebido em razão do cargo.

QUE o COLABORADOR verificou que os presentes mais fáceis de mensurar o valor seriam os relógios, e solicitou ao GADH a lista de relógios que o presidente recebeu de presente; QUE avisou ao então Presidente que o relógio que poderia ser vendido de forma mais rápida seria o Rolex de ouro branco presenteado pela Arábia Saudita em 2019; Que o presidente perguntou se esse relógio poderia ser vendido: QUE recebeu determinação do presidente para levantar o valor do relógio ROLEX para venda; QUE o ex-presidente autorizou o COLABORADOR a vender o relógio ROLEX e os demais Itens do kit.
Trecho do depoimento da delação de Mauro Cid à PF

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