Braga Netto cogitou bancar trama golpista com dinheiro do PL, disse Cid
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Em delação, o tenente-coronel e ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cid, afirmou que o general Braga Netto sugeriu que ele pedisse dinheiro do PL para avançar nas ações da trama golpista.
O que aconteceu
Cid afirmou que, em uma reunião entre ele, Braga Netto e os coronéis Oliveira e Ferreira Lima, foi discutida a necessidade de ações para mobilizar a população e gerar "caos social". "Permitindo, assim, que o presidente assinasse o estado de defesa, estado de sítio ou algo semelhante", segundo a delação.
Dois dias após a reunião, Oliveira entrou em contato com Cid pedindo dinheiro para realizar as operações discutidas com Braga Netto. Com isso, o ex-ajudante de ordens procurou o general para falar do pedido de dinheiro, recebendo como resposta que era para procurar o PL para obter a quantia necessária para as ações.
No mesmo dia, Cid recebeu de Oliveira um arquivo chamado "Copa 2022", que detalhava a logística e os gastos da operação. Cid afirma que não lembra a senha, tendo acessado o arquivo somente uma vez.
O documento foi impresso e entregue a um dirigente do partido - Cid afirmou não se lembrar se era tesoureiro ou ordenador de despesa. No documento, constavam valores de deslocamento aéreo, locomoção terrestre e alimentação. Contudo, o dirigente do partido afirmou à Cid que não poderia utilizar dinheiro do partido para essa operação.
Com a negativa, Braga Netto afirmou que daria um "jeito". "O partido não podia trazer manifestantes ou apoiar com esse tipo de material. Voltei no general Braga Netto e ele falou: 'Vou dar um jeito, vou seguir por outros caminhos'", disse Cid na delação.
À Polícia Federal, Cid afirmou que o Braga Netto disse aos militares que o dinheiro "havia sido obtido junto ao pessoal do agronegócio". "O general Braga Netto entregou o dinheiro que havia sido solicitado para a realização da operação. O dinheiro foi entregue numa sacola de vinho. O general Braga Netto afirmou à época que o dinheiro havia sido obtido junto ao pessoal do agronegócio", disse ele, em depoimento à corporação em 21 de novembro de 2024.
Defesa de Braga Netto critica denúncia
Braga Netto, que está preso há mais de dois meses, é um dos 34 denunciados pela PGR por tentativa de golpe. O advogado dele, José Luís de Oliveira, disse que o general foi ignorado pela Justiça e alega que o militar não pôde dar sua versão sobre o caso.
Estou com a denúncia aqui e não vejo uma linha sobre direito de defesa. Aliás, a PGR e a polícia esqueceram o que é direito de defesa. Em um caso dessa magnitude, envolvendo um presidente da República, um general de quatro estrelas [Braga Netto] e outras pessoas, meu cliente não foi ouvido.
Pedi ao Ministério Público, à polícia e a um ministro do STF para que meu cliente, que estava sendo investigado, fosse ouvido. Nada; nenhuma palavra sobre isso. Nenhuma manifestação sobre ouvir o outro lado, que me parece ser o básico. É preciso ter cuidado.
Ao UOL News, Oliveira questionou o depoimento de Mauro Cid. Defesa chamou de fantasiosa afirmação de que Braga Netto teria entregue a um "kid preto" uma sacola com dinheiro. Essa quantia seria usada para cobrir gastos com ações para a tentativa de golpe de Estado.
Essa denúncia é fantasiosa, fruto de uma criatividade intelectual do Ministério Público. Ela não manchará a reputação de um general de quatro estrelas com mais de 40 anos de serviços prestados ao Exército brasileiro.
José Luís de Oliveira, advogado de Braga Netto
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