PRF pedia para ir às motociatas de Bolsonaro em rodovias estaduais, diz Cid

O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro Mauro Cid afirmou em depoimento de sua colaboração premiada que a PRF (Polícia Rodoviária Federal) queria estar em todos os grandes eventos e motociatas promovidos pelo então presidente e seus aliados. Segundo Cid, essa presença da PRF chegava a criar problemas na equipe de segurança do presidente.

O que aconteceu

O ministro do STF Alexandre de Moraes levantou sigilo da colaboração premiada de Cid. Em 28 de agosto de 2023, o delator depôs aos investigadores da PF sobre a atuação da PRF no segundo turno das eleições de 2022. Cid disse nunca ter presenciado uma ordem de Bolsonaro ao então diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, mas relatou que os dois eram próximos e que Silvinei, sempre que podia, participava dos eventos do então presidente e tirava fotos.

Questionado sobre a atuação irregular da PRF, Cid relatou que a corporação fazia questão de estar presente em eventos políticos do ex-presidente. Segundo ele, mesmo quando motociatas ocorriam em rodovias estaduais, que estão fora da jurisdição da PRF, a corporação pedia para acompanhar. Tal situação acabava gerando transtornos com a equipe de segurança, mas segundo o delator, Bolsonaro falava para deixarem a equipe da PRF atuar.

Indagado se sabe dizer alguma coisa dessas ações que a Polícia Rodoviária Federal estava tendo fora das suas atribuições constitucionais, respondeu que principalmente quando tinha uma motociata, tinha algum evento grande do ex-presidente, era que a PRF sempre queria estar no evento, mesmo que não fosse do local deles, tipo uma rodovia estadual, por exemplo; que quando ia ter uma motociata, a PRF queria estar também naquela rodovia estadual; que às vezes criava problemas junto com a segurança; que às vezes chegava [sic] pelo presidente os pedidos da PRF; que pediam para o ex-presidente, e o presidente dizia: "Não. Resolve lá. Deixa os caras participarem
Trecho da delação premiada de Mauro Cid à PF

Eleitores denunciaram atuação em 2022

A atuação da PRF em 2022 é citada na denúncia da PGR contra Bolsonaro. A corporação se mobilizou antes e durante o segundo turno das eleições, com criação de grupos de mensagens paralelos no Whatsapp para definir estratégias para favorecer Bolsonaro e levantar informações sobre a votação de Bolsonaro e Lula em diferentes regiões.

Naquele ano, a corporação intensificou de forma desproporcional as operações de fiscalização no nordeste no segundo turno. A iniciativa foi suspensa após o então presidente do TSE, Alexandre de Moraes, intimar pessoalmente Silvinei Vasques e ameaçar prendê-lo.

As diretrizes manifestamente ilícitas construídas pelos denunciados foram acolhidas por Silvinei Vasques, que direcionou
os recursos da Polícia Rodoviária Federal para o objetivo de inviabilizar ilicitamente que Jair Bolsonaro perdesse o poder

Trecho da denúncia da PGR contra Jair Bolsonaro

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