Lula deve trocar Padilha por outro nome do PT por falta de opção ao centro

A Secretaria de Relações Institucionais, responsável pela articulação do governo Lula (PT) com o Congresso, deve seguir sob o comando petista após a provável saída do ministro Alexandre Padilha.

O que aconteceu

Aliados dizem que isso se dá tanto por questão de confiança quanto por falta de nomes. Embora o presidente queira alguém próximo, com uma ligação forte como a que tem com Padilha, poderia aceitar boas opções do centrão —desde que isso garantisse governabilidade—, mas não aparecem candidatos considerados ideais.

No Congresso, se fala em esvaziamento da pasta. Padilha, que não se dava bem com o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), foi muitas vezes desautorizado pelo próprio governo e acabou não entregando o que prometia a parlamentares, o que desencoraja novos postulantes.

A escolha esbarra, ainda, na eleição do PT. Alguns nomes da base e do partido despontam, entre eles, o do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). O problema é que ele também é um candidato forte do Nordeste para presidir a legenda.

Padilha deve ir para o Ministério da Saúde. Depois de muito segurar a ministra Nísia Trindade na pasta mais cobiçada pelo centrão, Lula deverá colocar um político —médico, que já geriu o ministério antes- para dar mais vazão e melhor interlocução às emendas parlamentares.

Passa ou repassa

Desde que a troca de Padilha começou a ser ventilada, diversos nomes surgiram. O grupo petista exige que a pasta siga na legenda, enquanto o centrão diz que o Planalto já é muito petista e que "faria bem" dar uma "circulada". Hoje, três das quatro pastas com contato mais estreito com Lula, como a SRI, estão com o PT. As outras são a Casa Civil, sob o comando de Rui Costa, e a Secretaria Geral da Presidência, com Marcio Macedo.

Lula prefere um nome próximo. Locada no quarto andar do Planalto, a SRI tem acesso rápido, direto e diário ao gabinete do presidente, no terceiro andar, o que facilita se o ministro tiver uma relação próxima (e com pensamento parecido) com o chefe.

Atualmente, despontam os líderes do partido, mas há variantes. Guimarães tem como prós ter a confiança de Lula e uma boa entrada com todo o centrão —tanto que, nos dois primeiros anos de governo, era chamado maldosamente por petistas de "homem de Lira no Planalto". Também se dá bem com o atual mandatário, Hugo Motta (Republicanos-PB).

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Teve até aniversário em clima de despedida. Na semana passada, Guimarães comemorou mais um ano de vida em um bar no Setor de Clubes de Brasília, reunindo parlamentares do PT, PSOL, PCdoB, PSB, PDT e figuras do centrão, como o líder do PP na Câmara, Doutor Luizinho, e o prefeito de Maceió, JHC (PL). Entre os convidados, o clima do convescote era também de despedida do colega de Câmara.

Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado, também está cotado. Amigo de longa data de Lula e considerado uma das poucas pessoas que "mandam a real" para o presidente, ele tem respeito e entrada até na oposição, além de ser um dos políticos mais experientes do Congresso. Aliados apontam, no entanto, que seria melhor alguém da Câmara, onde o governo tem mais dificuldade.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, chegou a ser cotada para o posto. Fiel a Lula, ela teve seu nome prontamente rejeitado pelo centrão pela forma aguerrida com que defende o partido e o presidente desde os anos da Java Jato. Gleisi deve ir para a Secretaria-Geral da Presidência, no lugar de Márcio Macêdo.

Ninguém quer casar

Não é só uma questão de preferência de Lula. Aliados dizem que a pasta, por mais destaque que tenha, não tem sido alvo de tanta disputa assim.

O ponto é que, neste momento, ninguém quer "casar" com o governo. Com a popularidade mais baixa dos três mandatos e sem sinal de melhora na inflação dos alimentos, nenhum dos principais partidos ao centro, que poderiam garantir a governabilidade mais tranquila, quer assumir um elo tão forte com Lula agora.

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É diferente de pastas menores, dizem interlocutores. MDB, PSD e União Brasil têm três ministérios, ao passo que Republicanos e PP, legendas com alto índice de bolsonaristas, têm um. Todos querem mais, mas a SRI é vista como um compromisso além.

A leitura é que, nessa pasta, o tempo para uma possível desvinculação do PT em 2026 é muito curto. Uma coisa seria o Republicanos desembarcar do Ministério de Portos e Aeroportos para lançar candidatura própria ou apoiar alguém à direita. Outra seria deixar a cozinha do Palácio —mesmo que o ministro Silvio Costa Filho ou o presidente da legenda, Marcos Pereira, sejam nomes que agradam Lula.

União Brasil e PSD, mais próximos ao governo, têm cálculo parecido. O PP, por sua vez, tem opositores demais para ser parte da base. Mesmo que o governo nomeie Lira, especulado para a Agricultura, o Planalto sabe que o PP estará no lado rival em 2026, o que dificulta colocar um nome do partido na pasta. A exceção seria o presidente da sigla, o ex-lulista e hoje bolsonarista Ciro Nogueira. Mas ele mesmo garante que isso nunca aconteceria.

Há algumas opções. De olho em mais acesso ao presidente e no comando de emendas, o líder do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), e o líder da maioria no Congresso, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), foram os nomes aventados para substituir Padilha. Em meio às especulações sobre a ida de um deles para o Executivo, os parlamentares brincam chamando um ao outro de "ministro". Ribeiro já foi chefe das Cidades no governo Dilma Rousseff.

Mas também há limitações. Dar mais um ministério ao MDB seria um problema. O partido, um dos três do centrão com três ministérios cada, já é considerado pelos pares como o que tem as melhores pastas (Cidades, Transporte e Planejamento), e nenhum de seus ministros deve ser trocado. Criar essa desproporção seria abrir um novo flanco de combate com o PSD e o União Brasil.

Aliados de Lula enxergam um futuro diferente para Bulhões e Ribeiro e dizem que um deles pode assumir a liderança de governo na Câmara. Interlocutores de Ribeiro disseram ao UOL que o deputado só aceitaria a missão se pudesse ter um canal direto com o Lula. O presidente adotou uma postura mais reservada no terceiro mandato e é constantemente alvo de críticas por não receber parlamentares como fazia nos primeiros mandatos.

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Dentre os dois, o favorito para assumir o posto é Bulhões, que tem bom trânsito com o governo e é um dos conselheiros de Motta. A relação próxima com o presidente da Câmara poderia facilitar as articulações na Casa.

Fragilizado pela falta de poder

O problema da Secretaria de Relações Institucionais não é o ministro, mas a falta de poder. Essa é a avaliação de deputados sobre os motivos do desgaste de Padilha à frente da pasta.

A queixa é de que ele fechava acordos que depois eram desautorizados pelo Planalto. A análise é compartilhada por parlamentares de todos os campos políticos, incluindo petistas.

Um deputado relatou uma situação que ilustra o esvaziamento de poder do cargo. Integrante do centrão, ele viu uma emenda em benefício da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) ser aprovada e nunca paga.

Ele recorreu a Padilha e ouviu a promessa de que o recurso seria desembolsado, o que não aconteceu. Procurou o Ministério da Educação e foi orientado a conversar com a SRI, o que ele fez, apesar de o pedido já ter se provado inútil no passado. A emenda só foi liberada depois que o deputado pediu a Lira, ainda presidente da Câmara, que intercedesse. Depois desse episódio, o parlamentar contou que descartou Padilha e passou a encaminhar suas demandas à Mesa Diretora da Câmara.

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Situações como essa esvaziaram a confiança de deputados em Padilha. Outra consequência da falta de poder do ministro foram as tentativas de passarem por cima dele.

Mais de uma vez, deputados manifestaram vontade de falar diretamente com Lula. Presidente da Câmara até fevereiro, Lira disse que sentia falta dos churrascos que Lula faziam com parlamentares nos mandatos anteriores. Lira também reclamou de intrigas internas no Palácio do Planalto, dizendo que todos saem perdendo quando o "governo machuca o governo".

Na Câmara, a simples troca de nome não é vista como solução. A avaliação é que o substituto de Padilha estará igualmente queimado já no segundo semestre, se não tiver poder de cumprir os acordos.

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