Celebrar decadência óbvia de Bolsonaro pode ser uma ilusão, diz historiador

É enganoso pensar que a força política da direita cai conforme se aproxima o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no STF (Supremo Tribunal Federal), avaliou o escritor e historiador João Cezar de Castro Rocha em entrevista ao UOL News nesta segunda.

Embora o ato realizado ontem pelo ex-presidente tenha reunido um público muito abaixo do esperado, Castro alerta que isso não significa dizer que o bolsonarismo e a extrema direita estejam enfraquecidos.

O campo progressista tem que ter muito cuidado ao 'celebrar' o evidente declínio do Bolsonaro. Cada vez mais o bolsonarismo só sobreviverá caso se associe às pautas da teologia do domínio de certas denominações evangélicas. Se no passado o bolsonarismo era o carro-chefe que trazia votos, ele cada vez mais estará dependente de outras forças.

'Celebrar' a decadência óbvia do bolsonarismo pode ser uma ilusão. O desaparecimento ou o esmaecimento da figura do Bolsonaro da cena política permitirá à direita e à extrema direita um movimento novo, que pode ser muito positivo para elas a médio e longo prazo: libertar-se da tutela do Bolsonaro.

Bolsonaro é absolutamente um político devorador de todos os outros. Não tem consideração por ninguém que esteja próximo a ele e que não seja ele ou a própria família. O campo político que foi mais prejudicado no Brasil pela exuberância do bolsonarismo entre 2018 e 2021 foi o da direita, o do conservadorismo.

Eles foram canibalizados pela extrema direita bolsonarista e praticamente desapareceram. Com o enfraquecimento da figura do Bolsonaro, a tendência é que a direita e o conservadorismo se fortaleçam, porque estarão livres do ímã Jair Messias Bolsonaro. João Cezar de Castro Rocha, escritor e historiador

Para Rocha, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) desponta como o principal nome da direita, cujo projeto político para 2026 reside em fortalecer sua presença no Senado.

Tarcísio se comportou da maneira como precisa fazer. Ele continuará afirmando até os 45 minutos do segundo tempo que o presidente será Bolsonaro. Ele o faz porque é a maneira mais segura de herdar os espólios do Bolsonaro. Mas ainda tenha dúvidas se Tarcísio arriscará nas eleições de 2026 abrindo mão da reeleição em São Paulo, que parece muito certa para ele. Ele só o fará se houver indícios muito claros de uma decadência real do governo Lula.

Nesse sentido, o verdadeiro projeto da extrema direita para o país em 2026 é dominar o Senado e começar um processo a médio prazo para sujeitar o Judiciário. É assim que o Viktor Orbán fez na Hungria e Donald Trump fez na Suprema Corte americana e agora está tentando reforçar com juízes federais nos EUA.

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A longo prazo, por enquanto não tenho dúvida. O nome mais importante e que terá destaque é o de Nikolas Ferreira. Ele é uma síntese inesperada de fatores que estiveram em lados opostos na política brasileira recente. É a junção de olavismo com teologia do domínio, política dos morais e conservadorismo; uma espécie de mar para o qual todos esses afluentes convergem. Além disso, Nikolas domina profundamente toda a retórica necessária para falar com públicos diversos.

O nome realmente a se prestar atenção na direita brasileira é o de Nikolas. Tarcísio é muito mais um desejo da elite brasileira do que realmente uma vontade popular. Nikolas conjugará ambos. João Cezar de Castro Rocha, escritor e historiador

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