Padre Júlio discute com vice sobre moradores de rua: 'Não faço desserviço'

Dias após culpar o padre Júlio Lancelotti pela concentração de dependentes químicos no bairro do Belém, o vice-prefeito de São Paulo, Ricardo Mello Araújo (PL) discutiu com o religioso sobre o tratamento dado aos moradores em situação de rua.

O que aconteceu

Um vídeo publicado pelo padre nas redes sociais mostra os dois batendo boca, na presença de vários moradores em situação de rua. "Lá no Belém, o senhor disse que eu faço um desserviço. Não faço um desserviço. Não recebo um centavo da prefeitura", disse o religioso.

Mello, então, afirma que o padre o estava ofendendo. "Só estou dizendo para o senhor uma informação. O senhor me perguntou três vezes se eu recebo da prefeitura", responde Lancelotti. O padre afirma que tem "feito essa luta de eles [moradores de rua] terem lugar". Também acusa o supervisor de assistência social de ofendê-lo com "coisas gravíssimas".

Durante as falas, os dois se exaltam. "Padre, padre.", diz o vice. "O senhor me permite de eu terminar?", rebate o padre.

Em diversos momentos, o padre se refere ao vice-prefeito como "excelência". "Tenho estado aqui todo dia com vocês. Nós queremos que todos tenham emprego e casa para morar. Não quero que ninguém fique na rua.", afirma.

O vice diz que o padre está nervoso e pede calma. "Você não está perdendo a oportunidade de arrumar a situação deles?", pergunta Mello Araújo.

Em outro vídeo, Mello aparece dizendo que está oferecendo emprego e tratamento de saúde para os moradores em situação de rua. "Vai brigar comigo ou deixar eu trabalhar?", criticou o vice.

O UOL procurou a assessoria de imprensa da Prefeitura de São Paulo para um posicionamento, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto para manifestação.

A fala de Mello Araújo sobre dependentes químicos no Belém foi em um comentário em uma publicação dele no Instagram. Nela, o vice mostra um imóvel invadido na rua dos Gusmões, no centro da cidade, que será demolido para a construção de habitações sociais. Uma seguidora do vice o convidou a visitar a "nova Cracolândia" do bairro do Belém, ao que ele respondeu: "culpa do Lancelot [sic], está fazendo um desserviço".

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Bairros da capital paulista têm registrado aumento de "fluxos" locais. Mas a região da Luz ainda concentra o maior "fluxo" da Cracolândia, como é conhecida a concentração de dependentes químicos.

O padre rebateu o comentário também no Instagram. "Perplexo com comentário do vice-prefeito de São Paulo @melloaraujo10 que me coloca em situação de risco", escreveu.

Padre foi pivô de pedido de CPI

Em janeiro de 2024, o padre foi pivô de um pedido de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Câmara de São Paulo. O vereador Rubinho Nunes (União) propôs a instalação de uma "CPI das ONGs". A comissão, segundo o pedido de abertura, pretendia investigar entidades sem fins lucrativos que recebem recursos públicos da prefeitura.

O nome do padre não é citado no requerimento, mas o vereador afirmou que ele seria um dos alvos. A menção ao padre repercutiu negativamente e emperrou um acordo entre os líderes da Casa para a instalação da comissão. Em março, a proposta de Rubinho teve o escopo alterado para uma investigação contra abuso e assédio sexual contra pessoas vulneráveis, usuárias de drogas e em situação de rua na capital, mas não avançou desde então.

Ricardo Mello Araújo foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para compor a chapa de Ricardo Nunes (MDB) nas eleições de 2024. Ele é ex-comandante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), braço da Polícia Militar paulista especializado no combate ao crime organizado.

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*Com Estadão Conteúdo

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