Sakamoto: Lula errou ao se calar sobre ditadura em nome da governabilidade
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O presidente Lula (PT) errou ao ficar em silêncio por dois anos sobre a ditadura militar, que durou 21 anos no Brasil, em nome de sua governabilidade, avaliou o colunista Leonardo Sakamoto no UOL News, do Canal UOL.
É importante relembrar [o aniversário do golpe] para que coisas, como 2022 ou 2023, não aconteçam. E aí, o governo Lula errou retumbantemente ao evitar isso em nome da governabilidade, que é uma palavra que está pichada com sangue e fezes no muro do inferno. Não quis bater de frente com as Forças Armadas, em sua maioria, bolsonarista. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL
O presidente Lula quebrou o silêncio e falou, pela primeira vez no mandato, sobre o aniversário do golpe militar de 1964. O início da ditadura militar completa hoje 61 anos. Em publicação no X (antigo Twitter), o petista afirmou que as ameaças autoritárias "insistem em sobreviver" no Brasil e que a data simboliza a "importância da democracia".
O governo Lula tentou evitar trazer o tema à tona, mas não é uma questão de vingança, é uma questão de Justiça. Precisamos discutir abertamente isso exatamente para que a história da ditadura militar entre nos ossos e nas vísceras das novas gerações, para que elas entendam que a democracia da qual elas desfrutam hoje não veio de mão beijada, mas custou o sangue, a carne e a saudade de muita gente.
O Brasil não meteu um ditador sequer na cadeia, como fez a Argentina. A lei da anistia impediu que torturadores sejam punidos. Agora, felizmente o governo faz um reconhecimento público, mas faz isso num momento em que viu uma oportunidade relacionada à punição de Jair Bolsonaro e à repercussão do filme Ainda Estou Aqui, um filme que ganhou o Oscar [na categoria e Melhor Filme Estrangeiro]. Então, como agora há um terreno propício, o governo surfa.
Mas o governo não pode se dar ao luxo de surfar em momentos propícios. O governo tem que caminhar, mesmo quando o caminho estiver em brasa fervendo, em nome da democracia, da liberdade, em nome da lembrança do que aconteceu e não pode acontecer novamente. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL
Como foi o golpe de 64?
O Golpe Militar de 1964 foi o movimento golpista que ocorreu entre 31 de março e 9 de abril de 1964. Militares tomaram poder, subvertendo a ordem existente no país e dando início ao regime ditatorial. Esse período de censura, sequestros e execuções cometidas por agentes do governo se estendeu no Brasil de 1964 até 1985.
Na ocasião, o presidente então empossado, João Goulart, foi retirado do poder pelos militares.
Filho de Herzog sobre escola se tornar cívico-militar: 'Afronta à memória'
O engenheiro Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog (1937 - 1975), jornalista torturado e assassinado pelo regime militar, classificou como "afronta à memória" a intenção do governo de São Paulo em transformar o colégio que leva o nome do pai em uma escola cívico-militar.
A gente cuida há mais de 50 anos do legado deixado pelo meu pai, que foi assassinado barbaramente. Mas se a comunidade do entorno [da escola] acha que essa decisão seja o melhor da discussão, a gente vai respeitar.
A única coisa que a gente não aceita é a sucessão do nome do meu pai, afinal de contas ele foi assassinado pelos militares. Então, realmente, é uma afronta à memória dele. Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog
Em 2024, a escola estadual que fica em São Bernardo do Campo (SP) já havia indicado sua intenção de entrar para o programa. Mas a revelação na imprensa e a pressão de ativistas de direitos humanos levaram a direção do local a anunciar que estavam desistindo da ideia.
Agora, porém, o estabelecimento de ensino volta a aparecer entre as unidades que se mantiveram na consulta para fazer parte do programa, o que levou a família Herzog a protestar formalmente enviando carta ao governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
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