Grupo de Marina Silva cogita deixar Rede após derrota para Heloísa Helena

Após derrota no congresso da Rede Sustentabilidade para a ala liderada pela ex-senadora Heloísa Helena, integrantes de grupo comandado pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, cogitam deixar o partido.

O que aconteceu

Ala de Marina contesta resultados, espera decisões da Justiça, e o futuro da ministra na sigla é incerto. Ela e parlamentares já são sondados por outros partidos, como o PSB, do vice-presidente, Geraldo Alckmin.

Lideranças próximas admitem que, caso a Justiça não reverta o resultado, a permanência se tornaria "insustentável" sob o comando da ala de Heloísa Helena. Segundo fontes ouvidas pelo UOL, a ministra pretende aguardar o andamento de ações judiciais que contestam o resultado do congresso.

Marina diz oficialmente que não há uma decisão sobre deixar a Rede. "Não tem nenhuma confirmação de saída de ninguém da Rede", afirma o comunicado do grupo.

Racha na Rede foi exposto após congresso nacional da sigla, considerado pelo grupo de Marina como "violento", "arbitrário" e "desrespeitoso". Representando o grupo de Heloísa Helena, Paulo Lamac venceu a disputa interna, com 73,5% dos votos, e se tornou o novo porta-voz do partido, o que significou derrota para Marina Silva.

Heloísa Helena (Rede) durante o congresso nacional do partido
Heloísa Helena (Rede) durante o congresso nacional do partido Imagem: Reprodução/Rede Sustentabilidade

Ala de Marina afirma que houve fraudes no processo eleitoral, mas Lamac nega e critica questionamentos. "Cada vez que não se reconhece, num processo democrático, a vitória dos adversários, a gente flerta com regimes autoritários", afirmou o novo porta-voz do partido ao UOL.

Apesar das acusações de irregularidades, a Justiça negou pedidos do grupo de Marina para suspender o congresso.

Risco de debandada

Saída de Marina poderia provocar debandada de parlamentares da Rede. A avaliação do entorno dela é de que a ministra é um "polo aglutinador" no partido e sua desfiliação poderia levar outros quadros com mandato a fazerem o mesmo.

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O deputado federal Túlio Gadelha (Rede-PE) é um dos nomes com futuro incerto. Ele tem relação conflituosa com Heloísa Helena e demonstra descontentamento com os rumos do partido. Nos bastidores, circula a informação de que o parlamentar estaria negociando filiação ao PDT. Túlio foi procurado pela reportagem para comentar o assunto, mas não respondeu.

Grupo "das Marinas", de São Paulo, deve decidir futuro conjuntamente. Marina Helou (Rede-SP) e a vereadora de São Paulo Marina Bragante (Rede-SP) definirão juntas se continuam ou não na Rede. A decisão, no entanto, deve ser atrelada ao que fará Marina Silva, de quem ambas são próximas.

"A gente tem reavaliado a nossa participação no partido", diz deputado estadual da Paraíba. Ligado ao grupo de Marina Silva, Chió (Rede-PB) revelou decepção com o processo de escolha de Lamac. "Vim para o partido pensando que aqui não teria dono, seria democrático, mas o que eu vi aqui foi o contrário", criticou.

PSB de olho em Marina

As "Marinas" estão no grupo que questiona legitimidade de processo eleitoral da Rede Sustentabilidade
As "Marinas" estão no grupo que questiona legitimidade de processo eleitoral da Rede Sustentabilidade Imagem: Reprodução/Instagram

PSB sondou Marina sobre possível filiação ao partido. Com o racha deflagrado na Rede, emissários da sigla do vice-presidente Geraldo Alckmin ofereceram espaço no PSB para abrigar a ministra caso ela resolva se desfiliar. O convite também se estenderia para a deputada estadual Marina Helou (Rede-SP), que integra o grupo político de Marina Silva

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Ministra já foi filiada ao partido. Ela foi candidata à Presidência da República pelo partido em 2014, após a morte de Eduardo Campos em acidente aéreo, e deixou a sigla em 2015 para fundar a Rede.

O deputado estadual Caio França (SP) afirmou que as portas do PSB "sempre estarão abertas" para Marina Silva. Sobre Marina Helou, afirmou ao UOL que o convite para que ela ingresse no PSB é "antigo".

Caio frisou, no entanto, que não vai avançar em conversas com elas sobre filiação no momento. O parlamentar quer antes aguardar o desenrolar da situação na Rede, "em respeito a amizade que tenho com elas". Ele é filho do ministro do Empreendedorismo, Márcio França, e deve ser eleito presidente estadual do PSB em eleições internas no próximo dia 26.

Nova gestão não acredita em debandada

"Se saírem, vou lamentar", disse o novo porta-voz nacional eleito da Rede. Paulo Lamac minimizou o racha no partido, que creditou a divergências comuns na democracia. "Temos divergências, sim. E todo partido pode ter as suas divergências. Temos um quadro de parlamentares pequeno, mas reconhecido", afirmou.

Ele afirma que quer manter a unidade do partido para 2026. "Vamos fazer de tudo para manter os nossos", prometeu Lamac.

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A deputada Marina Helou não vê possibilidade de reconciliação. "Da perspectiva de afeto, amizade, não", afirma. Para ela, a "única forma possível" de a sigla continuar existindo é "fortalecer o partido acima de tudo" e finalizar o que a parlamentar chama de "processos tirânicos".

Grupo de Marina não vê gestos do novo comando nacional para apaziguar os ânimos. "Na eleição, eles jogaram a gente no meio da avenida, atropelaram com o trator, tacaram fogo e agora querem apagar com a pá", definiu uma pessoa próxima à ministra do Meio Ambiente sobre a postura da ala de Heloísa Helena.

Fundo partidário também gera desavenças. Marina Helou reclamou da divisão dos recursos feita pelo grupo de Heloísa Helena nas eleições de 2022 e teme retaliações para o próximo ano. "No último ano éramos 48% da executiva e ficamos com só 38% do fundo", contou a deputada. Lamac negou desigualdade no repasse dos recursos e disse que a distribuição do fundo é debatida internamente.

O porta-voz garante que Marina Helou e Túlio Gadelha serão apoiados pela legenda se escolherem permanecer em 2026. "Não vamos amesquinhar candidatos importantes. Naturalmente serão apoiados", disse. Lamac relatou que conversou com Marina Helou e rechaçou qualquer tentativa de isolamento.

Acreditamos que o processo foi absolutamente correto. O congresso foi extremamente participativo. Não houve cerceamento de participação. Penso que é o momento de olhar para frente e reconstruir o partido.
Paulo Lamac (Rede), eleito porta-voz nacional do partido

O problema não é ser minoria. É não ser respeitada e ser oprimida por uma maioria tirânica.
Marina Helou (Rede), deputada estadual por São Paulo

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Preciso de perspectiva que a gente tenha crescimento. O que a gente teme é que, se a gente é excluído hoje do processo eleitoral interno, quando for a eleição de 2026, a gente vai ser excluído também?
Chió (Rede) deputado estadual pela Paraíba

Entrei para esse partido porque acredito nos valores e princípios dele, mas, depois desse final de semana, fica difícil.
Marina Bragante (Rede), vereadora por São Paulo

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