Comando de Motta na Câmara patina em votações e é alvo de críticas

A gestão do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), tem sido alvo de críticas de deputados insatisfeitos com a falta de um cronograma e a quebra de compromissos.

O que aconteceu

Câmara não tem agenda própria de projetos. Deputados ouvidos pelo UOL afirmam que Motta ainda não sinalizou quais os legados que deseja deixar na sua passagem pela presidência da Câmara. O governo Lula já apresentou uma lista de projetos prioritários, que incluem a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 e a PEC da Segurança Pública. Já o paraibano ainda "não mostrou a que veio", na avaliação desses parlamentares.

Levantamento mostra Motta pouco tempo no comando das votações. Motta abriu a ordem do dia, quando começa a discussão sobre as leis a serem analisadas, apenas dez vezes. Nestes dois meses e meio de presidência, houve 29 sessões deliberativas no plenário, segundo levantamento do UOL. Ou seja, ele não presidiu nem metade das sessões e, em alguns dias, ficou menos de 20 minutos na cadeira.

Nos primeiros dias no cargo, o presidente estabeleceu com os líderes uma lista de projetos de consenso para votar. Das 85 propostas aprovadas de fevereiro a segunda semana de abril, 35 foram acordos comerciais que, geralmente, não provocam discussões no plenário. Outros projetos, contudo, estão há semanas na pauta sem qualquer perspetiva de votação, como a proposta para custear a CNH de pessoas de baixa renda com multas.

Motta rebateu reclamações de ritmo lento. Por meio da sua assessoria de imprensa, o presidente da Câmara justificou os meses de trabalho com a criação de comissões especiais vinculadas a projetos. Três desses colegiados são de propostas do governo: isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil, regulamentação da Inteligência Artificial e Plano Nacional de Educação. Também houve encaminhamento para a criação das comissões mistas com o Senado para analisar medidas provisórias. Os grupos foram deixados de lado durante a gestão do ex-presidente Arthur Lira (PP-AL).

Falta de método para conduzir a Casa incomoda. Parte dos críticos considera que Motta não compreendeu a responsabilidade do cargo. No período em que foi líder do seu partido, o Republicanos, o paraibano era elogiado por ser uma pessoa do diálogo, que ouvia os colegas de bancada e defendia o acordo. A personalidade permanece, porém deputados avaliam que falta ação na solução de conflitos.

A ausência do presidente é outro ponto de reclamação entre os deputados. Motta fez duas viagens longas em pouco tempo. A primeira foi a convite do presidente Lula (PT) para integrar a comitiva que viajou para o Japão e o Vietnã. Já na semana passada, o deputado aproveitou o feriado da Semana Santa para viajar com a família. No seu calendário, há ainda uma previsão de viagem em maio, também com Lula, para a China.

Deputados se incomodam com a quebra de compromissos. Logo que assumiu o comando da Casa, Motta estabeleceu algumas regras na tentativa de melhorar o fluxo de trabalho legislativo. Uma delas era iniciar a ordem do dia às 16h. A medida, no entanto, foi quebrada no dia em que o Conselho de Ética aprovou o relatório pela cassação do mandato de Glauber Braga (PSOL-RJ).

Plenário atrasou 3 horas para começar e Motta não deu as caras. A reunião do colegiado que analisava o caso de Glauber começou pela manhã e se estendeu até o início da noite. Pelo regimento interno, quando o presidente inicia as votações em plenário, as comissões devem encerrar os trabalhos.

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Esquerda se viu prejudicada com inação. O paraibano não conduziu a sessão nem orientou que o vice-presidente, Altineu Côrtes (PL-RJ), ou o suplente Charles Fernandes (PSD-BA), que comandou os trabalhos no período da tarde, iniciassem a ordem do dia. Com isso, a principal estratégia do PSOL para barrar o avanço do processo de cassação naufragou.

Motta seguiu os passos de Arthur Lira (PP-AL). O atraso nos trabalhos do plenário era uma prática adotada pelo ex-presidente quando as comissões votavam matérias de seu interesse. Glauber virou desafeto do deputado alagoano por fazer denúncias sobre o chamado "orçamento secreto". Parlamentares de esquerda avaliam que Motta cedeu às pressões de seu antecessor para que o Conselho de Ética concluísse a cassação de Braga.

Motta fala em evitar acelerar processo, mas apoia exceções. O presidente da Câmara havia determinado que os requerimentos de urgência seriam evitados para manter a discussão das propostas nas comissões temáticas. A urgência permite que um projeto vá direto a plenário, sem passar pelas comissões, acelerando seu trâmite. Essa medida, no entanto, vem sendo deixada de lado, como na criação de cargos comissionados no STF (Supremo Tribunal Federal) e no projeto que permite "ressuscitar" R$ 4,6 bilhões em emendas que foram canceladas e deixaram obras paralisadas. Ao todo, foram aprovados 11 requerimentos de urgência de fevereiro até a segunda semana de abril.

Promessas de campanha pressionam Motta

O deputado foi eleito presidente com ajuda de 17 partidos. Lira articulou com Motta a base de legendas que dariam sustentação à candidatura e formou um bloco de apoio com PL e PT. A negociação envolveu promessas de espaços na Mesa Diretora, presidências de comissões e indicações do PT para o TCU (Tribunal de Contas da União).

Anistia aos presos por tentativa de golpe de Estado foi uma bola dividida. Durante o período de campanha, Motta evitou dar declarações públicas sobre o tema, mas integrantes do PL afirmam que internamente houve o compromisso de levar a proposta à votação. Já para o PT, o acordo era deixar o assunto de lado e priorizar pautas econômicas, de interesse do governo e que melhorassem o país.

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PL pressiona Motta por anistia. O partido do ex-presidente Jair Bolsonaro tem pressionado o presidente da Câmara de todas as formas para pautar o requerimento de urgência da proposta. A sigla conseguiu 262 assinaturas para apresentar o pedido, mas a votação depende do chefe da Casa. O paraibano já sinalizou que não quer decidir sozinho e vai levar o tema para ser discutido no colégio de líderes.

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