Líder do União Brasil na Câmara recusa ministério e constrange governo

O líder do União Brasil na Câmara, Pedro Lucas (MA), recusou o convite do governo Lula (PT) para assumir o Ministério das Comunicações no lugar de Juscelino Filho, denunciado sob acusação de desvio de emendas parlamentares quando era deputado.

O que aconteceu

Deputado foi indicado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). A indicação do parlamentar chegou a ser confirmada pela ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), após reunião com Lula.

Minhas mais sinceras desculpas ao presidente Lula por não poder atender a esse convite. Recebo seu gesto com gratidão e reafirmo minha disposição para o diálogo institucional, sempre em favor do Brasil.
Pedro Lucas Fernandes, líder do União Brasil na Câmara

Decisão causa constrangimento ao Planalto. Apesar da confirmação do governo, o deputado e o partido nunca disseram oficialmente que aceitariam o convite. A recusa de Lucas também representa uma derrota para o presidente do Senado.

Impasse sobre a nova liderança da bancada na Câmara pesou na decisão. Com alas governista e oposicionista, o União tem enfrentado um embate entre a bancada na Câmara dos Deputados e Alcolumbre sobre o futuro líder na Casa.

Mágoa de Antônio Rueda com Lula pode ter influenciado recusa. Aliados do presidente do União afirmaram ao UOL que o chefe do Executivo conversou individualmente com cada dirigente de partido para tratar de espaços no governo, mas teria excluído Rueda. O diálogo sobre a sigla foi diretamente com Alcolumbre.

A pasta está sem titular desde o dia 8. O ex-ministro Juscelino Filho deixou o cargo após ser denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República), acusado de desvio de recursos de emendas parlamentares quando exercia o mandato de deputado federal.

Interlocutores de Rueda, presidente do partido, dizem que ele não deve designar um novo nome. A indicação ficará na cota pessoal de Alcolumbre como ele fez com Waldez Góes, no ministério de Integração e do Desenvolvimento Regional.

"Não se recusa"

No Planalto, demora em oficializar o nome gerou incômodo geral. Membros e aliados do governo viram a situação como uma "esticada de corda" pelo União, sob o argumento de que a legenda está "abusando" da autonomia dada por Lula, que já garantiu o cargo seria de quem o partido nomeasse.

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É um convite que não se recusa —não publicamente—, argumentam aliados. Auxiliares dizem avaliar que, por mais que o presidente estimule a política de composição, a forma como o processo está sendo levado acaba pegando mal para o governo, especialmente após um anúncio por parte da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, que carimbou seu nome para depois da Páscoa.

Na esteira da confusão, há quem defenda que Lula seja firme e diminua, então, o espaço do partido. Hoje, o União controla Turismo e Desenvolvimento Regional, indiretamente. Pessoas mais próximas do presidente dizem que isso não faz parte de seu perfil, dado que acarretaria em uma cisão com Alcolumbre, um aliado importante no momento.

Apesar da desavença, a maioria aposta em diálogo, mas o governo só deverá se pronunciar depois do partido. Por ora, Lula não tem falado no assunto e, publicamente, ministros argumentam que esta é uma decisão que cabe ao União Brasil, dado que o presidente deu o aval —nos bastidores, no entanto, muitos seguem de olho nesta vaga.

Impasse no União Brasil

Partido de diversas frentes, o União passa por uma disputa interna. Alcolumbre queria que Juscelino, seu aliado, fosse para o lugar de Lucas na liderança da Câmara. A bancada, incomodada com a ingerência e preocupada com as denúncias, rejeitou o nome.

Sem substituto natural, o nome de Lucas acabou travado. Segundo aliados, o parlamentar passou por uma sinuca de bico: queria assumir o ministério e ficar bem com o governo, com quem sempre teve proximidade, mas também não queria desafiar a bancada.

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Juscelino gostou do acordo. O UOL apurou que, desde que deixou o ministério, o próprio ex-ministro ligou para colegas parlamentares para angariar apoio para sua ida à liderança —o que é visto com bons olhos pelo governo.

A troca passa ainda por um debate do futuro do União no governo. De olho em 2026, bolsonaristas e oposicionistas da legenda já defendem que o partido aproveite a deixa e entregue o ministério, iniciando o movimento de desembarque. Alcolumbre e outros nomes influentes, como o ministro do Turismo, Celso Sabino, são contra.

Planalto teme aparecer mais uma vez enfraquecido. Por mais que, politicamente, seja interessante manter a base, há o receio de que aumente a sensação de que Lula não tem tanto controle sobre seu governo e está à mercê dos aliados do centrão.

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