Preso pelo 8/1 critica curso obrigatório sobre democracia: 'Perda de tempo'

Preso na Papuda por 57 dias por envolvimento nos atos de 8 de Janeiro, Daniel* concordou em fazer o acordo de não persecução penal proposto pela PGR (Procuradoria-Geral da República), o que envolve ficar longe das redes sociais e fazer um curso sobre democracia, considerado por ele uma "perda de tempo".

O que aconteceu

Filho e pai foram presos juntos. Daniel, que tem 31 anos, estava com o pai, de 60, no dia em que manifestantes invadiram a Praça dos Três Poderes em Brasília. "Fomos para o quartel-general e não saímos mais", conta ele, que alegou estar na capital federal em uma viagem de turismo.

Os dois foram liberados após 57 dias na Papuda. Após sair, Daniel passou mais de um ano usando uma tornozeleira eletrônica, desativada depois de um acordo de não persecução penal.

Acordo envolveu serviço comunitário e curso sobre democracia. Primeiro, o pai de Daniel fez o curso proposto pela PGR. Depois ambos fizeram 150 horas de serviços comunitários juntos. Eles plantaram centenas de árvores em Londrina, no Paraná. "Fiz algo bom para o meio ambiente", diz Daniel.

Já os estudos sobre democracia não foram bem recebidos. "Eu vi desde o início que era um curso sobre a esquerda", fala.

"Fiz, porque se não tivesse feito estaria com a tornozeleira até hoje, é o que vejo por aí." Ele assume que lembra pouco sobre como foi o curso, mas, pelos seus cálculos, assistiu a quatro módulos de aulas, cada módulo contendo quatro aulas e cada aula somando oitenta minutos. As temáticas das aulas e dos módulos foram rapidamente esquecidas assim que a tornozeleira eletrônica foi retirada.

Daniel fez o curso no fórum de Londrina, no computador de trabalho de um dos servidores. "Uma pena desocupar uma pessoa que estava trabalhando para botar aquele vídeo lá. Nada a ver", afirma. Ele assistiu ao vídeo sob a supervisão de um funcionário do fórum. "Vídeos completamente contra a realidade que o Brasil está enfrentando", diz.

Como logo no começo ouvi eles falando muita coisa que eu não concordava, não prestei muita atenção. Se fosse mesmo sobre a democracia, seria importante para mim, ia me esforçar para aprender, mas era sobre tudo o que eu não acredito.

É um curso de democracia que de democracia não tem nada, todo puxado para a esquerda. Eles falam muito daquele livro de direito [o nome do livro ele já esqueceu]. É pouca coisa da Constituição, tudo sobre a esquerda.
Daniel*, um dos presos pelo 8 de Janeiro

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Acordo foi oferecido para "mais de mil pessoas" denunciadas pelos atos golpistas do 8 de Janeiro, afirmou Moraes. O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), disse, durante o julgamento que aceitou a denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que "vários recusaram, dizendo que querem intervenção militar."

Até o momento, 1.032 foram julgados e 497 condenados. Sete pessoas foram absolvidas, 532 firmaram acordos com o MPF (Ministério Público Federal) e há ainda 439 ações penais em andamento. Das 497 condenações, 240 tiveram penas inferiores a um ano. "Essas foram substituídas por penas restritivas de direito", explicou o ministro relator.

Condenados pelo 8/1 por gênero

  • 337 homens (68%);
  • 160 mulheres (32%);

Condenados pelo 8/1 por idade

  • 454 têm menos de 59 anos (91%);
  • 36 têm entre 60 e 69 anos (7%);
  • 7 têm entre 70 e 75 anos (2%).
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Penas dos 497 condenados

  • 1 ano: 240
  • 2 anos e cinco meses: 6
  • 3 anos: 3
  • 11 anos e 6 meses: 5
  • 11 anos e 11 meses: 3
  • 12 anos: 3
  • 13 anos e 6 meses: 32
  • 14 anos: 102
  • 14 anos e 2 meses: 1
  • 16 anos e 6 meses: 58
  • 17 anos: 43
  • 17 anos e 6 meses: 1

*Nome alterado a pedido do entrevistado.

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