Escândalos e confisco de poupanças marcaram a carreira política de Collor

O ex-presidente Fernando Collor, 75, foi preso hoje por corrupção e lavagem de dinheiro em uma ação de desdobramento da Lava Jato. O ex-senador, que ganhou espaço na política como governador de Alagoas, intitulando-se "caçador de marajás", teve uma trajetória política marcada por escândalos e pelo controverso confisco de ativos durante seu mandato presidencial.

Confisco das poupanças

Um dia após sua posse, em 1990, Collor confiscou cadernetas de poupança e outros ativos. A medida, que fazia parte do pacote "Brasil Novo", tinha o objetivo combater uma inflação que havia batido em 84% ao mês durante o governo Sarney. Para reduzir a quantidade de dinheiro em circulação, o governo confiscou os depósitos acima de 50 mil cruzados novos pelo período de 18 meses —o valor corrigido hoje seria de R$ 13,8 mil.

A decisão foi questionada e gerou um sentimento de revolta entre os brasileiros. O plano também não alcançou os resultados esperados: a inflação chegou a diminuir nos primeiros meses, mas voltou a crescer em seguida. O pacote também apresentava outras ações como a criação de um novo imposto e o congelamento de preços e salários por 45 dias.

Collor pediu perdão aos brasileiros em 2020, 30 anos após o confisco. Em uma publicação nas redes sociais, ele classificou o plano como "economicamente viável, mas politicamente sensível". "Acreditei que aquelas medidas radicais eram o caminho certo. Infelizmente errei. Gostaria de pedir perdão a todas aquelas pessoas que foram prejudicadas pelo bloqueio dos ativos", escreveu.

21.mai.2012 - Mulher chora na frente do Banco Central, em São Paulo, por ter ficado com o dinheiro retido após vender a casa com a intenção de comprar outra, no episódio de confisco das cadernetas de poupança, como parte do Plano Collor
21.mai.2012 - Mulher chora na frente do Banco Central, em São Paulo, por ter ficado com o dinheiro retido após vender a casa com a intenção de comprar outra, no episódio de confisco das cadernetas de poupança, como parte do Plano Collor Imagem: Antônio Gaudério/Folhapress - 23.03.1990

Caso PC Farias

Dois anos após a vitória eleitoral, o então presidente foi acusado por seu irmão Pedro Collor de participação em um esquema de corrupção. Em entrevista à revista "Veja", Pedro afirmou que Paulo César Farias, tesoureiro da campanha de Collor, era o responsável pela articulação.

O esquema envolvia cobrança de propina de empresários, contas fora do país e pagamento de gastos pessoais de Collor. Foram encontrados documentos que comprovavam as supostas transações ilícitas entre PC Farias e o então presidente.

O ex-tesoureiro foi preso por sonegação fiscal e condenado pelo STF por falsidade ideológica, enquanto Collor conseguiu a absolvição. Em 1995, dois anos após ser preso, PC Farias conseguiu liberação para cumprir pena em regime aberto. No ano seguinte, entretanto, foi morto com um tiro no peito.

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Impeachment

Após as acusações de Pedro Collor, os chamados "caras-pintadas" foram às ruas pedir o impeachment do presidente. Diante da pressão popular, a Câmara dos Deputados autorizou a abertura do processo de impeachment e o afastou do cargo, e meses depois o Senado aprovou a cassação definitiva do mandato dele.

Horas antes da decisão do Congresso, Collor chegou a renunciar para tentar evitar a inelegibilidade. Não teve sucesso. O Congresso cassou os direitos políticos e ele ficou impedido de exercer cargos públicos por oito anos. Em 2002, retornou à vida política, mas foi derrotado nas eleições para governador em Alagoas. Em 2006, conseguiu se eleger senador, cargo que ocupou até 2023.

Briga na Justiça com a Globo

Collor atualmente mantém uma disputa judicial com a Rede Globo, tentando obrigar a empresa a manter seu contrato com a afiliada local que pertence ao ex-presidente. Conforme reportagem do colunista do UOL Carlos Madeiro, a TV Gazeta, de Collor, alega que pode ir à falência caso perca o contrato com a TV Globo.

A emissora carioca, por sua vez, cita a condenação de Collor como motivo para encerrar o contrato. Isso porque, no julgamento que condenou o ex-presidente, os ministros do STF consideraram que a TV Gazeta foi usada para receber recursos desviados, advindos de um esquema de corrupção. O caso está em recurso final no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e um resultado definitivo é esperado ainda para este semestre.

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Propina no Ibama

O ex-presidente também foi alvo de uma operação da PF que investiga um suposto esquema de propinas no Ibama. O objetivo, segundo as investigações, seria conseguir a liberação de uma licença ambiental para a instalação do Porto Pontal Paraná (PR).

Os pagamentos teriam sido feitos em 2015. Ao todo 12 mandados de busca e apreensão foram cumpridos. O envolvimento de Collor no caso, entretanto, foi arquivado devido à idade do ex-presidente. Na época, Collor disse que havia sido surpreendido com a operação. "Vou tentar apurar a razão deste fato de que fui vítima. Nada tenho a temer", escreveu nas redes sociais.

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