Escândalos e confisco de poupanças marcaram a carreira política de Collor
Ler resumo da notícia
O ex-presidente Fernando Collor, 75, foi preso hoje por corrupção e lavagem de dinheiro em uma ação de desdobramento da Lava Jato. O ex-senador, que ganhou espaço na política como governador de Alagoas, intitulando-se "caçador de marajás", teve uma trajetória política marcada por escândalos e pelo controverso confisco de ativos durante seu mandato presidencial.
Confisco das poupanças
Um dia após sua posse, em 1990, Collor confiscou cadernetas de poupança e outros ativos. A medida, que fazia parte do pacote "Brasil Novo", tinha o objetivo combater uma inflação que havia batido em 84% ao mês durante o governo Sarney. Para reduzir a quantidade de dinheiro em circulação, o governo confiscou os depósitos acima de 50 mil cruzados novos pelo período de 18 meses —o valor corrigido hoje seria de R$ 13,8 mil.
A decisão foi questionada e gerou um sentimento de revolta entre os brasileiros. O plano também não alcançou os resultados esperados: a inflação chegou a diminuir nos primeiros meses, mas voltou a crescer em seguida. O pacote também apresentava outras ações como a criação de um novo imposto e o congelamento de preços e salários por 45 dias.
Collor pediu perdão aos brasileiros em 2020, 30 anos após o confisco. Em uma publicação nas redes sociais, ele classificou o plano como "economicamente viável, mas politicamente sensível". "Acreditei que aquelas medidas radicais eram o caminho certo. Infelizmente errei. Gostaria de pedir perdão a todas aquelas pessoas que foram prejudicadas pelo bloqueio dos ativos", escreveu.

Caso PC Farias
Dois anos após a vitória eleitoral, o então presidente foi acusado por seu irmão Pedro Collor de participação em um esquema de corrupção. Em entrevista à revista "Veja", Pedro afirmou que Paulo César Farias, tesoureiro da campanha de Collor, era o responsável pela articulação.
O esquema envolvia cobrança de propina de empresários, contas fora do país e pagamento de gastos pessoais de Collor. Foram encontrados documentos que comprovavam as supostas transações ilícitas entre PC Farias e o então presidente.
O ex-tesoureiro foi preso por sonegação fiscal e condenado pelo STF por falsidade ideológica, enquanto Collor conseguiu a absolvição. Em 1995, dois anos após ser preso, PC Farias conseguiu liberação para cumprir pena em regime aberto. No ano seguinte, entretanto, foi morto com um tiro no peito.
Impeachment
Após as acusações de Pedro Collor, os chamados "caras-pintadas" foram às ruas pedir o impeachment do presidente. Diante da pressão popular, a Câmara dos Deputados autorizou a abertura do processo de impeachment e o afastou do cargo, e meses depois o Senado aprovou a cassação definitiva do mandato dele.
Horas antes da decisão do Congresso, Collor chegou a renunciar para tentar evitar a inelegibilidade. Não teve sucesso. O Congresso cassou os direitos políticos e ele ficou impedido de exercer cargos públicos por oito anos. Em 2002, retornou à vida política, mas foi derrotado nas eleições para governador em Alagoas. Em 2006, conseguiu se eleger senador, cargo que ocupou até 2023.
Briga na Justiça com a Globo
Collor atualmente mantém uma disputa judicial com a Rede Globo, tentando obrigar a empresa a manter seu contrato com a afiliada local que pertence ao ex-presidente. Conforme reportagem do colunista do UOL Carlos Madeiro, a TV Gazeta, de Collor, alega que pode ir à falência caso perca o contrato com a TV Globo.
A emissora carioca, por sua vez, cita a condenação de Collor como motivo para encerrar o contrato. Isso porque, no julgamento que condenou o ex-presidente, os ministros do STF consideraram que a TV Gazeta foi usada para receber recursos desviados, advindos de um esquema de corrupção. O caso está em recurso final no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e um resultado definitivo é esperado ainda para este semestre.
Propina no Ibama
O ex-presidente também foi alvo de uma operação da PF que investiga um suposto esquema de propinas no Ibama. O objetivo, segundo as investigações, seria conseguir a liberação de uma licença ambiental para a instalação do Porto Pontal Paraná (PR).
Os pagamentos teriam sido feitos em 2015. Ao todo 12 mandados de busca e apreensão foram cumpridos. O envolvimento de Collor no caso, entretanto, foi arquivado devido à idade do ex-presidente. Na época, Collor disse que havia sido surpreendido com a operação. "Vou tentar apurar a razão deste fato de que fui vítima. Nada tenho a temer", escreveu nas redes sociais.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.