'Careca do INSS' doou R$ 1 à campanha de Bolsonaro em 2022
Do UOL, em São Paulo
30/04/2025 13h39
O empresário acusado de envolvimento no esquema de descontos ilegais de aposentadoria, Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como "careca do INSS, doou R$ 1 para a campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2022.
O que aconteceu
O nome e o CPF de Antônio Carlos Camilo Antunes constam no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) como doador da campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2022. A doação foi feita no dia 12 de setembro de 2022, segundo o tribunal. O número do CPF é o mesmo que aparece nos documentos oficiais das investigações contra ele, como é o caso do escândalo do INSS.
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Antunes ficou conhecido como "careca do INSS". Ele foi um dos alvos da operação Sem Desconto, deflagrada na última quarta-feira para combater descontos irregulares em benefícios de beneficiários. Segundo a investigação, o papel dele era conseguir dados de pensionistas com os quais as associações faziam descontos nas folhas de pagamento de forma fraudulenta.
Doação de Antunes ocorreu em meio a uma estratégia da campanha do ex-presidente. Apoiadores de Bolsonaro se mobilizaram em setembro daquele ano para arrecadar doações "simbólicas" para o então candidato por Pix. Eleitores foram às redes sociais para pedir doações de "só R$ 1, nada mais" - como uma estratégia paralela de contagem de votos. O tema surgiu na campanha após Bolsonaro ter feito falas que atribuíam ao seu governo a autoria da ferramenta "Pix", criada pelo Banco Central.
O que diz a defesa
Acusações apresentadas não correspondem à realidade dos fatos, afirma defesa de Antunes. Os advogados Alberto Moreira e Flávio Schegerin afirmam, por meio de nota, que não comentam processos em curso, "principalmente os que tramitam em segredo de justiça."
"Inocência de Antonio será devidamente comprovada", afirmam advogados. "A defesa confia plenamente que o tempo propiciará uma apuração adequada dos fatos, possibilitando uma atuação ampla e isenta por parte das instituições, em harmonia com o Estado democrático de Direito."
Quem é o empresário conhecido como "careca"
Investigações mostram que "Careca do INSS" era intermediário financeiro das entidades associativas. Ele recebia o dinheiro das organizações e fazia os repasses, muitas vezes no mesmo dia do recebimento, a servidores suspeitos de envolvimento no esquema. Antunes mantinha um baixo saldo na conta, o que indica "possível urgência em dificultar o rastreamento dos valores", segundo a PF.
PF aponta que Antunes é dono de uma "miríade de empresas", por meio das quais recebia os repasses. Os investigadores apontaram pelo menos 22 empresas em nome do lobista, nos mais diversos ramos, como consultoria, call center, incorporação, comércio varejista, entre outros. Parte delas era nas relações com entidades que recebiam os valores descontados das aposentadorias, segundo a PF. De acordo com a coluna da jornalista Natália Portinari, ele recebeu dinheiro de entidades como CPBA, AP Brasil, Cebap, Unaspub, Asabasp, entre outras, segundo as investigações.
Antunes teria repassado R$ 9,3 milhões a servidores do INSS, segundo investigação. Ele fez pagamentos diretos e indiretos para Virgílio Filho, ex-procurador-geral do INSS, além de André Fidelis e Alexandre Guimarães, ambos ex-diretores do Instituto.
Virgílio Filho recebeu R$ 7,5 milhões pela firma de Antunes, a Ambec (Associação de Aposentados Mutualista para Benefícios Jonasson). As investigações apontam que os repasses acontecem por meio de empresas de Thaisa Hoffmann Jonasson, esposa dele, que foi afastada do cargo pela Justiça.
André Paulo Fidelis teria recebido R$ 1,5 milhão por meio do escritório de advocacia de Eric Douglas Martins Fidelis, seu filho. Por fim, Alexandre Guimarães recebeu diretamente de Antunes R$ 313 mil.
Ele é acusado de fazer movimentações financeiras significativas. A investigação apontou ainda que as movimentações são desproporcionais à sua renda declarada e ocupação profissional. Ele teria movimentado milhões de reais em curtos períodos —possivelmente para dificultar o rastreamento dos valores.