Emendas e indecisão sobre 2026 restringem reforma ministerial de Lula ao PT

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Mais do que uma opção do presidente Lula (PT), a especulada reforma ministerial demorou e deverá seguir restrita ao PT e à base tanto pelo tamanho do orçamento que o Congresso concentra hoje quanto pela indefinição em relação a 2026.
O que aconteceu
Aliados dizem que o Executivo não oferece tantos atrativos quanto antes. Da forma com que o orçamento foi distribuído desde as gestões de Jair Bolsonaro (PL) na Presidência e Arthur Lira (PP-AL) na Câmara dos Deputados, um parlamentar muitas vezes tem mais dinheiro —e, consequentemente, influência— do que um ministro.
Não à toa, a grande reclamação das bancadas quanto ao ministro Alexandre Padilha nas Relações Institucionais era a liberação de emenda. Parlamentares diziam abertamente que conseguiam mais dinheiro e de maneira mais rápida ao pedir e negociar com o então presidente Lira. Mesmo após as imposições do STF (Supremo Tribunal Federal), feitas pelo ministro Flávio Dino, esta lógica não mudou tanto sob Hugo Motta (Republicanos-PB). Com isso, os incentivos muitas vezes não são o bastante para atrair nomes de peso ao Executivo.
A recusa do deputado Pedro Lucas (União-MA) para Comunicações é o exemplo usado. Líder da sigla na Câmara, ele alegou que sua saída criaria problemas, mas auxiliares do governo lembram que seu poder e acesso a emendas na verdade diminuiria se assumisse a pasta, cujo principal atrativo é a influência sobre estatais, todas já indicadas e organizadas pelo ex-ministro Juscelino Filho (União-MA). Na verdade, este teria sido o principal motivo para o "não".
Não é como nos outros mandatos, e Lula muitas vezes não entende isso, dizem apoiadores de longa data. Não foi segredo no Planalto que a recusa irritou o presidente, que buscou uma solução rápida junto ao senador Davi Alcolumbre (União-AP), mas muitos dizem que ainda há no governo uma impressão de controle que na prática não tem se mostrado tão sólida.
Lula nunca falou que promoveria uma reforma propriamente dita, mas as mudanças eram esperadas até dentro do Planalto. Membros e apoiadores do governo ouviam reclamações da base e do centrão —algumas delas públicas— sobre espaço e viam num rearranjo da Esplanada e do segundo escalão um instrumento eficiente para balancear os ânimos.
Na prática, não funcionou assim. Das seis mudanças de ministério feitas desde janeiro, todas as quatro feitas por "vontade própria" ficaram restritas ao PT, com exceção de Comunicações (União Brasil) e Previdência (PDT), trocados por causa de escândalos. O cenário deve seguir assim, dizem aliados.
Além das emendas, os cálculos para 2026 imperaram no quanto cada partido pretendia se envolver. Com três ministérios, o PSD, por exemplo, é um partido do centro que queria mais espaço na Esplanada, pedindo um upgrade em relação ao Ministério da Pesca, de baixo orçamento. Muito se falou sobre o xadrez que Lula teria resolver para fazer as mudanças sem desalojar outros partidos grandes, como MDB ou União, mas, hoje, aliados dizem que não foi só por aí.
O próprio partido foi indicando desinteresse em aumentar o comprometimento. Famoso por sempre ter um pé em cada barco, o presidente do partido, Gilberto Kassab, não só tem falado em lançar candidatura própria como incentiva, nos bastidores, a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de quem é secretário.
Pensando em 2026, mesmo partidos mais próximos, como MDB, têm evitado fazer promessas duradouras, embora seus três ministros garantam (e trabalhem pelo) apoio. Em reserva, eles colocam na mesa a popularidade oscilante do governo e as chances de problemas na economia como empecilhos para estreitar ainda mais a relação.
O cobertor está cada vez mais curto. O próprio Lula já não vê tanto sentido em colocar um ministro que vá sair em menos de um ano, dado que a barreira de desincompatibilização para as eleições, quando políticos têm de se afastar dos seus cargos públicos caso queiram concorrer a outra função, está marcada para abril.
Outras mudanças na Esplanada não estão descartadas, mas são cada dia mais improváveis, dizem membros da cúpula governista. Cargos que pertencem ao PT, como a Secretaria-Geral, de Márcio Macêdo, e o Desenvolvimento Agrário, de Paulo Teixeira, seguem sendo sondados por aliados, mas, segundo pessoas próximas, ambos retomaram prestígio junto ao presidente, que não tem comentado sobre trocas.
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