Barroso diz que EUA tiveram 'papel decisivo' para evitar golpe no Brasil

O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, disse hoje que os Estados Unidos tiveram papel "decisivo" para evitar que militares brasileiros aderissem a uma tentativa de golpe para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder.

O que aconteceu

Barroso afirmou que os militares brasileiros não gostam de "se indispor" com os EUA, o que teria evitado o golpe. O ministro relatava que pediu aos americanos, quando foi presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), declarações de apoio à democracia brasileira. "Acho que isso teve algum papel porque os militares brasileiros não gostam de se indispor com os Estados Unidos, porque é aqui que eles obtêm os seus cursos e equipamentos", disse Barroso durante evento em Nova York do Lide, grupo de empresários liderado pelo ex-governador paulista João Doria.

O presidente do STF afirmou que os EUA deram apoio à "institucionalidade e à democracia brasileira". "Mais recentemente, tivemos um decisivo apoio dos Estados Unidos à institucionalidade e à democracia brasileira em momentos de sobressalto. Eu mesmo, como presidente do Tribunal Superior Eleitoral, estive com o encarregado de negócios americano, estive muitas vezes, e em três vezes pedi declarações dos Estados Unidos de apoio à democracia brasileira, uma delas do próprio Departamento de Estado", disse Barroso.

Horas depois, Bolsonaro questionou se houve interferência externa nas eleições. Embora o presidente do STF não tenha falado em interferência dos EUA no processo eleitoral, o ex-presidente fez o questionamento no X, antigo Twitter.

O jornal inglês Financial Times mostrou em junho de 2023 que os EUA fizeram "pressão silenciosa" para que não houvesse golpe no Brasil. De acordo com a reportagem, o governo americano enfatizou a generais brasileiros e aliados próximos de Bolsonaro que Washington era neutro no resultado da eleição, mas não toleraria qualquer tentativa de questionar o processo de votação ou o resultado.

Barroso ainda criticou o governo de Donald Trump por cortes no orçamento da universidade de Harvard. "É um equívoco a conduta em alguns momentos da história, desprezando esse potencial imenso que a Universidade representa", lamentou o presidente do STF. Em conflito com a instituição por exigir mudanças na política da universidade, Trump cortou US$ 2 bilhões em repasses para Harvard e suspendeu novas bolsas para a instituição.

Presidente do STF rebateu críticas de que a Corte "se mete em tudo". Ele justificou que a Constituição do Brasil, diferentemente da americana, "cuida de muitos temas", o que leva várias discussões a terminarem no Supremo.

Críticas de Hugo Motta

Mais cedo em fala no Lide, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), cobrou "autocrítica" dos Poderes para pacificar o país. "Nós, no Parlamento, vamos trabalhar para blindar a nossa pauta dessa polarização. (...) Não é só um poder que vai conseguir harmonizar o país. É dialogando o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judiciário, cada um em suas responsabilidades", disse durante participação no evento Lide Brazil, em Nova York, ao cobrar "harmonia" entre os Poderes.

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Fala de Motta vem em meio ao mais recente conflito entre STF e Câmara devido ao caso do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ). Na semana passada, o plenário da Casa suspendeu a ação penal que corre no Supremo contra o parlamentar por tentativa de golpe. Em resposta, o STF derrubou parte da decisão da Câmara, mantendo o processo para os crimes cometidos antes da diplomação de Ramagem como deputado e excluindo apenas as acusações relacionadas aos ataques do 8 de Janeiro.

Barroso evitou responder Motta e disse que o STF desempenha seu papel de "interpretar a Constituição". Em declarações à imprensa após participar de painel no Lide, o ministro defendeu que a Corte age "na medida adequada" e que as relações entre os poderes são "extremamente cordiais".

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