Colunistas opinam sobre entrevista de Bolsonaro: 'Tenta manter relevância'

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) concedeu entrevista hoje ao UOL, conduzida pelos jornalistas Carla Araújo e Josias de Souza. Os colunistas do UOL comentaram as declarações de Bolsonaro, que por mais de 2 horas falou sobre temas como 8 de Janeiro, STF, anistia, INSS e seu futuro político.

Beatriz Bulla

Na entrevista ao UOL, o ex-presidente Jair Bolsonaro se esforçou para mostrar que ainda respira na política, embora pareça saber que a cada dia que passa corre maior risco de se tornar carta fora do baralho.

Bolsonaro vê o julgamento no STF sobre tentativa de golpe de Estado como jogo de cartas marcadas —ou seja, antevê sua condenação. Chance de recorrer? Não vislumbra. Disse que é game over. "É como brigar com a mulher e ir reclamar dela para a sogra", compara.

Também não se vê na política findo o prazo da inelegibilidade imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "Estou com 70 anos, eu não aguento disputar eleição daqui a oito, dez anos", disse.

Em suma: Bolsonaro espera ser condenado e não vê chance para recorrer. Não se imagina na política daqui a dez anos. Não sabe bem que apoio esperar de Trump. Não imagina que aguente uma prisão. Teve que apoiar um presidente do Senado que pode deixá-lo na mão. E agora teme que alguém capitalize a massa de direita que ajudou a formar nos últimos anos no Brasil e o deixe, além de tudo, sem levar os créditos.

Leonardo Sakamoto

Bolsonaro disse que conversas vadias que teve com comandantes militares sobre medidas a serem tomadas após a derrota nas eleições, como a decretação de um estado de sítio, ocorreram porque o TSE negou um pedido do PL para anular votos de Lula. Quis vender que, durante a sua gestão, a Presidência da República era um grande boteco no qual reuniões de caráter golpista aconteciam com a mesma frivolidade com a qual se pede uma cerveja litrão e uma porção de tremoços.

Nessa presidência café com leite, o general Mário Fernandes organiza um plano para matar Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes e, depois, vai papear com Bolsonaro no Alvorada par falar da vida. "Matou a República e foi ao palácio" poderia ser a pornochanchada de realismo fantástico com base nesse roteiro.

Nessa realidade paralela, Bolsonaro aponta que a tentativa de golpe Estado se resumiu à depredação nas sedes dos Três Poderes, quando o 8 de janeiro de 2023 foi apenas a cereja do bolo de uma longa conspiração. Afirmou que, "quando o pessoal dos acampamentos chegou ali, já estava tudo depredado", tentando fazer crer que tudo foi um teatro da esquerda. "Que golpe da Disney é esse se eu estava fora no 8 de Janeiro?", questionou. É aquele em que ele insiste em nos tratar como patetas.

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Raquel Landim

Bolsonaro deixou claro em sua entrevista ao UOL que sua maior preocupação hoje é se manter relevante eleitoralmente.

Por conta disso, deixou escapar sua inquietude com o movimento do ex-presidente Michel Temer para unir os governadores de direita num pacto de não agressão e cobrou Tarcísio de Freitas, Ratinho Junior, Romeu Zema, Eduardo Leite e Ronaldo Caiado para que questionem sua inelegibilidade.

Ao citar quem poderia substituí-lo na urna em 2026, citou com relutância apenas a esposa Michele Bolsonaro e o filho, o deputado federal, Eduardo Bolsonaro, que está nos Estados Unidos. E ainda afirmou: "Vou até o último momento".

Bolsonaro não acredita num julgamento justo no Supremo Tribunal Federal (STF) pelas acusações de tentativa de golpe de Estado. Ele, inclusive, tem dificuldade de rebater porque pediu aos chefes militares para avaliar mecanismo para reverter os resultados eleitorais. E se eles tivessem aceitado?

Para Bolsonaro, sua única esperança é a força que ele ainda tem na urna.

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Thais Bilenky

Esmagado entre o Supremo e Tarcísio, Bolsonaro está no modo defesa. Não esperou nem a primeira pergunta para já sair se declarando inocente. Quando o assunto não é sua eventual condenação por tentativa de golpe, inevitavelmente ele precisa reassegurar seu lugar como candidato estando inelegível. Tarefa inglória ele terá até outubro de 2026.

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