'Marinha foi única que apoiou 100%', diz agente da PF sobre plano de golpe

O policial federal Wladimir Matos Soares, preso preventivamente desde novembro passado, disse em áudios que a Marinha foi a única das Forças Armadas a aderir à tentativa de golpe de Estado em 2022. Nos mesmos arquivos, ele também disse que um grupo estava pronto para "matar meio mundo" para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder após a derrota nas eleições. As mensagens constam em relatório da PF anexado à investigação ontem.

O que aconteceu

"[O almirante Almir] Garnier foi o único que deu apoio a ele", diz Wladimir em áudio enviado em janeiro de 2023. "A Marinha, desde o começo, foi a única que apoiou ele 100%. O resto tirou o corpo."

Garnier se tornou réu no STF em março, no mesmo grupo de Bolsonaro e mais seis aliados. Eles são acusados de cinco crimes: tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, envolvimento em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

Nas mensagens, Wladimir se queixa da falta de apoio a Bolsonaro dentro das Forças Armadas. "São filhos da p*. O pior de todos é esse Mourão [Hamilton, então presidente da República]. O Mourão e o Strumpf [Valério, ex-chefe do Estado Maior do Exército]", diz.

O policial federal fala ainda que, dentre os generais, só os ex-ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Walter Braga Netto (Defesa), estavam ao lado do ex-presidente. Segundo a PF, as mensagens foram enviadas a Flávio Quirino de Morais, que não faz parte da investigação.

Fala contrasta com declaração de Bolsonaro em entrevista ao UOL. Ontem, o ex-presidente disse ter conversado sobre estados de sítio e de defesa com os comandantes militares, e afirmou que o "comandante da Marinha era o que menos falava". "O que ele falava, de vez em quando, era 'dentro das quatro linhas [da Constituição], estou junto'."

STF analisa denúncia contra Wladimir Matos Soares na semana que vem. O policial federal faz parte do chamado núcleo 3, composto por ele e 11 militares da ativa e da reserva do Exército, e é acusado de fazer parte do plano "Punhal Verde e Amarelo", que arquitetava a morte do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes.

Celulares de Wladimir foram apreendidos no dia da prisão dele, em 19 de novembro de 2024. A perícia de todos os materiais apreendidos, incluindo celulares, pen drives e HDs externos, foi concluída em 25 de fevereiro deste ano —exceto a do aparelho que continha as mensagens citadas. Esta só foi concluída na última segunda-feira, quase três meses depois das primeiras perícias e uma semana antes do julgamento da denúncia.

Policial também é suspeito de usar cargo de policial federal para vazar informações sobre a equipe de segurança de Lula. Ele monitorava as rotas e vulnerabilidades da segurança do presidente e repassava a outros membros da trama golpista.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.