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Petista ignora Planalto, assina CPI do INSS e escancara 'guerra' na bancada

O senador Fabiano Contarato (PT-ES): dissidência no partido? Imagem: Lula Marques/ Agência Brasil

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

15/05/2025 19h00Atualizada em 15/05/2025 19h36

A assinatura do senador Fabiano Contarato (PT-ES) para a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do INSS hoje desagradou o governo e parte da bancada petista, em "pé de guerra" sobre o tema. Parlamentares reclamam ainda da articulação do Planalto, que segue contra a instalação.

O que aconteceu

Contarato foi o primeiro petista a assinar o requerimento. Ele foi feito pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e protocolado na segunda-feira. "Assinei, entendo que essa apuração é necessária em benefício da população mais vulnerável. E todos aqueles que cometeram crimes devem pagar, independente de governo", disse Contarato ao UOL.

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O líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (PT-SE), deixou o Planalto ainda mais irritado ao falar sem consultar o governo Lula (PT). Em discurso na Casa, ele condicionou o apoio à mudança do escopo da CPMI, para que a investigação não se limite a um ou outro governo.

"O PT vai assinar, sim, essa CPI", disse Carvalho. "Para a gente colocar na cadeia quem de fato tirou dinheiro dos aposentados. Nós vamos investigar olhando na linha do tempo todos os fatos e todas as pessoas, como fizemos na CPI da Covid e na CPI do 8 de Janeiro."

Até Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado e próximo a Lula, também indicou que pode assinar. "Eu não assino CPI por achar que isto cabe à Polícia Federal. Mas talvez eu assine essa, por acreditar que os ventos vão mudar", disse hoje, durante sessão na Casa.

O Planalto não esconde o descontentamento e reclama que nada foi combinado com "este lado da rua". Segundo interlocutores do governo, não houve qualquer consulta ou combinado prévio para que Contarato ou outro parlamentar aderisse à comissão.

Como o UOL adiantou, uma ala do PT já vem defendendo aderir à CPMI há algum tempo. Havia um consenso, no entanto, que as bancadas só agiriam com anuência do Planalto —agora, dizem que a "confusão" está instalada e não adianta tentar voltar atrás.

Em pé de guerra

As ações de Contarato e Carvalho irritaram tanto Planalto quanto base. Governistas disseram que eles não só agiram de forma "individualista" como "não foram estratégicos" ao aderirem a um movimento que não fosse feito em grupo.

As falas de Carvalho também escancararam as divergências entre bancadas. Líder do partido desde fevereiro, ele expôs um descontentamento público em direção oposta à do líder na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), radicalmente contra a instalação.

Na Câmara, parlamentares defendiam o embarque abertamente em reuniões. O argumento é que só assim conseguiriam quebrar a narrativa bolsonarista de que "só o PT não assinou", pois estaria tentando acobertar possíveis mazelas do governo —segundo o Planalto, Lindbergh estava conseguindo segurar o debate.

Contarato vai neste mesmo raciocínio. Para ele, um ponto forte da comissão seria investigar a gestão Jair Bolsonaro (PL), quando as fraudes escalonaram. "É importante lembrar que as fraudes se dão desde 2019 e o governo anterior nada fez, mesmo tendo recebido denúncias", disse.

Com a dissidência, no entanto, parlamentares resmungam que o cenário é de "confusão total". Eles argumentam que, agora, a pressão, que correspondia a uma coerência em grupo, se torna individual ("se ele assinou, por que você não?") e que retirar uma assinatura é muito pior do que não realizá-la, porque daria uma impressão de que veio uma ordem de cima, algo que tanto o partido quanto o governo querem evitar.

A bancada também se diz refém e reclama da articulação governista. Segundo os parlamentares, o embate está se desenrolando "há um tempo" e que, ao sustentar apenas a posição contra, não articulou direito como isso se daria e deixou brechas para esses votos dissonantes.

Esta reclamação também é voltada à atuação de Lindbergh. Se tanto as lideranças quanto o Planalto tivessem sido "um pouco mais abertos" no debate, argumentam membros da bancada, parlamentares poderiam ter tido posturas diferentes, com pensamentos "menos individualistas".

Governistas defendem que a ministra Gleisi Hoffmann, das Relações Institucionais, deixou, sim, clara a posição do governo em reuniões com as bancadas. Eles insistem nas falas solitárias de Contarato e Carvalho e sustentam que a gestão segue contrária a CPMI por entender que as investigações estão correndo de forma independente e que interferência política só servirá para "atrapalhar e tumultuar".

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