'Não tenho perfil de trator', diz presidente da Câmara Municipal de SP

Presidente da Câmara Municipal de São Paulo, o vereador Ricardo Teixeira (União) disse que não tem "perfil de trator" na condução dos trabalhos na Casa. Elogiado nos bastidores por sua tendência à conciliação, ele também é alvo de críticas que apontam lentidão no andamento das atividades.

Ao UOL, Teixeira defendeu emendas impositivas, explicou por que os vereadores decidiram não avançar nas discussões sobre o tema e apontou uma aproximação maior com a população como principal meta de sua passagem pela presidência. "A população precisa ficar mais perto da gente", disse em entrevista.

'Não tenho perfil de trator'

Com CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) instaladas na última semana e outras comissões ainda em formação, a Câmara tem sido criticada pela demora na definição de questões básicas desde janeiro. Para Teixeira, a situação reflete sua forma de conduzir a Casa, e isso não é necessariamente um problema.

Aos poucos, os trabalhos na Casa estão indo. Demorou uns 15 dias a mais, mas estão indo. Eu não tenho esse perfil de trator. Meu perfil é de consenso e diálogo. Com isso, você tem 55 conversas para fazer. Então, leva um pouquinho mais de tempo. Mas as CPIs e comissões vão existir do mesmo jeito. Com respeitabilidade, vai andar tudo, e vai ganhar aquele que tem voto. Estou falando isso desde o começo. É o meu jeito de ser, não posso mudar meu jeito.

Emendas impositivas

O presidente defendeu que vereadores possam definir o destino de uma "pequena parte" do orçamento da cidade por meio de emendas impositivas (que não dependem de aval do prefeito).

Porém, segundo Teixeira, o risco de a novidade ser confundida com o orçamento secreto do Congresso fez os vereadores desistirem da ideia.

Vamos imaginar uma pizza de 55 pedaços [o total de vereadores]. Eu sei do que o pedaço onde eu tive voto precisa. Investir ali, com o meu olhar, é diferente de investir com o olhar global do prefeito. O que defendo é uma emenda impositiva pequena, localizada, onde dá para eu ter certeza que vou acertar. A maioria das cidades da grande São Paulo já tem emenda impositiva. A Câmara Federal já tem emenda impositiva. 'Ah, mas na Câmara Federal tem exagero'. Também acho. Por que nós nem votamos emenda impositiva? Em função do que está acontecendo em Brasília. Cairíamos no mesmo balaio de gato e seria ruim para a nossa imagem. Aliados e oposição entenderam que seria perigoso votar isso agora. E eu vejo isso como sinal de amadurecimento, de responsabilidade política.

Aproximação com a população

Desde a eleição de Teixeira, em janeiro, a Câmara passou a abrir as portas aos domingos e a fazer sessões itinerantes em diferentes partes da cidade. Além disso, um aplicativo para o paulistano monitorar o trabalho dos vereadores deve ser lançado até agosto. Questionado sobre o que motivou as iniciativas, o presidente disse que visa aproximar a Casa da população.

Continua após a publicidade

O que vemos hoje, principalmente nas grandes cidades, é uma dissociação da população com a política. E isso é ruim. Porque o povo tem que estar junto com a gente, senão não tem democracia. Esse esforço vem daí, pra gente tentar aproximar a população da Câmara. Quando você vai numa cidade pequenininha, de 8.000, 10 mil habitantes, tem uma sessão por semana. Quando acaba, o vereador sai dali, atravessa a rua, vai no mercado comprar um pãozinho e já é cobrado. Por que que em uma cidade pequena ainda temos esse acompanhamento e na cidade grande não?

Prioridades

Segurança, saúde e transporte público são as prioridades do paulistano. Porém, a maioria dos projetos discutidos na Câmara hoje ignora esses temas. Teixeira diz que a população tem dificuldade de entender o papel a ser desempenhado pelos vereadores em relação a esses assuntos.

Nos três itens que você falou, a execução cabe ao prefeito. A população sabe em quem votou para prefeito, sabe se o remédio está no hospital e se o ônibus está funcionando. Quando vem para o vereador, há uma dificuldade de entender qual é o nosso papel. Na saúde, o orçamento aprovado aqui no ano passado está sendo executado agora. O Smart Sampa, que hoje é a maior bandeira de segurança pública no país, está tendo sua ampliação discutida aqui. Para aprovar um projeto, você tem 54 pessoas que pensam diferente de você e precisa ter 27 que concordem com a ideia. Essa dificuldade do Parlamento é que o povo não conhece. O cidadão não sabe quais são as obrigações do Poder Público em prol dele. Eu sou vereador, não sei. Você, jornalista, não sabe. É uma dificuldade.

Mototáxi

Criador da Faixa Azul para motociclistas no período em que foi secretário de Mobilidade do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), o presidente fez uma fala dura em relação à discussão sobre a implementação ou não do transporte de passageiros por motos na cidade. Para ele, o tema precisa ser melhor discutido.

Continua após a publicidade

Eu sou a favor do empreendedorismo. Mas, quando você vive numa comunidade de mais de 10 milhões de pessoas, tem que ter um regramento mínimo. Não concordo que uma empresa chegue aqui num dia e fale: 'a partir da manhã, tem mototáxi na cidade'. Quem vai ganhar dinheiro? Eles. Quem vai pagar essa conta? Nós. A população concorda com isso? Nós temos que pensar qual é a melhor regulamentação para a cidade. Sou favorável a ter o mototáxi com regra. Todas as cidades que começaram [a ter mototáxi] na grande São Paulo estão com números de acidentes com motocicletas até 50% maiores do que antes. É insano imaginar que uma cidade desse tamanho possa ser refém de uma, duas, três empresas de aplicativo. Porque elas vão ganhar dinheiro, e nós vamos ficar com a conta para pagar.

Amigo de todos

Além de ex-secretário de Nunes, Teixeira ocupou as pastas de Subprefeituras e do Verde com Fernando Haddad (PT) e foi chefe de gabinete na administração de Gilberto Kassab (hoje, no PSD) —além de ter sido próximo de José Serra (PSDB) durante sua passagem pela prefeitura. Ele disse ser "amigo de todos".

Se você buscar na internet "pior prefeito de São Paulo", vai dar o Haddad. Nunes também é criticado, mas tem 60% de aprovação popular. Como é que você pode falar que esse cara é ruim? Eu sou amigo de todos e gosto de todos. Minha neta outro dia cruzou com o Haddad no aeroporto, fez uma festa, beijou e abraçou. Eu frequento a casa do Kassab. Quando estive doente, o Antônio Carlos Rodrigues, ministro da Dilma, foi na minha casa. O Serra trabalhava de madrugada. Eu falava ''espera aí, prefeito, são três horas da manhã'. Na Prefeitura de São Paulo, amigo, você vai trabalhar 12, 15 horas por dia, todo dia. Um minuto que a gente se omita, seja a Câmara, seja o secretário, seja o prefeito, nesta cidade que é tão carente, é alguém lá fora que vai sofrer.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.