Tarcísio entra em seara do PT com programa social: 'Não é dar o peixe'

Com a criação de um programa de combate à pobreza, com pagamento de benefícios a famílias pobres, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), se lança numa área tradicionalmente cara aos governos petistas, que no passado expandiram o alcance do Bolsa Família.

O que aconteceu

Ao anunciar o programa nesta terça-feira (20), porém, Tarcísio afirmou que "não olha para grupos políticos". "Isso não passa pela cabeça quando a gente faz um programa desses", disse o governador, cotado para disputar a Presidência em 2026 no lugar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível.

Com relação ao grupo político --esquerda, direita, oposição-- não estou olhando isso. Isso não passa pela cabeça quando você está formulando um programa desse.
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo

O SuperAção, como foi chamado, pretende tirar 35 mil famílias paulistas da pobreza até 2026. O programa prevê pagamento de R$ 150 mensais e atendimento individualizado e periódico para que as famílias consigam não só sair da pobreza como também se qualificar e encontrar emprego.

"Pai" do Bolsa Família foi consultado na formulação do programa paulista. Ricardo Paes de Barros, economista e professor do Insper, é um dos responsáveis pela atual concepção do programa federal, criado em 2003, no primeiro governo Lula.

'Não se trata de dar o peixe ou ensinar a pescar'

"Não se trata da discussão 'vamos dar o peixe ou ensinar a pescar'", disse o governador. Autointitulado liberal e promotor de políticas liberais no estado, como as privatizações, Tarcísio citou a expressão que é comumente usada por críticos do Bolsa Família e de outros programas de transferência de renda. Para ele, porém, essa discussão "não vai levar a nada". "Esse é um programa de estado, em que a gente está pensando no futuro", disse.

Para o governador, o Bolsa Família não se esgotou, mas é insuficiente. Ele não citou o programa em sua apresentação, porém, questionado, afirmou que "programas de transferência de renda são muito importantes, mas não suficientes". "O SuperAção é uma prioridade, ele fecha lacunas. Toda vez que tiver necessidade de aplicar algo inovador, vamos agir dessa forma", falou.

Na mesma linha, um secretário ouvido pelo UOL citou que "não se trata de esmola". Nos bastidores, aliados negam que o programa faça parte de uma articulação de Tarcísio para uma eventual campanha à Presidência.

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Para a secretária de Desenvolvimento Social, "não há rivalidade" entre os programas. Andrezza Rosalém, que coordenará o SuperAção, afirmou que o programa "vai muito além da transferência de renda" e que "o governo esta formando uma coalizão contra a pobreza".

O governador cita como diferencial a autonomia que seria conferida aos beneficiários. "O que queremos, no final das contas, é garantir que haja realmente uma prosperidade, que haja, de fato, uma emancipação", afirmou. "À medida que vou capacitando as pessoas, possibilitando o acesso ao mercado de trabalho, vou possibilitando também a conquista de direitos sociais, por meio da inclusão produtiva."

Outro ponto mencionado como inovador pelo governo é o acompanhamento individualizado das famílias por agentes estaduais. Parte do orçamento do programa, inclusive, será destinada à contratação de agentes e supervisores. "Não é atender no varejo, mas olhar do que a família precisa e dar a a ela as condições", disse Rosalém. Ele também cita que o programa terá como foco as especificidades de cada local no estado.

Governador afirma que programa será "sustentável" e "perene", com recursos garantidos. "Conforme a gente for avançando, as pessoas forem entrando e rodando, a gente vai fazendo os ajustes orçamentais", disse. O orçamento anunciado hoje é de R$ 500 milhões, mas ele disse esperar que "dentro de uma lógica de eficiência, os custos possam ser decrescentes ao longo do tempo".

Até 2026, o plano do governo é atender 105 mil famílias. É uma parcela das 2,2 milhões de famílias no estado que vivem com menos de meio salário mínimo per capita (R$ 759, em 2025) mensais, mesmo sendo beneficiadas por algum programa de transferência de renda. O governador diz, porém, que pretende ampliar a abrangência do programa no futuro.

SuperAção foi inspirado "melhores programas de superação da pobreza do mundo", diz Tarcísio. Ele ainda falou que "a fé e a crença" são os pontos mais importantes na "superação da pobreza".

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