Cid ficou 'pesaroso' com kids pretos em plano golpista, diz testemunha

Em depoimento como testemunha de Mauro Cid, o capitão do Exército Rafael Maciel afirmou nesta manhã que o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro ficou "profundamente incomodado e pesaroso" com o envolvimento de militares das forças especiais que foram subordinados a ele, os chamados "kids pretos", em um plano para tentar assassinar autoridades, revelado pela investigação da Polícia Federal.

O que aconteceu

Capitão foi ouvido no STF em audiência da ação penal contra Cid, Bolsonaro e mais seis pessoas sobre tentativa de golpe. Em seu relato, ele contou ter uma relação de amizade e confiança antiga com Cid e que manteve conversas com o tenente-coronel após ele ser preso pela PF, em 2023. Rafael disse ainda que Cid teria manifestado repúdio aos atos de 8 de Janeiro, que era muito reservado e que não falou com ele sobre os fatos que apareceram na investigação.

Questionado pela defesa de Braga Netto se conversou sobre o plano de assassinato de autoridades com Cid na prisão, militar revelou o estado de Cid. Rafael disse que nunca conversou especificamente com ele sobre detalhes de minuta ou plano golpista, mas relatou o incômodo dele com o envolvimento de "kids pretos". "O coronel Cid ficou profundamente incomodado e pesaroso em relação aos fatos que envolviam efetivos que outrora foram subordinados dele, isso foi uma coisa que o entristeceu bastante".

Mauro Cid foi das forças especiais do Exército, os chamados "kids pretos". Grupo especializado em missões complexas e de alto risco, como combate a guerrilhas e ações de guerra não convencionais, está no centro da denúncia por tentativa de golpe. Segundo a PGR, foram justamente militares das forças especiais que se organizaram para botar em prática um plano que previa a captura e até o assassinado do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Plano, porém, foi abortado por falta de apoio do Exército.

Testemunha, contudo, não revelou nomes de quem seriam os militares subordinados a Mauro Cid.

Coronel Cid é um integrante das forças especiais do Exército brasileiro e, naturalmente, temos um adágio no sentido de que o Exército é pequeno. Então nós nos conhecemos, uma vez que servimos em alguma unidade. Imagino que seja algum dos efetivos de Força Especial de menor hierarquia (...) Eu suponho que ele tenha se penalizado com relação ao destino aí que se interpunha para seus subordinados
Rafael Maciel, em audiência no STF sobre conversas que mantinha com Mauro Cid

Militar 'impecável'

Ao todo, foram ouvidas sete testemunhas da defesa de Cid nesta manhã. Foram chamados pelos advogados do delator vários militares que já atuaram com ele, inclusive ex-comandantes dele e pessoas próximas à sua família. Em linhas gerais, todos elogiaram a atuação de Cid como militar, negaram que ele fosse politizado e afirmaram nunca terem ouvido dele nada sobre tentativa de golpe de Estado ou minuta golpista.

Nesse período em que convivemos, o procedimento profissional do major Cid foi impecável. Em nenhum momento foi falada qualquer coisa de golpe ou de atentar contra a democracia (...) Em nenhum momento ele manifestou qualquer coisa nesse sentido comigo. Até porque, se manifestasse, eu obviamente iria adverti-lo, porque nós temos que seguir a Constituição
Edson Ripoli, general do Exército e ex-chefe de gabinete do ministro da Defesa entre 2019 e 2020, sobre diálogos que manteve com Cid

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Foi um militar que realmente contribuiu muito com o andamento do comando. Era um comandante bem quisto pela sua tropa
João Batista Bezerra Leonel Filho, general de divisão do Exército e que foi chefe de Cid em 2014

Eu o admiro pela característica, qualidade militar dele. Em tudo que ele se propôs a fazer, tanto na parte operacional quanto na parte intelectual, ele se saiu muito bem.
Júlio Cesar Arruda, ex-comandante do Exército brasileiro

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