Ex-número 2 da Abin tentou levantar dados contra chefe da PF, diz apuração
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A investigação sobre a atuação da Abin no governo de Jair Bolsonaro identificou que Alessandro Moretti, ex-número 2 da agência no governo Lula, tentou levantar informações contra o atual diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues. O objetivo seria tentar atacar a corporação e reforçar a tese de que as investigações envolvendo a Abin tinham motivos políticos.
O que aconteceu
Moretti está entre os 27 indiciados da Polícia Federal no inquérito sobre a "Abin paralela". No relatório final da investigação, a PF elenca episódios que indicariam que Moretti tentou agir contra o atual diretor-geral da corporação e aponta que ele teria atuado para embaraçar as investigações. As informações estão no relatório final da investigação da Abin paralela que foi tornado público ontem pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF
PF lista trocas de mensagens e foto. Dentre os episódios, a PF citou uma troca de mensagens com interlocutores identificados por pseudônimos na qual Moretti pede informações sobre o eventual apoio de Andrei a uma greve na corporação e também a montagem de uma foto onde estão Andrei e Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro.
Para a PF, Moretti queria buscar apoio para "atacar politicamente" o diretor-geral da PF. Objetivo seria criticar Andrei internamente no governo, "em mais uma circunstância indicativa de que classificou a presente investigação como política e que nessa seara buscava uma solução", afirma o relatório do inquérito. O UOL não conseguiu localizar Moretti para comentar a acusação.
Investigação identificou entre os materiais de Moretti um diálogo em grupo de mensagens com participantes com nomes cifrados. Mensagens indicam que ex-diretor-adjunto da Abin queria saber se Andrei estaria apoiando uma possível greve da PF em meio as negociações do governo federal com a categoria que estavam acontecendo em outubro de 2023.
PF não identifica interlocutores da conversa nem se ela teria avançado. "Alguém me consegue algo concreto de que o Anão [referência a Andrei Rodrigues] está incentivando a greve", diz Moretti, na mensagem. Em seguida, ele pede mais informações, como "mensagem" ou "fala" de Rodrigues sobre o assunto. Naquele momento, Moretti era diretor-adjunto da Abin e o substituto direto de Luiz Fernando Corrêa, o diretor-geral da agência de inteligência até hoje.
Relatório também cita montagem de foto. PF identificou uma foto no celular de Moretti de um encontro de delegados ocorrido em sua residência em 2017. Na ocasião, estavam presentes no encontro o próprio Andrei e Anderson Torres. Imagem foi editada até que ficasse um recorte no qual aparecem somente Andrei e Torres. Para a corporação, isso seria mais um indicativo de que Moretti estaria tentando desgastar o diretor-geral da PF.
Moretti é delegado da PF mas assumiu o cargo de diretor-adjunto da Abin em 2023. Ele foi exonerado do cargo na agência em 2024 em meio aos avanços da investigação da Abin paralela. PF aponta ainda que a cúpula da Abin teria atuado para dificultar as investigações, inclusive dificultando o acesso aos logs de servidores do órgão no sistema First Mile, utilizado indevidamente pela agência para monitorar a localização de várias pessoas por meio das antenas de celular.
Para PF, cúpula da agência já no governo Lula queria desgastar politicamente a investigação da corporação que atingia a Abin paralela. A investigação cita ainda outros episódios da cúpula da Abin para evitar o avanço do inquérito e tentar politizar e tirar a credibilidade dele.
Investigação agora está sob análise da PGR. Caberá ao procurador-geral da República decidir se apresenta denúncia ou não contra os investigados que foram indiciados, incluindo Moretti e o filho do ex-presidente Bolsonaro, Carlos Bolsonaro.
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