Castro defende ação na prisão de MC Poze, ataca Lula e aconselha Tarcísio

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL-RJ), nega que haja preconceito contra o funk na sua gestão. As críticas de que a polícia carioca atua de forma a criminalizar a periferia e suas manifestações culturais são antigas, mas ficaram ainda mais fortes com a prisão do funkeiro Poze do Rodo, um dos cantores mais famosos do país atualmente.

Pesquisadores, juristas e lideranças que lutam pelos direitos humanos dizem que a operação que levou o MC para a cadeia foi marcada por espetacularização e tratamento desproporcional ao artista, em uma tentativa de associar o funk ao crime organizado. Em entrevista ao UOL, Castro disse que não há "julgamento" contra o ritmo, mas que há indícios de ligação de Poze com o Comando Vermelho.

O governador também fez críticas ao governo Lula. Disse que a gestão petista está desconectada das necessidades da população e, por isso, tem baixos índices de popularidade. Castro ainda defendeu que o ex-presidente Jair Bolsonaro, inelegível até 2030, lute "até o fim" para ser candidato em 2026.

Ação policial na prisão de funkeiro

Marlon Brendon Coelho Couto, o MC Poze do Rodo, foi preso em 29 de maio, em uma ação que gerou críticas sobre tratamento desproporcional e espetacularização da prisão do funkeiro por parte da polícia carioca.

Castro afirma que a investigação mostrou que há ligações de Poze com o crime organizado. A Justiça, no entanto, libertou o MC cinco dias depois e apontou falta de elementos que justificassem a prisão. "Pelo pouco que se sabe, o paciente teria sido algemado e tratado de forma desproporcional, com ampla exposição midiática, fato a ser apurado posteriormente", disse na decisão o desembargador Peterson Barroso Simão, do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro).

Acho que são duas coisas. Essa questão da espetacularização já está na corregedoria. Isso vai ser julgado e, se alguém cometer excesso, será punido. A questão que tentaram vitimizar o criminoso, ou possível criminoso, a gente não concorda. Aquilo é uma investigação que foi levada ao Judiciário, que o Ministério Público opinou e que não é o artista. É o CPF dele que a investigação mostrou ter ligações com o crime organizado. Não tem a ver com ser de favela, não tem a ver com a coloração da pele, com a profissão de músico. Eu sou músico. Se fosse por isso, eu jamais gostaria de ver um músico numa situação dessa.

Se a investigação e o Judiciário disserem que a pessoa é inocente, ela é inocente. Mas quem prendeu foi o Judiciário. Foi uma ação que a polícia cumpriu, um mandado judicial do Ministério Público. Então, qualquer coisa fora disso é uma tentativa de retórica, mais uma vez, de defender aquele que tá andando fora da lei do que aquele que tá cumprindo a lei.

'Usa arte para fazer apologia ao crime'

Ao citar a suposta ligação de Poze com o tráfico de drogas, a Polícia Civil do Rio disse que o funkeiro fazia parte de uma "narcocultura" que buscava espalhar a "ideologia do Comando Vermelho" por meio da música. Para pesquisadores, no entanto, o termo é discriminatório e tenta criminalizar o funk. Castro nega.

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Cláudio e Buchecha cantavam funk. Nunca teve nada com eles. Você tem diversos funkeiros no Rio que cantam funk a vida toda e nunca foram presos por causa disso. Uma coisa é o cantor de funk. A outra coisa é quem usa a arte para fazer apologia ao crime. São situações completamente diferentes. Ninguém aqui está julgando o funk. Se fosse assim, meu Deus, não ia ter mais funkeiro. Mas aquele que faz a apologia e a investigação, pelo menos o que já foi divulgado, está mostrando que não é só isso.

Poze e ligação com Comando Vermelho

Apesar de evitar chamar Poze de criminoso, o governador disse, reiteradas vezes, haver ligação do cantor com o crime organizado. Ele citou o fato de o funkeiro ter declarado que a "ideologia declarada" dele é o Comando Vermelho, ao preencher o prontuário penitenciário da Seap (Secretaria de Administração Penitenciária).

Viviane Noronha, esposa de Poze, saiu em defesa do cantor e disse que ele não teria outra alternativa, já que é "cria" de uma comunidade comandada pela facção: "Ele é cria de uma comunidade, não tem culpa de o sistema ser dividido. Vocês, sendo cria de uma comunidade, escolheriam o quê?", afirmou nas redes sociais na época.

Teve ele próprio se colocando como um faccionado. Ele poderia, na hora, ter falado que não pertence a facção alguma. Ele poderia dizer que não tem facção alguma. Ele não iria para uma prisão de uma facção contrária. Você tem prisões só para pessoas que não têm facção nenhuma. É só isso aí. Não tem facção. Ele ia para um presídio onde isso não é relevante. Não enxergo isso como desculpa, não.

Governo Lula está 'desconectado' da realidade

Castro avalia que a baixa popularidade do governo apontada nas pesquisas de opinião se deve a uma desconexão entre medidas da gestão petista e as prioridades da população.

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Você vê o governo federal meio míope, meio desconectado da realidade, da vida como ela é. Ele celebra dados que o pessoal não enxerga. Aí é difícil você fazer uma comunicação boa quando ela parte de uma premissa equivocada. A economia, o PIB não estão altos pela atividade econômica. O PIB está alto pela gastança e pelo endividamento das famílias. Quando ele aumenta o consignado, está endividando as famílias.

A vida das pessoas não está boa. Estão sobrevivendo, mas nenhum empresário está feliz pegando os juros a 15%. Nenhum cidadão está feliz pagando parcelas de seu empréstimo de 15%. É uma falsa realidade. E o povo não é bobo, entende que a vida não está boa. Você tem um problema de segurança pública que é praticamente ignorado pela União. Ele transfere para os estados, e pronto. É uma desconexão.
Cláudio Castro, governador do Rio de Janeiro

'Defendo que Bolsonaro lute até o final para ser candidato'

Castro defende que Bolsonaro adote estratégia parecida com a usada pelo presidente Lula (PT) nas eleições de 2018. Então preso em Curitiba e inelegível, o petista se manteve na disputa eleitoral até o fim de agosto, a pouco mais de um mês para o pleito, quando teve o registro de candidatura rejeitado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Também fora da disputa por decisão do TSE, até 2030, Bolsonaro afirma que será candidato no próximo ano.

Eu defendo que ele lute até o final para ser candidato. Eu defendo que ele vá até as últimas instâncias porque nós consideramos a inelegibilidade dele injusta. Então, eu defendo que, enquanto ele tiver recurso, enquanto ele tiver possibilidade, enquanto ele tiver a chance de ser.

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Se fosse uma coisa de corrupção, mas uma reunião com embaixadores, a gente acha que é muito pouco para tirar um ex-presidente de uma eleição presidencial. Então a gente defende que o presidente Bolsonaro não desista e lute até a última instância, até que o TSE diga que ele não possa ser candidato.

'Se eu fosse Tarcísio, seguiria o líder dele'

Visto como principal nome para disputar as eleições presidenciais no ano que vem com a inelegibilidade de Bolsonaro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), não deveria, na opinião de Castro, alçar voos maiores sem anuência do ex-presidente. Para o governador do Rio, Tarcísio deve gratidão a seu antigo líder e precisa cumprir qualquer missão que ele der.

Se eu fosse o Tarcísio, eu seguiria o líder dele. O líder dele que fez ele chegar onde chegou chama-se Jair Bolsonaro. Se eu fosse o Tarcísio, eu seguiria o meu líder. Se o meu líder mandasse eu ser governador de São Paulo, eu seria. Se o meu líder pedisse que eu fosse candidato a presidente, eu seria. Todos nós desse campo devemos ao Bolsonaro. Alguns do PL, como eu e o Jorginho Mello [governador de SC], e outros que se elegeram na esteira do presidente Bolsonaro, como o Tarcísio de Freitas.

Candidatura ao Senado

Em segundo mandato e sem possibilidade de reeleição, Cláudio Castro tem o futuro político incerto para 2026. Ele admite, no entanto, que pode deixar o cargo antes do fim — precisaria se desincompatibilizar do governo até abril do ano que vem, como determina a legislação eleitoral — para ser candidato ao Senado.

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Se eu sair (do governo antes do fim do mandato), é pra ser candidato ao Senado. Depende do que é melhor pro presidente Bolsonaro, pro grupo político. É eu ser candidato ou eu ficar no governo? Você vê que o João Doria, por exemplo, saiu para não ser candidato a nada, porque o grupo político dele achou que era o melhor caminho. Se o grupo achar que eu tenho que vir senador, eu venho. Se o grupo achar que eu não tenho que sair, eu não saio. Se achar que eu tenho que sair, mas não tenho que ser candidato, é uma questão mais de campo político do que de projeto pessoal.

Dificuldades na sucessão estadual

Castro lançou o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União Brasil), como pré-candidato a governador nas eleições do ano que vem. Bacellar, no entanto, enfrenta rejeição de alas do PL e até do pastor Silas Malafaia, aliado da extrema direita no estado.

O Bacellar se elegeu pelo PL e, depois, foi assumir a presidência do União Brasil. O presidente Bolsonaro foi muito claro na orientação dele que a nossa eleição principal era ao Senado e à Câmara Federal. Eu nada mais fiz que seguir as orientações do presidente Bolsonaro. Então, a ideia é de ser alguém da aliança, já que o presidente Bolsonaro quer as duas vagas do Senado para o PL. Não cabe na chapa ter três vagas para o PL. Nós temos hoje uma aliança grande e não é muito razoável o PL ter todos os cargos da chapa.

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